Poema Envelhecer
VELHO ....
O tempo, e com ele a trôpega velhice
Vai se indo como a vida vai mandando
Gritando, calando, caindo, levantando
Hora austera, e também de sandice
É lenta, silenciosa e cheia de chatice
Ou não, cada qual com o seu mando
Se ainda for viável estar no comando
É o ápice do homem na sua meninice
E no espelho, o cabelo branco, a ruga
Pesando na idade, amadurado fruto
É a juventude numa derradeira fuga
A rua mesma, o sonho outro, apatia
Tudo é frágil em um cuidado bruto
Na chance de velho, madura poesia! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/01/2021, 14’11” – Triângulo Mineiro
PASSANDO ...
Sulca-me as frontes já rugas encanecidas
Olhar embaçado eu vejo o velho cerrado
Torto, “pedregado”, arbusto tão delgado
No tempo vou em velocidades incontidas
Cabelos brancos, vá, não seja tão abusado
O meu espanto, quanto as tuas investidas
Tão fugaz, minhas queixas enfraquecidas:
Lamentos, surpresa, pavor, sem resultado
Tive antipatia, tive inocência, e repulsa
Com a estranheza furiosa da mudança:
No espelho a figura avelhantada pulsa
E, atendo ao inevitável, já, só lembrança
Passou, vai passando, e a história incursa
Ao passado, a temporada de ser criança...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Abril de 2021, 12’45” - Araguari, MG
ENVELHECENDO
Frauda o sono na madrugada. Sem apreço
Tropeço em tropeço, corpo e vigor, se vão
É pulsação na emoção, é a conta, é o preço
À dimensão do tempo, do tempo à dimensão
Um espesso sentimento: agrado e padeço
Ao chão, cada suspiro de uma sensação
Vida, palpitação, de arremesso e arrefeço
E, bem sei que curto ou longo nos levarão
A cada verso, reverso do fim e do começo
O início, o término, no meio, se misturarão
Do berço ao regresso, diverso, eu confesso!
Se tive insatisfação, também, mais gratidão
Tristeza ou não, apenas um outro endereço
Envelhecendo, a oblação dos que sorte são!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2021, setembro, 12, 04’27” – Araguari, MG
Canção Musicada Pra Velhice
Dizes-te tempo, entretanto
Em ti andejando, cada dia
Mais e tais, mais um canto
Mais algo, e mais ousadia
E a cada novo ano, passa
Indo a carcaça abarrotada
Aparência baça, com graça
Peleja, e generosa morada
Cada passo, renovo, brilho
A vida num prélio deveras
A juventude um trocadilho
E o desejo das primaveras
Sigo da vida a doce poesia
Se ventura eu fosse poeta
Dele apanharia mais magia
Velho, mas de alma repleta
Cada fio do cabelo já prata
E a saudade no peito forte
No olhar luz, a sina pacata
E, que o coração se importe
Porém, antes, porém, sorte
Caro tempo, aqui me esforço
É bem que se vai pra morte
Mas, que seja sem remorso...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/09/2021, 15’40” – Araguari, MG
ESPELHO
Estive vendo a minha própria figura
Desenhada no espelho, com certeza
Envelheci, com inquieta tal destreza
Que nem reparei, ah! afanosa leitura:
De um olhar nublado e sem a inteireza
A imagem franzida de exausta doçura
Semblante encanecido, sem aventura
E aquele sorriso sem a juvenil clareza
Tudo numa velocidade, sem perceber
O tempo, se foi, vai correndo, por ser
O dono da fase, e o dono do destino
Ah! Fado sem a piedade e a bondade
Ó anseio de crescer, louca insanidade
Do querer furibundo de um menino...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
31 de maio, 2022, 20’05” – Araguari, MG
CREPÚSCULO DO TEMPO (soneto)
Vê-se no espelho, e vê, pelo tempo fugaz
Uma desconhecida face que ali se ilumina
Decaída, expira a mocidade, e aí! termina
A juventude mais pasmada, que agora jaz
Outra ruína mais funda se revela... sagaz
As marcas do andamento... uma heroína?
Não... Furtou-me a idade, pérfida chacina
Mais que ter beleza, foi-se o ânimo audaz
Os fios brancos, e o amarrotado desgosto
Abarrotado de opaco, o intrépido se ver
Pondo no olhar, o luzidio de um sol posto
Chora, o dispor, que não faz então esquecer
Trêmulo no viver, de lágrima triste no rosto
Põe a confidenciar... que estou a envelhecer.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10 de janeiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CREPÚSCULO
Vê-se no silêncio, e vê, pela janela
O cerrado, eclodindo pra vespertina
Melancólico, perece o sol, e mofina
Outro fim de tarde, e a noite vela...
