Poema Sobre Solidão
RONDA SILENCIOSA
Solidão cerrada, aquietada, escura
Afora a janela, o cerrado tão calado
Na imensidade do céu não fulgura
Um só brado, um ermo imaculado
Cá dentro, a mudez flébil murmura
E a melancolia no vento é fustigado
Escoriando a alma, áspera candura
Em um rasgar do silêncio denodado
Ecoa surdamente sôfrega bofetada
De escora frouxa, completamente
Aflando ali a apertura tão abafada
E, a letargia, assim, vorazmente
Faz tácitos claustros de morada
Em ronda silenciosa, lentamente
© Luciano Spagnol- poeta do cerrado
Cerrado goiano, 5 de dezembro, 2019
Olavobilaquiando
SOFRÊNCIA
Nu, o meu lamento pranteia na solidão
Na minha dor o silêncio me comprime
E, em suspiro visceral que me oprime
A boca saudosa de teu beijo, só ilusão
Nessa tortura aflitiva do meu coração
O desejo de outrora não mais inanime
Uma realidade, o que já foi tão sublime
Faz-me arrepiar em amarga sensação
Em melancolias de dessabores infinitos
E minh’alma vozeando em frêmitos gritos
Rompe a exaustão do dia, em um frenesi
E o tempo alonga as horas, lentamente
Escreve a sofrência já no cerrado poente
Num soneto jeremiado, e chorado por ti...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/12/2019, 17’14” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Reflexão sobre a Vida sem Amigos
Na vastidão da vida, um eco de solidão,
Já fui acolhida por amigos, um abraço de coração.
Quando a família se virou, as contas se tornaram pesadas,
Foi na amizade que encontrei as luzes apagadas.
Mas a vida é um ciclo, cheias de nuances,
E eu, que fui abrigo, também fiz as minhas danças.
Péssima amiga, talvez, em momentos de dor,
Ferindo quem foi bom, sem saber do valor.
Traições marcaram, como cicatrizes na pele,
A confiança despedaçada, um amor que se enredou em um fel.
A dor do abandono, um lamento profundo,
Quando quem amei se foi, deixei vazio em meu mundo.
A vida sem amigos é um horizonte embaçado,
Um deserto sem riso, um caminho isolado.
Mas, ao refletir, percebo que cada dor ensina,
E que as lições são parte da própria sina.
Os amigos que se foram, deixaram seu legado,
Cada risada, cada lágrima, um amor que foi amado.
E mesmo na ausência, guardo suas memórias,
Um mosaico de vivências, entre risos e histórias.
É preciso aceitar que a vida é assim,
Um jogo de perdas, onde o amor pode ter fim.
Mas na solidão, uma força eu descubro,
Que, mesmo sem amigos, ainda sou um ser puro.
Custo a perdoar a mim mesma, pelas falhas,
Mas a busca por crescimento, em cada lágrima que estilha.
A vida continua, mesmo sem o calor de um abraço,
E em cada amanhecer, renasço no meu passo.
Que eu aprenda a ser amiga de mim mesma,
A encontrar na solidão um espaço de beleza.
E que, quem sabe um dia, novos laços se formem,
Em uma dança de almas, que, juntas, se transformem.
Só
Sou só
Somente
Sozinho
Solícito
Solitário
E solilóquio
Mas
Nunca
Jamais
Na solidão
Entre
O ortodoxo
E o heterodoxo
Sou um
Enigma
De uma religião
Entre
O complexo
E o perplexo
Sou um
Paradigma
De uma ilusão
Sou só
Como o sol
Tão distante
Quase um quatrilhão
De quilômetros
De outro ser
Estrelário
Sou só
Nesse corredor
Estacionário
Viajando sozinho
Nas vias deletérias
Do fim
Disputando no caminho
Meu destino
Com as bactérias
Enquanto
Meus germes
Em mim
Que tanto abomino
Entre todas
As matérias
Transam nesse
Meu corpo hospitalário
Sou amor sedentário
Como um oceano
Sou um ser imaginário
Sou tão insano
Sou só um
Ser humano
Jeazi Pinheiro, in “O Último Poema”.
