Poema do Nordeste
Ser assim!
Se você me vê contente
não me viu aperriado
não perdi o meu oxente
nem o sotaque arrastado
não me olhe diferente
e não julgue o meu presente
sem saber do meu passado.
Raiz.
A vida aqui é um combate
a cada ano uma guerra
cachorro fraco não late
cabrito magro não berra
nem que o destino maltrate
ou mesmo a seca me mate
não abro mão dessa terra.
Belezura nordestina!
Tanta gente com frescura
que não fala o que preste
acha que charme e ternura
só se encontra no sudeste
com certeza é sem cultura
e não conhece a belezura
das meninas do nordeste.
Interiorano!
Essa terra me acalma
lugar de grande valor
da macambira a palma
não falta um agricultor
e eu amo a vida calma
que eu tenho no interior.
Intenso amor!
O nosso amor é imenso
por essa terra de luz
cada dia mais extenso
com a graça de Jesus
e o nordeste é tão intenso
quanto o gosto do cuscuz.
Agradeça!
Não reclame da sua vida
sem outras vidas conhecer
se a sua mesa é servida
há outras tantas sem ser
no seu prato tem comida
jamais dê uma mordida
sem antes agradecer.
Nossa manhã.
Sua visita é bem vinda
aqui na nossa região
a seca maltrata ainda
mas já com moderação
e quando a noite se finda
a manhã nasce mais linda
nas cidades do sertão.
►Pequena Roça
Sobre o sol um calor sem igual
Acima da estrada de terra, sobre o céu o grande farol
Os carros de bois seguem com uma trilha sonora
Os garotos estão ali, dando banho as hortas
O homem batalhando para o crescer de sua pequena roça
Reparando os portões de ferro enferrujados, com sua antiga solda
Sua esposa torna-se companheira de dança da enxada
E lá de longe pode ser ouvido a serenata da cigarra
Os vaga-lumes brilham nas noites mais claras.
O suor desce como lágrimas do Nordeste
E os corpos respiram com aquelas brisas leves
O campo rural floresce, e a santa Mãe as vozes agradecem
E aqueles humildes portões prevalecem
O tempo machuca os pais daquela terra,
E os filhos então tornam-se herdeiros dela.
Em meio ao trabalho árduo, um prestígio
Lá naquela casinha de madeira encontra-se um abrigo
Um lugarzinho quentinho, para fugir do frio
A pequena roça muitas vezes passa por momentos terríveis
O homem, com um palito em sua boca, sabe dos perigos
E na mata espreita animais que se tornam inimigos.
Viver sobre o solo arranhado não é difícil, disse um dos filhos
Difícil é racionalizar a força ao segurar o garfo
Pois o corpo se torna mecanizado, acostumado com o trabalho pesado
Ele acordou junto ao cacarejo do galo,
E fechou os olhos ao nascer da noite, com os dedos calejados
A vida no campo possui seus pontos altos e baixos
Seus pontos fortes e fracos,
Mas aquela família sempre estará pronta para o trabalho.
Cuscuz sim!
Da culinária nordestina
vem do milho da região
essa comida é divina
e mata a fome no sertão
com tudo cuscuz combina
com charque na margarina
e até mesmo com camarão.
No sítio!
Aqui tem macaxeira
tem pé carregado
café na chaleira
e bode guisado
dinheiro pra feira
uma vaca leiteira
e um chão adubado.
Seca e fé!
A vida é um tanto dura
vivemos por nossa fé
toda dor tem sua cura
na hora que Deus quiser
pouca água entre a secura
enquanto tiver rapadura
nós daqui num arreda o pé.
Sou daqui!
Aqui é o meu endereço
vou do começo ao fim
viver aqui não tem preço
mesmo na seca tão ruim
se estou aqui eu mereço
sou nordestino e agradeço
por Deus ter me feito assim.
O valor da chuva!
Quando chove no sertão
vai embora a terra escura
o verde volta pro chão
e abastece a agricultura
tem trabalho pro peão
e o sertanejo em oração
agradece essa fartura.
Sertão verde!
Como é bom ver o sertão
com esse verde abundante
ter colheita em cada grão
como se fosse diamante
ter a água como tesouro
e ver o bezerro virar touro
sem sofrer um só instante.
Como pode?
No Brasil da bandidagem
cada dia está mais ruim
o trabalho está selvagem
e o sertanejo sem dindim
isso é muita sacanagem
de gente que tem coragem
de enganar alguém assim.
Minha fome, sua política.
Por aqui a coisa é séria
veja o político brasileiro
só pensa no que é matéria
e nas contas do estrangeiro
ainda me solta pilhéria
enquanto eu vivo na miséria
ele gasta o meu dinheiro.
Nosso sonho!
Como é forte o nordestino
nas pisadas dessa andança
cada espinho do seu destino
tem a dor de uma lembrança
e aquele sonho de menino
segue assobiando o hino
dos cordéis da esperança.
Nobreza.
O nordestino é um nobre
como qualquer brasileiro
que tira o pouco que sobre
e oferta ao companheiro
mas por aqui se descobre
que muito rico é pobre
por só pensar no dinheiro.
Seca e a esperança!
A seca braba e severa
me tangeu do meu lugar
não tem flor na primavera
nem semente pra plantar
cansado de tanta espera
só digo meu Deus quem dera
que um dia eu possa voltar.
Um olhar!
Tem quase nada na mesa
de que adianta o suor
se a seca na natureza
está cada dia pior
e esse olhar de tristeza
de quem não tem a certeza
de um futuro melhor.