Poema que Descreva uma Pessoa

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Procurar o Sonho é Procurar a VerdadeA única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas.
A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê?
Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim, sou eu próprio. Isolar-se tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.

Fernando Pessoa, 'Textos Filosóficos'

Nada sou, nada posso, nada sigo.
Trago, por ilusão, meu ser comigo.
Não compreendo compreender, nem sei
Se hei de ser, sendo nada, o que serei.

Fora disto, que é nada, sob o azul
Do lato céu um vento vão do sul
Acorda-me e estremece no verdor.
Ter razão, ter vitória, ter amor.

Murcharam na haste morta da ilusão.
Sonhar é nada e não saber é vão.
Dorme na sombra, incerto coração.

Estas coisas fazem sofrer, mas o
sofrimento passa. Se a vida,
que é tudo, passa por fim,
como não hão de passar o amor e a dor,
e todas as mais coisas, que não são
mais que partes da vida?
[...]

Não fiz nada, bem sei, nem o farei,
Mas de não fazer nada isto tirei,
Que fazer tudo e nada é tudo o mesmo,
Quem sou é o espectro do que não serei.

Vivemos aos encontros do abandono
Sem verdade, sem dúvida nem dono.
Boa é a vida, mas melhor é o vinho.
O amor é bom, mas é melhor o sono.

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Poesias Inéditas (1930-1935). Lisboa: Ática. 1955. (imp. 1990). p. 53

Loucura de sonho naquele silêncio alheio!...
A nossa vida era toda a vida... O nosso amor era o perfume
do amor. . . Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos
nós. . . E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa
carne, que não éramos uma realidade. . .
Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer. . . Éramos
aquela paisagem esfumada em consciência de si própria. . .
E assim como ela era duas — de realidade que era, e ilusão
— assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo
bem se o outro não era ele-próprio, se o incerto outro vivera.
. .
Quando emergimos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo-
nos a querer soluçar. . . Ali aquela paisagem tinha os
olhos rasos de água, olhos parados cheios de tédio inúmero de
ser. . . Cheios, sim, do tédio de ser qualquer coisa, realidade ou
ilusão — e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e
no exílio dos lagos... E nós, caminhando sempre e sem o
saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à
beira daqueles lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado
e absorto. . .

ANÁLISE

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

Fernando Pessoa, 12-1911

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.


Fernando Pessoa, 29-3-1931

E de repente alguém consegue te arrancar um sorriso.Não um sorriso qualquer,aquele sorriso único e verdadeiro,sabe?
Mas aí você começa a desconfiar de tudo.E já nem quer mais acreditar nesse clichê.Será Que depois de tantas tempestades,vem mesmo irradiavelmente o sol? ou vai ficar
chuviscando?
E apesar de todos os prejuízos sentimentais,eu tenho que admitir
que estou sim,contente,radiante,feliz,enfim.Sorrindo à toa.Mas uma vez.

Abram-me todas as portas!
Por força que hei de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma...
Passo sem explicações...
Se for preciso meto dentro as portas...
Sim — eu, franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!

Perdão amor

Estou pensando uma forma pra te dizer tudo que sinto,
Não sei, resolvi apenas assumir o que fiz...
Errei admito e agora quero o seu perdão.
Agente faz besteiras...
Arrepende-se, fica sem um grande AMOR...
Talvez por temer lhe perder acabei lhe magoando
E pior ainda me machucando.
Procurei a palavra certa e a hora errada
Mais precisava abri meu coração e falar
Entre ficar com você e a verdade eu escolhi a verdade
Estou preparada pro que for mais ainda não sei viver sem seu amor.
Por favor, meu amor.
Fica comigo, me dá teu perdão.
Ouça o meu coração bate forte
Nunca esqueci do que me disse
Por isso temo em perdê-lo
Errei como posso ainda querer o teu perdão
Amor eu te amo e ficar sem você não quero não
Então perdoa me ama de novo
Não faz isso com meu coração
Te amo me dar seu perdão.

todos os dias que passam
sem passares por aqui
são dias que me desgraçam
por me privarem de ti

tem um livrinho onde escrevo
qdo me esqueço de ti
é um livro de capa preta
onde inda nada escrevi

o canário ja nao canta
não canta o canario já
aquilo que em ti me encanta
talvez nao me encantará

Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Odes de Ricardo Reis. Lisboa: Ática. 1946 (imp.1994). P. 92

Nota: Pelo heterônimo Ricardo Reis.

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CHEGA.....
Assim mesmo em letras garrafais.
Morte, não podes chegar a hora que bem entender e levar quem bem quiser,
já usastes a desculpa da doença, da idade, do acidente, que mais faltas inventar ?
E o próximo veraneio, e o almoço do próximo domingo ?
E o plano de parar de fumar ?
Porque acabas a festa sem a ultima dança, sem a ultima musica,
sem a ultima chance ?

CHEGA.....
Assim mesmo em letras garrafais.
Agora alguém vai ter de molhar aquelas plantas
vão ter de mexer nas gavetas, nas fotos, nas roupas e em tudo mais.
Tantas coisas que se tinha pra fazer.
Morte, não sei de onde tiras esta idéia.
A troco do que?

CHEGA.....
Assim mesmo em letras garrafais.
Porque me jogas contra Deus,
Aviso que não conseguiras
que desperdícios insistes em causar
Saibas que nunca iras tirar as lembranças de quem eu amo.
Morte, não te orgulhes, embora te aches poderosa
tu pra mim já estas MORTA.
Assim mesmo em letras garrafais.

Poema de Alexandre Pessoa - 2019

⁠Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Fernando Pessoa
Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.

Nota: Trecho do poema Não, não é cansaço...

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⁠As pessoas nascem querendo pertencimento

Querem ter amigos, querem ser amadas, querem ser aceitas

Levam a vida querendo encontrar alguém que a ame que a respeite, que faca o sorriso acontecer

E no meio desse trajeto encontram pessoas que entregam tudo que ela não deseja

E quando isso ocorre a pessoa pode perder o ânimo pode perder o brilho nos olhos, perder o entusiasmo

Pois cada pessoa que passa por sua vida só confirma que o mundo tem mais podridão pra dar e oferecer

Do que aquela felicidade de uma criança pura e ingênua e assim o mundo vai se tornando cada vez mais distante da pureza de um olhar de uma criança

⁠Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.

Fernando Pessoa
Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.

Nota: Trecho do poema Tacabaria, escrita com o pseudônimo de Álvaro de Campos.

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⁠⁠⁠⁠Há dias de tanta angústia
Que não sei do que ela é.
Não sei se me sobra o sonho.
Não sei se me falta a Fé.

É uma angústia que nasce,
Como de um solo, de mim,
Que parece ser eu todo
Com razão de ser assim.

E esmaga-me toda a alma,
Confunde todo o meu ser
E tudo gira em meu torno
Sem eu o compreender.

Mágoa como um portão velho,
Ferrugem da quinta em fim,
É uma angústia que cai,
Como num solo, por mim…

"Viver é melhor que sonhar..."
(Belchior)

“Só percebi que plagiei a mulher dos meus sonhos, no dia em que a conheci. Jurava jamais testemunhar fisicamente aquilo que sempre me foi utopia. Até que, enfim, apareceu. Muito melhor do que imaginei. Belchior acertou."

Eu=VC2

O tempo passa mais devagar para alguém que se desloca em grande velocidade e intensidade em relação ao outro. A relatividade, dentre outras coisas, atesta que, quem ama não tem a mesma percepção do tempo, de quem não ama. Estar contigo prova esta teoria.