Poema Quase de Pablo Neruda
Não é preciso palavras
Para definir quem sou
Basta olhar-me nos olhos
E me reconhecerá.
Nunca tive duvidas
De que era verdadeiro
A muito e muito tempo
Roubaste-me por inteiro.
Não preciso de dó
Não mereço
Tal sentimento
Sei que o amor que sinto
É energia pura
Que carrego no peito.
Seus olhos poderiam guiar
minha vida?
Sua boca poderia ser meu
único vicio?
Seu corpo minha perdição?
Você poderia ser meu?
Não...
Você não pode me ver
Não pode me ouvir
Não estou aqui pra você
Não...
Seria errado
Seria sujo
Seria nojento
Você me odiaria
Iríamos para o inferno
Não...
Você nunca o faria
Não me ve de tal forma
Simplesmente não sou
importante
Não...
Não vou mentir não sentir
Não te desejar
Pois bem, amo-te.
As amoras
O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Telha de vidro
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
- Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
Contemplação
Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando...
Que é o Mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...
E dentre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido
Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentindo...
Mors Amor
Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,
Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?
Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,
Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"
Sonho Oriental
Sonho-me ás vezes rei, n'alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsamica e fulgente
E a lua cheia sobre as aguas brilha...
O aroma da magnolia e da baunilha
Paira no ar diaphano e dormente...
Lambe a orla dos bosques, vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha...
E emquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto n'um scismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,
Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descanças debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.
A Máquina do Mundo
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.
(Trecho de A Máquina do Mundo).
Choro!
Sem ninguém perceber
Pois é choro da alma
Que ninguém pode ver
Choro!
Por não estar com você
Por sofro por ti
Sem ninguém perceber
Choro!
Não por você
Mas por aquilo que sinto
Sem você perceber
Choro!
Não por causa de dor
Mas choro por algo
Que alguns chamam de amor...
Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.
E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.
Para mim, o importante em poesia é a qualidade da eternidade que um poema poderá deixar em quem o lê sem a ideia de tempo.
Quando explicamos a poesia ela torna-se banal. Melhor do que qualquer explicação é a experiência directa das emoções, que a poesia revela a uma alma predisposta a compreendê-la.
Mais Clara, Mais Crua
De noite, na rua, em frente ao parque
A minha solidão é sua
Decerto sei que você vaga em qualquer parte
Sob essa vaga lua
De noite, na rua, em frente ao parque
A minha solidão é sua
Decerto sei que você vaga em qualquer parte
Sob essa vaga lua
A noite esconde as cicatrizes
Esconde as carícias e os maltratos
A noite esconde as cicatrizes
Esconde as carícias e os maltratos
De noite alguém decerto lhe ampara
Por onde hoje você anda
Mas sem olhar sua ciranda louca
Daquele jeito que lhe desmascara
De noite alguém decerto lhe ampara
Por onde hoje você anda
Mas sem olhar sua ciranda louca
Daquele jeito que lhe desmascara
A noite esconde as cicatrizes
Esconde as carícias e os maltratos
A noite esconde as cicatrizes
Esconde as carícias e os maltratos
Agora, bêbada, você estremece
Como se ainda não soubesse
Em frente à porta desse bar
Em que embarca sob essa vaga lua
E a luz da lua apura a nitidez da marca
Mais nua, mais clara, mais crua
Sacrifícios Necessários
Assim como disse Pablo Neruda: "Se nada nos salva da morte, então que o amor nos salve da vida."
Nada como o Amor pode propor momentos inesquecíveis e tão valorosos, onde podemos ser o que verdadeiramente somos, compartilhando momentos com as pessoas que mais amamos, e principalmente amando de maneira integral, com todas as qualidades e defeitos. Por mais que estejamos aqui agora, e felizes, amanhã podemos estar fazendo sacrifícios, nos quais fortalecem e ensinam, mas que acima de tudo fazem aquilo que somos. Nem sempre estamos próximos daquilo que amamos, mas é justamente a distância e saudade que tornam nossas lutas ainda mais saborosas, pois lutamos e vencemos tudo o que é feito com Amor. É tudo que é feito com Amor é prevalecedor!
Sonhei ser o Pablo Neruda
num sonho louco
aquele delírio sem fim
Ele poeta que fez história,
Chileno, latino com intensidade aflorada.
Fez de suas tristezas
As mais belas rimas, os versos
Deixando sonetos
E, poemas repletos de beleza
com muita loucura
Sonhei que sua alma
Simplesmente me chamava
Com triste de saudade
Ansiava escrever como outrora
Seus versos de dor
cheio de profundidade
Falando da tristeza
E de sua alma errante
Que continua sua viagem
Pela eternidade afora
E, eu respondi: Escreva comigo
Traduziremos juntos
Nossas mágoas inflamadas
enfim acalmar a alma
Mas Neruda, digo-lhe
Escrevo com todo fervor
Com a intensidade deste ser
Pensa comigo poeta,
é só falando de amor verdadeiro
conseguiremos curar essa dor
(24/06/2019)
Este terno
Vê se você muda
Eu tô falando sério
Ler Pablo Neruda
É cheio de mistério
Vento de regresso
Vidas a conflitar
Outra gambiarra
Não irá me chocar
Uh... tira logo este terno
Você nunca avisa
É frio e impontual
Vejo no seu punho
Uma atração fatal
Estufa bem o peito
Antes da mancada
Ao menos você ri
Na hora marcada
Uh... eu já tirei este terno.
Pablo Neruda disse:
" A POESIA NÃO É DE QUEM ESCREVE MAIS DE QUEM A USA"
Faça das minhas as tuas eu deixo.
Torna-me imortal.