Poema de Pablo Neruda Crepusculario
É no final eu desisti de tudo
A dor foi tão grande e a insegurança maior ainda, não sonho mais em ser rica nem muito menos ter tudo.
Só sonho em não acabar infeliz, como hoje eu sou....
A felicidade é relativa,
Dura apenas quando os meus pensamentos não chegam...
É saber que sou a minha única salvação não me dá nenhum conforto..
A vida não e uma brincadeira ela e apenas um jogo de azar !
Andas desacompanhada, sozinha nesse longo caminho, que se repete...
Cercada, mas só.
Trazes consigo um brilho que nem é seu... És algo imperceptível, mas que se percebe não por causa de si, porém sua existência já é algo fascinante.
Forjas o júbilo daqueles que se deleitam em sua essência.
.
.
ah, se livro ser, eu pudesse...
nada seria mais inebriante
que a contemplação trémula do olhar
entre páginas de um livro cúmplice
seria poder esperar-te, ansiosa de mim
com ar de quem veio só porque sim.
e eu, poder dizer-te tudo em palavras nos olhos
em silêncios, ansiosos de ti.
seria poder dizer-te, que os sonhos que lês
são contigo, porque viver só faz sentido
se eu for um livro
e puder ser-me, nas tuas mãos
nas tuas mãos cheias de mim
como se livro, sendo
eu pudesse...
ser de ti.
.
.
.
e no dia em que a chuva voltou
deus chegou tarde.
vi, na angustia dos teus olhos em chamas
a vitória do diabo
mais preparado, nestas coisas da morte.
.
entre lágrimas e cinza
deixa-me hoje, nos teus olhos.
porque hoje também morri. hoje.
no dia em que a chuva voltou
deus chegou tarde e não trazia a sorte!
.
mas para os que nada fizeram
ou nada mudaram e pensam
que estou a perder a fé em deus
desenganem-se: é muito pior do que isso
eu estou a perder a fé nos homens
.
e cresce-me uma raiva por dentro
que não sabia, ser capaz de gerar.
sinto-me capaz da insubordinação.
de uma revolução que dê sentido a esta sorte
e a esta vontade que tenho de chorar...
Há poemas que habitam
o olhar das pessoas...
Exorbitam o silêncio das noites
e perduram, no rimar dos dias...
.
Sobre o teu dorso sou homem
sou criança, filho do vento
Luz-me um sorrir por dentro
que meus olhos não escondem...
.
E um dia, que honrar-te eu tenha
Só aceitarei nobre a valentia
Daquele que me não tente a revolta
.
Porque a nobreza não diminui, enobrece
E a liberdade...é valor supremo!
neste intenso leito de odores
quando passas, que fica
quando voltas, que paira
que permaneça enquanto vivas
neste embriagar louco das flores
que fique, que paire
permaneça, que baile
que sobreviva, se fores
..
Gente que aquece o Coração
Gente que aquece o coração
mesmo estando fisicamente distante.
Que transforma em especial
um momento ou uma ocasião qualquer.
Gente que aquece o coração
Com apenas uma interação.
Que traz flores e melodia
Enfeitando e perfumando o dia.
Gente que aquece o coração
Em pleno tempo de pandemia
Que consegue ser porto seguro
A qualquer hora do dia.
Gente que aquece o coração
Que tem o ar de Anjo e de criança
Que tem o coração tão puro
Que renova as nossas esperanças!
Edson Luiz Elo
24 de Março de 2021
A sonata 14 de Beethoven me consola,
Os sentimentos ficam explícitos a cada nota
A tristeza toma conta, a angústia me apavora,
No momento, me sinto a própria derrota...
Eis me aqui a dor
A vida é lastimável,
E não existem remédios que curem, ou melhorem,
Lamentos e sofrimentos incessantes,
Quando tudo começou?
O sofrimento é intermitente:
Eles somem...
Mas sempre voltam de repente.
Não existem mais motivos,
Tudo que era bom dissipou
Ódio e ganância nos destroem
A tristeza é uma doença,
A felicidade é uma substância,
O amor, a possível salvação...
MINHAS PEDRINHAS DE JOÃO E MARIA
Telhas d’água cobrem casas
copas, vagas, matas.
Dos poucos vãos que restam,
réstias beijam testas.
E, no palheiro da imensidade,
continuo a procura do pássaro perdido.
Perco-me como já perdi o chão tantas vezes.
Mas ouso adiante ir, porque é busca
de uma vida...
As margaridas silvestres da beira da esteira,
semeei-as para marcar o caminho da volta.
Talvez eu retorne pelo cheiro do ouro vivo,
talvez pelo brilho das estrelas rasteiras.
A PRIMEIRA
E tudo era nada
e o nada era trevoso
E a treva, num súbito suave
pariu a estrela vertiginosa
E a refulgência foi feita
E era boa E era bela
Recendia primavera
E o verbo chamou, à lux, rosa
Foi a primeira Poesia
LÍNGUAS E LAVAS
nos céus
das bocas,
palavras soltas.
meias vozes.
odes! brados!
entre brasas
e águas vivas,
espadas de Eros
radioativas
em batalhas
amuralhadas
por pétalas
carnívoras,
vigias armadas
até os dentes
dos beijos
sem paz.
APRESSE-TE!
a manhã noviça
escorre
c’a areia movediça.
aos poucos,
com precisão inglesa,
morre no bojo da tarde.
hoje amanheci com a pá virada
pra lua de saturno:
pise leve nesta seara,
tire os coturnos a pressa os medos os remorsos.
voe revigorado
e pouse em mim pólen desgarrado
& beije-me para sempre!
que a manhã é noviça
e escorre
c’a areia movediça
.
.
.
OUTROUTONO
Outro outono entra
sem bater. Entra
para abater.
Para reabastecer
a máquina putrefaciente.
Para dar de comer
à máquina viva
que nos dá de comer.
Para vivermos.
Para morrermos.
[Deus, preciso beber algo
que esteja a salvo!
Dai-me de Vós, Senhor!]
Vírgulas
preciso vírgula
com urgência vírgula
desapegar-me das vírgulas vírgula
essas asas inversas vírgula
reguladoras dos voos livres
ESQUECIMENTO LENTO
Rutilava coisamentos
que lhe abrandavam a pensamentarada.
De déu em déu
domava o coração da saudade.
Quando não escrevo poesia sofro a falta do lápis.
Quando não escrevo poesia sofro a falta.
Quando não escrevo poesia, sofro.
Quando não, escrevo poesia.
a dor e as lágrimas
do profundo
do profundo de
minha alma
o homem que
preferiria morrer
a soltar suas mãos
e uma vez que
soltei
acabei por morrer..
acordou de seu devaneio
do dia que se foi,
o para sempre nunca,
o sonho se desfez
na realidade nua e crua
da poesia que o rejeitou,
e ante as palavras
que sangram
desistiu de concluir
este expressar..
e soprou o vento
de um pra sempre
de ontem
que o hoje tornou
em nunca,
trouxe um aroma
do sal do mar
que veio suave
pelo ar embalado
pelo voo de pelicanos..