E ai! termina mais um dia, e revela
As horas, que a viveza se amotina
De sua rapidez, pérfida e assassina
Tão sem troco... - um atributo dela!
A melancolia no horizonte, é saudade
As sobras das lembranças, é desgosto
E o que se resta agora é outra idade...
Olhos rasos d’água narram o sol posto
Lúrido, duma emoção em calamidade
- de o crepúsculo do tempo no rosto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/03/2026, 17'00" - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
JUVENTUDE (soneto)
Lembras-te, poesia, quando, era só alegria
Ao fim do dia, o pôr do sol mais que luzidio
Era arrepio na alma, e a satisfação persistia
E em teus versos canto de juventude no cio
Tudo era ingênuo, melodioso e de fantasia
Felizes, ambos, íamos trovando o desafio
Fio a fio, nas venturas com a boa teimosia
Ecoando em nós o inato recato de ter brio
Tudo era longo, e o agora mais duradouro
O azul do céu num infinito da imaginação
E o amanhã no amanhã, um novo tesouro
E em nosso olhar, aquela tão mágica visão
De que tudo é possível no sonhar vindouro
E o mundo seguia mundo sem preocupação
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
31/03/2020, 14’27” - Cerrado goiano
Arrepsia
Tem coisas na nossa vida
Que não sei compreender
Nós queremos viver muito
Sem querer envelhecer
Usamos de artifícios
Procurando benefícios
Pra jovem permanecer.
Santo Antônio do Salto da Onça/RN
23/11/2023
Envelhecer é uma jornada de experiências e sabedoria. Optar por abraçar a maturidade é escolher a riqueza que vem com o tempo, em vez de se render ao temor da passagem dos anos. Essa perspectiva reflete uma apreciação pela vida em constante evolução e a valorização das histórias que o tempo escreve em nossas jornadas. Envelhecer, nesse sentido, é celebrar a continuidade da vida e a oportunidade de crescimento contínuo.
Lilian Morais
“Se o tempo envelhecer seus músculos, pele e ossos, mas não envelhecer sua mente, alma e espírito, você encontrou a felicidade, o amor, o sentindo da vida e a imortalidade…
…pois o corpo envelhece, mas a mente permanece jovem, a alma de criança sorridente, aventureira e misericordiosa sempre vive, e o espírito de adolescente, jovem e feliz deve durar para sempre”.
Tempo de nascer, tempo de crescer, tempo de envelhecer, tempo de morrer. Mas viver tudo isso sem ao menos chegar o tempo de enriquecer! Assim não valeu apena, eu preciso renascer...
Envelhecer para muitos é um sofrimento, aceitar que o tempo passa e que todos nós iremos envelhecer um dia. Feliz daquele que tiver o privilégio de chegar a maior idade com saúde e disposição de viver intensamente qualquer obstáculo.
Mari Diniz @
Que eu possa envelhecer como as árvores plantadas em solo fértil, as quais dão sempre frutos bons e cujas folhas caídas ao chão sirvam como lembranças das muitas lutas, mas principalmente das grandes vitórias.
Quero envelhecer contigo e puder ser um exemplo para os meus netos e filhos de que tudo pode ser ultrapassado desde que os dois se amem incondicionalmente
Amar alguém é querer estar sempre perto é compartilhar momentos é desejar envelhecer juntos e viver na eternidade...
O mais alto tributo ao envelhecer da idade é o esquecimento de passagens alegres e engraçadas.Seja ele por não mais re lembrarmos dos fatos com os personagens que se foram a nossa frente, ou pelos locais hoje tão modificados que parecem nunca terem existidos verdadeiramente um dia.Afinal quando ocorre os esquecimentos gradativamente por doenças e cansaço mental, percebemos que no fundo não faz tanta diferença.
Dentre as coisas mais difíceis no envelhecer, sem dúvida, a inutilidade é a pior delas. Consequentemente, a segunda coisa mais difícil é esconder que você não está bem. Alguns se apiedarao de você se vier a descobrir que você está doente, mas logo te darão as costas porque ninguém investe no que não tem futuro. Outros ao descobrirem teus problemas, entenderão que isso é fraqueza ou um drama que se faz em busca de alguma vantagem, e logo se afastarao e sequer se lembrarão que você existe. Por isso, é muito angustiante ficar fingindo para que ninguém saiba da tua precoce inutilidade.
Quando a gente é criança, somos tão ingênuos a ponto de pensar que envelhecer é uma coisa legal. Fazemos algumas festinhas com brigadeiros, quebramos alguns brinquedos. Os anos passam, papéis se invertem e a única coisa que passamos a quebrar é a cara.