Poema que Descreva uma Pessoa

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A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de ação. Em melhores e mais diretas palavras, o sonhador é que é o homem de ação.

Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos – a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo.

Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer.
Nem há desembarque onde se esqueça.

Mas eu não tenho princípios. Hoje defendo uma coisa, amanhã outra. Mas não creio no que defendo hoje, nem amanhã terei fé no que defenderei.

Fernando Pessoa
Páginas íntimas e de autointerpretação. Lisboa: Ática, 1966.

Os psiquiatras sabem (às vezes) como trabalha o espírito doente, mas não como trabalha o espírito são.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Mas como é que eu sei que estou consciente? Estou consciente de que estou consciente? Será isto possível?

Que a consciência da própria inimportância é o acume do conhecimento da vida.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

A ação aperfeiçoadora de um amor puro, seja ele por uma mulher ou por um rapaz, é um dos encantos do mundo.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Eu gosto tanto de ti que tenho vergonha de mim. Há todas as razões boas para eu não gostar de ti, menos a de eu não gostar, porque gosto. É fantástico a gente sentir o que não quer e ter um coração independente.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Do indivíduo temos que partir, ainda que seja para o abandonar.

(Aforismos e afins)

A diferença entre Deus e nós deve ser não de atributos, mas da própria essência do ser. Ora tudo é o que é. Portanto Deus é não só o que é mas também o que não é. Confunde-nos de Si com isso.

(Aforismos e afins)

Be complete in everything, for to be complete in anything is to be right. All roads arrive at the same place.

Sê inteiro em cada coisa, pois ser inteiro em qualquer coisa é estar certo. Todos os caminhos vão dar ao mesmo lugar.

(Aforismos e afins)

Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo.
Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos.

[Bernardo Soares]

"Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?".
(Poema em linha reta)

“Tenho da vida uma náusea vaga, e o movimento acentua-ma”.

“A vida, para mim, é uma sonolência que não chega ao cérebro. Esse conservo eu livre para que nele possa ser triste”.

(Do livro do Desassossego - PDF – Bernado Soares)

Agora que sinto amor
Tenho interesse nos perfumes.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.

( Alberto Caeiro [Heterônimo de Fernando Pessoa], In O Pastor Amoroso)

Ah! Ser indiferente!
É do alto do poder da sua indiferença
Que os chefes dos chefes dominam o mundo.

(Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 12.1.1935), In Poesia)

A palidez do dia é levemente dourada.
O sol de Inverno faz luzir como orvalho as curvas
Dos troncos de ramos secos.
O frio leve treme.

Fernando Pessoa
REIS, Ricardo. Odes de Ricardo Reis. Lisboa: Ática, 1946.

“Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é”.

( Alberto Caeiro [Heterônimo de Fernando Pessoa], In Poemas Inconjuntos - In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001.)

Mas eu não tenho problemas; tenho só mistérios.

Todos choram as minhas lágrimas, porque as minhas lágrimas são todos.
Todos sofrem no meu coração, porque o meu coração é tudo.

( Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002.)