COBRA CEGA (soneto)
Era a saudade, saudade crua que vela
A solidão. Com a impostura do pranto
Que sente falta, partida em um canto
Do coração, que se veste da dor dela
Era a lembrança! Curvada na janela
A esperar que se quebre o encanto
E no horizonte desanuvie do manto
Da noite vazia, e se torne leve e bela
Era a angústia com a sua tristura cada
Era o seu silêncio e o seu tempo lasso
O desespero na negrura da madrugada
Que brincam, com o desanimo crasso
De olhos vendados, e a ventura atada
De cobra cega com o prazer escasso...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05/04/2020, 15’11” – Cerrado goiano
SOLIDÃO INQUIETA
Inquieto no peito os soluços e os gritos
Do silêncio que rege uma tal despedida
Há choro, lamento, e tarares contritos
Para, infeliz, galgar o prosseguir da vida
Teu cheiro, nos meus dias viraram ritos
O meu capricho está sempre de partida
E os meus ineditismos estão proscritos
Sem tu, o coração é uma imensa ferida
Mas tua alma ficou, tatuada na poesia
E assim os sonhos confidencias pra lua
Das noites de devaneios, amor e magia
E nas trovas de solidão inquieta e nua
O poetar é de dor em forma de agonia
De quem vagueia despovoado pela rua
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07 de junho de 2020, Triângulo Mineiro
Sertão da Farinha Podre
Olavobilaquiando
ESPAÇO (soneto)
Tragando a vastidão do cerrado profundo
A solidão num canto, a saudade devassa
Saudade do afeto que no peito arregaça
E que vagueia na dor, lamentoso mundo
E na esteira sem fim da tristura sem graça
Ei-la embalada na sofregdão de moribundo
Recostado no abismo sepulcral sem fundo
Do pesar, e encruado suspiro que não passa
Poeto. Me elevo em busca de um conforto
Vou pelo estro de encontro a outro porto
Pra aurorear a sensação com cheiro de flor
E nesta emoção que se tornou um lastro
No vazio. Cheio de pranto no árduo rastro
Cato a poesia para abrir espaço pro amor...
© Luciano Spagnol -poeta do cerrado
19/07/2020, 15’10” - Triângulo Mineiro
VERSAR MORIBUNDO (soneto)
Tome, solidão, está espada, e.… fira
Meu sofrente coração, tão azarento.
Que importa a mim ter árduo lamento
Se a sorte no destino é persistente ira
Ah! .... emoção lacrimosa e funesta lira
Que ao vazio regi, mirrando o momento
Que esbroa o plural tramite do alento
Polvilhando no peito essa dor tão cuíra
Ó silêncio! Que vem musicar saudade
Troando a minha vida em tempestade
Na aberração do infortúnio fecundo...
Mas a atormentada trava da teimosia
Infeliz. Catuca a inspiração da poesia
Sangrando o meu versar moribundo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/07/2020, 09’12” – Triângulo Mineiro
CONFIDÊNCIAS (soneto)
Eu fui falar, vexado, da minha solidão
Ao cerrado; e aos arbustos torcidos
Querendo pacificar a minha emoção
Dessas pequenas queixas e alaridos
Incomovido permaneceu sem alusão
Não quis a lamentação dar ouvidos
Nem cessar as cantilenas na imensidão
Pôs-se indiferente aos meus sentidos
Mas, devagar passou a prestar atenção
Aquietou-se mais, e mais ainda contido
Arregalou-se para a carrancuda aflição
E, em um ato inesperado, assim, dizia:
- Caro poeta acabrunhado e, aturdido
Da melancolia me converto em poesia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26/07/2020, 07’30” – Triângulo Mineiro
IRREVOCÁVEL
A minha solidão tem sonhos imensos
Que poetam sensações sem arreatas
Onde o eco do querer, em serenatas
Na inquietação, tem vigores extensos
Meu coração tem umas tais colunatas
E ali agitado, vivo com olhares densos
Atraindo, com devaneios tão intensos
E uns sentimentos e pesares primatas
Nesse templário de sonhos e poesia
Entrei ávido nessa catedral um dia
Pra me contagiar com o doce sabor
Doados pelos cavaleiros medievais
Da paixão, amos destas catedrais:
Me vi, irrevocável, ao provar amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20 de agosto de 2020- Triângulo Mineiro
PÁLIDA À LUZ DA SOLIDÃO SOMBRIA
Pálida à luz da solidão sombria
como a dor na alma dilacerada
sobre o leito de ilusão reclinada
a amargura e uma paixão fria
A satisfação que na perca jazia
e pela melancolia era embalada
a ruína e alegria embalsamada
no desprezo e, na beira dormia
Prantos, e as noites palpitando
gosto amargo no peito abrindo
os olhos esverdeados chorando
Não rias de mim, sentir infindo:
por ti – o amor busquei amando
por ti – na teimosia eu vou indo...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Setembro, 2020 – Triângulo Mineiro
INFORTUNO
Falas de solidão, eu ouço tudo e calo
Ó saudade! Rude e regateira caipira
É. E é por isto que o vazio me imbuíra
A alma, no silêncio, infortuno vassalo
Viver! Quando virei por ter intervalo
Entre a dor e o sofrer que não espira
No tempo, e me põe nesta mentira
Da esperança dum amor para amá-lo
Pois é agridoce sentimento sagrado
Que leva a noite insone no cerrado
Messalina sensação, refutado fulcro
Falas de amor, e eu me desalento
Paixão na minha sorte é tormento
Intento para eu levar pro sepulcro
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09/09/2020, 13’43” – Triângulo Mineiro
DOR DO MOMENTO
Há solidão sem fundo, há sofrer tiranos
Mais sufocantes que a cruel desventura
Sentimentos loucos, cheios de amargura
E as saudades mais extensas que os anos
São tormentos sem piedade, são danos
E as sensações na alma vazia de ternura
Eu as renuo... e a está árdua sorte dura
Que augura na poesia versos profanos
Devaneio, sim, e só assim, somente
Saio do algoz versejar tão cruento
Que me fere no tratear lentamente
Oh! gemidos assim jogados ao vento
Que chora e dói na emoção da gente
Leva pra longe todo este sofrimento
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29/09/2020, 10’07” – Triângulo Mineiro
A UMA DESPEDIDA
Agora, que o final me convida
A solidão parte do pensamento
Cada suspiro outro sofrimento
Nas recordações sem medida
E, de pareio com a despedida
Foi-se o bom contentamento
Dentro do leito o tormento
Enfim, dá dó essa dor doída
Pra que era tê-la evocando
As lembranças, do outrora
Se agora, me falta o crer...
