Poemas Bonitos
Dezembro dos Nossos Anos —
Sentia algo, como uma estranha sensação, ainda sem nome,
que me vinha, mas eu não a alcançava para,
de alguma forma, significá-la.
Talvez fosse por se tratar de um fim de tarde
em que, em mim, afloram-se todos
os sentimentos e, neste turbilhão
de sensações,
eu invento e reinvento-me,
mas, enfim (menino do que sou),
só sei ser eu.
Talvez fosse porque era um sábado,
e eu havia esquecido de que era
um sábado, e que aos sábados,
nascem e morrem-se instantes
e eternidades.
E penso também que fosse porque estávamos
em dezembro.
E sabendo que os dezembros querem e têm-me
comovido e devoto,
além de me lembrarem os sábados
e os fins de tardes,
cabe aqui dizer (por entrega e ofício) que,
há alguns instantes, eu houvera lido
um conto de Clarice,
que me pós a observar pela última janela
do meu quarto de minha adolescência
(perdida),
o derradeiro e mais sublime raio de sol poente
do fim de tarde de um sábado,
num dezembro distante
dos Nossos Anos.
Eu ainda sinto, e ainda não sei o que sinto, mas aceito.
Afinal, nunca soube, muito bem, explicar a maioria
das coisas que sinto.
Acho que é por isso que as chamo de...
Poesia.
CONTO DO MEIO
Quando pequeno, eu estava no aniversário de um amiguinho
e pus meu dedo no bolo.
Não coloquei e tirei. Não passei o dedo.
Apenas enfiei a ponta do indicador naquela parte branca.
O dedo permaneceu lá, parado, enfiado, intacto.
Todas as mamães me deram um sorriso falso.
Os papais estavam bêbados no quintal.
O único homem ali perto era o tio Carlos.
Tio Carlos se escondia atrás dos óculos e da câmera fotográfica.
Era bobo, agitado e gorducho.
Quase sempre sorrindo.
Tinha poucas, raras, nenhuma namorada.
Tio Carlos atrás dos óculos, da câmera e de namorada.
Meu braço esticado era a Golden Gate.
Uma conexão entre minha consciência
e aquele montante de açúcar.
A ponta do dedo imóvel, conectada, penetrada no creme branco.
Uma das mamães resolveu liderar a alcateia
e me pediu para tirar o dedo.
Pra que tanta coragem, perguntou meu coração.
Porém meu dedo,
afundou um pouco mais.
Olhei-a nos olhos sem docilidade.
Meu corpo imóvel.
O dela recuou.
Minha mamãe, sem graça,
falou que isso passa.
Eu atravancava, ria e dizia:
- Vocês passarão, eu... - estendia a aporia.
Eu era a Criação de Adão na Sistina.
Era mais que Michelângelo,
Era Adão no Bolo,
Era Bolo em Deus.
Mamães desconcertadas. Olhando umas para as outras.
O silêncio reinava,
o reino era meu.
Mamães desorientadas. Olhando para mim.
Tio Carlos com a câmera fotográfica
olhava para as mamães.
Acho que ele era apaixonado por umas três mamães,
ou mais,
ou todas.
Esperei um não.
Esperei um pare.
Ninguém era páreo
para um rei.
Tirei.
As pessoas não morrem, ficam encantadas e se tornam lindos anjos. ( De Guimarães Rosa com as minhas alterações)
Homenagear João Guimarães Rosa é uma tentação que nos faz pecar. Porque sempre iremos omitir uma coisa ou outra dele. Algum causo ou uma estória de sua vivência, mateira ou urbana; uma palavra ou um feito qualquer que não deveria ficar fora de nossa fala. (29.08.17)
Guimarães Rosa diz o seguinte: O verdadeiro mestre não é aquele que ensina, é aquele que de repente descobre que aprende." Faz sentido. Assim como faz sentido aquele que descobre que aprende proporcionar que todos possam descobrir o verdadeiro aprendizado. Mestres de si desejam que todos se tornem Mestres de si.
Mim, perdoe Guimarães Rosa, pois, não acredito que existe uma terceira margem, ou você esta de lado, ou do outro. Quem fica no meio, estar do lado do opressor.
O aborto não é, como dizem, simplesmente um assassinato. É um roubo... Nem pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado nascituro, rouba-se-lhe este mundo, o céu, as estrelas, o universo, tudo. O aborto é o roubo infinito.
Conhecer a si mesmo e aos outros ...Ver o mal com mais clareza...ó triste e doloroso dom!
E sofrer mais que todos, no final sem o consolo de ter sido bom...
Não existem filósofos.
Existem papagaios
cujas penas mais coloridas
reafirmam o que já fora dito
inúmeras vezes.
Drummond disse que a vida necessita de pausas.
Mas há coisas que eu acho que precisam mesmo é de asas!
"No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho…” (Carlos Drummond de Andrade)
Resta-nos saber o que fazer com esta pedra no meio de nosso caminho...
Destruí-la,contorná-la,ignorá-la ou enfrentá-la? Depende do ângulo e da situação de vivenciamos e o que pretendemos fazer diante da mesma já que, de acordo com nossa visão poderá ser somente uma simples pedra ou não…As pedras em nosso caminho sempre aparecerão,resta-nos tomar a melhor atitude para não fazê-las de impedimentos árduos em nossas vidas, buscando com serenidade desvencilhar-se de algo que nos submeta àquilo pelo qual não desejamos passar.
