Poema que Fale da Vida

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O instante só tem um lugar estreito entre a esperança e o desgosto, e esse é o lugar da vida.

A aurora do amor é a quadra de devaneios e fantasias, em que a vida do coração principia e exerce sobre nós o seu mágico influxo.

Considera como maior infâmia preferir a vida à honra / e por amor àquela, perder a razão de viver.

Nós não o conhecemos, mas sentimos: existe um irmão barco para a nossa vida que leva uma rota completamente diferente.

O hábito é que me faz suportar a vida. Às vezes acordo com este grito: - A morte! A morte! - e debalde arredo o estúpido aguilhão. Choro sobre mim mesmo como sobre um sepulcro vazio. Oh! Como a vida pesa, como este único minuto com a morte pela eternidade pesa! Como a vida esplêndida é aborrecida e inútil! Não se passa nada, não se passa nada. Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. O tempo mói: mói a ambição e o fel e torna as figuras grotescas.

O que me resta da vida? Como é estranho, só me resta aquilo que dei aos outros.

Também leio livros, muitos livros: mas com eles aprendo menos do que com a vida. Apenas um livro me ensinou muito: o dicionário. Oh, o dicionário, adoro-o. Mas também adoro a estrada, um dicionário muito mais maravilhoso.

Se a vida é um mal, por que tememos morrer; e se um bem, por que a abreviamos com os nossos vícios?

Você não conseguirá acrescentar uma única hora ao curso da sua vida por andar tão ansioso.

A vida é fictícia, as palavras perdem a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. Estamos aqui a matar o tempo.

Com os seres vivos, parece que a natureza se exercita no artificialismo. A vida destila e filtra.

Sê alegre apenas depois de dares a volta à vida toda. E regressares então a uma flor, ao sol num muro, a um verme no chão. A profunda alegria não é a do começo mas a do fim.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Se considero quanto me custa a ideia de deixar a vida, devo ter sido mais feliz do que pensava.

A vida é amarga e doce. Por isso não há outra forma de descrevê-la senão captando esses dois sabores.

Agimos como se o conforto e o luxo fossem os requerimentos principais da vida, quando tudo o que precisamos para nos fazer felizes é algo pelo que ser entusiástico.

Nós só vivemos contradições e para as contradições; a vida é tragédia e luta perpétua sem vitória e sem esperança de vitória; ela é contradição.

À medida que a vida e os anos nos maltratam, aprendemos finalmente a conhecer-nos. Mas, nessa altura, já não vale geralmente a pena estabelecer relações.

Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.

É necessário ter amor pela vida para o prosseguimento vigoroso de qualquer intento.

Muito pouco se padece na vida, em comparação do que se goza; aliás, não sendo assim, como se viveria?