Querer, já quiz, até quando
Pude ser, e nesta outra hora
Quero amor no bem querer!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Outubro de 2020 – Triângulo Mineiro
TRAGÉDIA
É a tragédia, bardo, desta vida
neblina que na manhã embaça
solidão com desleixo sem graça
que na agonia sem dó é erguida
É gemido que na dor favorecida
por tristuras n’alma em carcaça
um choro, um sonho de fumaça
sulca ufana, e devora destemida
É reza, enfim, que na pobreza
da fé, numa carência generosa
olha aos céus com certa frieza
Mas ter desilusão, tão gulosa
na alegria, é prosa sem defesa
ao fado traz frustação furiosa
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/ outubro, 2020 – Triângulo Mineiro
O MEU PESAR
Tenho pesar da solidão numa vida
Da sensação que o carente sente
Dum amor que assim de repente
Sai do querer, e vai de partida...
Da ilusão que da alma é fugida
Do olhar ingrato frente a frente
Dos que ostentam toda a gente
E os que não aquietam a ferida
Tenho pesar do senso dividido
De não estar sorrindo à revelia
Contente de um dia ter nascido
Pesar de mim, de quem sofreu
De não ser mais e mais alegria
E, de ter posposto o meu eu!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/10/2020, 09’36” - Cerrado goiano
INDIGENTE POESIA
Quando o vazio se ocupa do nosso peito
E a solidão nos consome e nos invade
O pranto não tem um qualquer direito
De em seu nome nos dar uma saudade
Ingratidão, suplício da dor sem respeito
Que dorido dentro d’alma sem caridade
Adentra o sentimento de um tal jeito
Que não acalma e nós deixa na metade
Estes silêncios são dívidas da sofrência
Que na carência não tem uma alegria
E no desamor o sonho é só impotência
Então, quando o não o falto anuncia
E no sim o amor perdeu a cadência
Lágrimas causam indigente poesia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/10/2020, 06’53” – Triângulo Mineiro
SONETO SÓ
Eu tenho pena da solidão
Tão só, tão falta, tão “inha”
Coitadinha, vive sozinha
Chorando na submissão
E tal como a erva daninha
Arrasta o ventre pelo chão
Em uma triste e nua ilusão
Que revés, catástrofe tinha
Ai nessa pesada frustração
Tem tristura na entrelinha
E um vazio oco no coração
Então, ô aflição, pobrezinha
Contigo pranteia a emoção
Soluçando a solidão minha
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Dezembro, 2016 - Cerrado goiano
INSATISFEITO
Cerrado, vivo tão só, na solidão
Aflige o peito, o peito em pranto
Distante ide o tempo, o encanto
Preso na tristura e na desilusão
Tão longe ando de ti, ó emoção
De ter-te no fado meu, no canto
Da prosa, amando tanto e tanto
Multiplicando, assim, a sensação
Ando calado, e inquieta a poesia
Desses desejos de mim ausente
Pelejo com o silêncio de cor fria
E nada me diz, nem o sol poente
Tudo é cinza e apagada a fantasia
Se sente querer, a força não sente.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/12/2020, 17’54” – Triângulo Mineiro
SONETO ANÔNIMO
Solidão, vivo tão só, numa bruteza
Onde o meu fado escoa em pranto
Longe do entusiasmo e do encanto
Numa prosa transvazando tristeza
Tão oca a poesia, cheia de incerteza
Num revés ensurdecedor, portanto
O sussurro da dor, dói tanto e tanto
Que o sentir ferido me faz ter viveza
Ando estonteado, perdido na ilusão
Calado, as noites de alvoroço ativado
E ausentes de sensação e de emoção
E me perco no gadanho do passado
Que esgatanha a afável recordação
Que arfa o falto, daqui do cerrado...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/12/2020, 21’38” – Triângulo Mineiro