Somente contarná-la poderá ser uma solução imediatista e branda isso, sem preocupar-se em responder os possíveis porquês que possam surgir em nosso consciente afinal,a decisão é nossa, é soberana portanto, sem receios,sem rodeios desnecessários…siga adiante,siga o seu coração.
POETA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A PEDRA...
Dia desses, andava displicentemente pelo caminho:
- O mesmo que, um dia, o poeta Carlos Drumond,
entre uma pedra e outra, também passou!
Foi, então, que notei uma pedra no meio do caminho
e sem querer desviar-me de meu trajeto...
Por alguns instantes, sobre está mesma pedra
me assentei, para um pequeno momento de reflexão.
Nunca me esquecerei dessa experiência,
do dia em que por esse caminho também passei.
Apesar de ter em minha mente a imagem do poeta
que algum dia, por ali, distraidamente caminhava...
Confesso que a imagem da pedra no meio do caminho,
além de despertar a minha curiosidade,
é também uma cena e acontecimento,
que jamais esquecerei.
Deixa meu barco passar
(Victor Bhering Drummond)
Deixe meu barco passar
Não pra causar tumulto
Barulho, agitar a água não.
Deixa meu barco passar.
É só o que te peço.
Não pra fugir
Para me atracar em uma ilha distante
Ou navegar para um Porto Seguro.
Não. Não é isso que peço não.
Quero apenas avistar de longe a tempestade
Que acontece aqui no seu cais
Quero olhar confiante e paciente
Aguardando pela quimera
Ah, quem dera!
É só o que os navegantes querem
Para lançarem-se ao mar a despeito do medo
Que seu mar provoca
Isso é coragem
Por favor, apenas deixe meu barco passar
Até sua onda de acalmar.
(Puerto Madero, Buenos Aires)
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Das sete faces do desprezo
A Carlos Drummond de Andrade
Quando eu nasci, não teve sequer um anjo torto
Que me dissesse que a vida não é
Tão fácil o quanto parece ser
Disse: Vai, Valter, ser baiano na vida.
Ladeiras faz bem ao coração
Jovens apaixonados na esquina
Dizendo que não se apega a ninguém.
A tarde de puro sol, o perigo
É imprevisível mesmo que o dia
Seja azul.
O ser vestido de uniforme
Vai trabalhar no ônibus lotado
Sequer sabe se vai ser assaltado,
Acha que tem muitos amigos
No fim de semana.
O ser vestido de uniforme,
Mal sabe quando vai quebrar a cara.
Meu Deus, que sociedade de muita fé,
Que muito chama pelo Senhor,
Pessoas de muita fé e pouco amor.
Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Carlos,
Eu seria outro poeta (?)
Nesse mundo vasto
Que maltrata meu coração.
Mundo mundo vasto mundo
Chega de ilusão?
Eu bem que vou dizer,
Esse mundo cheio de gente eu solitário
Em meu ego e vaidade
Vou me afogando
Sem sequer um abraço!
Carlos Drummond de Andrade em um de seus poemas disse: Por muito tempo achei que a ausência é falta.
Eu penso diferente, não como sinônimos, pra mim elas se complementam e prefiro pensar assim.
A ausência pode ser definida como ação de afastar-se de casa ou dos locais os quais costuma frequentar. Já a falta pode se dizer que é a supressão da existência; privação, se tratando de esportes chega a ser até uma infração.
A ausência é também a certeza de que você viveu, experimentou, soube o que é e se te fez bem ou não. A falta, você só vai entender depois de viver a ausência.
Talvez não seja tão fácil entender e nem onde essa situação se aplica, talvez nem deva tentar, mas te direi como identifica-la.
Bem, se a ausência te fizer perceber que algo te falta, você saberá do que estou falando. Eu não estou sendo aleatória, não falo de bens materiais ou coisas vazias. Venho aqui falar do vazio/ausência/falta que por muito eu já senti e talvez você também sinta. E não se engane, nem sempre é saudade ou solidão. Falo especificamente do amor, do amor de Deus e da falta dele, da sensação de que nenhum tempo do mundo foi suficiente e da certeza de que não é. Sim, da certeza de que nada e nem ninguém no mundo tem o poder de fazer com que você nunca experimente o que é sentir falta do amor além dEle, por nem ter experimentado direito a ausência do mesmo.
Quando se tem Deus não sobra espaço nenhum que possa ser denominado vazio. Porque Deus supre todas as necessidades vazios e solidão e estar na presença dEle não te faz apenas cheia amor, te faz também transbordar.
Ser amado por Deus, mostrar o amor de Deus, falar do amor de Deus e amar como ele, sem ausência, falta, dor e nem saudade.
Adultério
No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam.
- Carlos Drummond de Andrade, In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.
O DALTONISMO DE DRUMMOND
Respeito toda poesia.
De angústia, tristeza e alegria.
E respeito também,
àqueles que dela fez-se o dom.
Mas vendo as pedras no caminho,
fiz-me um belo passarinho,
não descrito por Drummond.
Vasto também é o meu mundo.
De infinitos num só ser.
Mas as vezes me pergunto:
“Quem diabos era Raimundo
e o que Carlos quis dizer?”