Poema de Pablo Neruda Crepusculario

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⁠Grito surdo que se quer soltar.
Entranha da estranha palavra que ninguém quer ouvir
Ou escuta passivamente no ócio de fugir ao pensar.
Será essa voz vento que tímido passa,
Furacão sufocante de insignificante brisa escondido,
Que carrega mensagem amarga em insípida ausência?
Ou será tempestade que já não assusta,
Que bate e se abate em corpo vazio que não se conhece
Onde o trovão queima em dor que não se sente?
Saudade das garras do grito quando tinha voz,
Quando arranhava em sangue o mundo sem a capa da indiferença
Que audaz reagia, sofria, destruía e despia certo de que iria vencer.

Inserida por nfj

⁠O que Eu não Quero
Quando eu me foco no que não quero
Porque não consigo ao que quero chegar?
Não quero o reflexo da lágrima
Que se amarra ao meu olhar.
Não quero o corte na alma
Que não consigo cicatrizar.
Não quero o íngreme caminho
Que não tenho força para alcançar.
E se eu pensasse no que quero,
Será que algo iria mudar?
Quero o horizonte do meu sorriso,
E para ele vou lutar.
Quero o coágulo na minha dor
Para que ela deixe de sangrar.
Quero a força no meu peito
Que não me deixa vacilar.
Caiu o pó da minha estrada e encontrei a minha bússola,
Pois escolhi o caminho a seguir e não aquele a evitar.

Inserida por nfj

⁠O Outro
O outro faz o contrário do que eu quero,
Porque não consegue adivinhar?
O outro não aparece quando eu preciso,
Queres ver que tenho que o chamar?
O outro não sabe o caminho certo,
Lá vou ter eu que o indicar!
O outro trabalha para o meu sorriso,
Não percebe que a vida é para chorar?
O outro diz o que está certo,
Não vê que eu quero é errar!
Eis que, tamanha surpresa:
Disse-lhe, ele fez!
Chamei, ele veio!
Indiquei o caminho, encontramos o destino!
Aceitei o seu sorriso, deixei de chorar!
Ouvi o que ele disse, comecei a acertar!
De repente, contra tudo pelo qual eu lutava, dou por mim a ser feliz!

Inserida por nfj

⁠O Soldado
Soldado em tempo de paz, inútil,
Ganha dinheiro por existir
E nada faz senão sorrir,
Pois da sua missão não sai produto.
Soldado em tempo de paz, sanguessuga,
Enquanto os outros estão a trabalhar
Ele passa o dia a brincar
Com arma na mão, a correr no campo.
Soldado em tempo de paz, invisível,
Não dormiu hoje, porque será?
Não aparece há um mês, onde estará?
Foi para o estrangeiro passear, só pode ser!
Soldado em tempo de paz, ignorante,
Passou o dia sem comer, só porque sim,
Desfaleceu quando corria ao calor, enfim,
Porque recebe tanto se tão pouco dá...
Explode bomba, o país treme,
O que será que aconteceu?
A cidade quebrou, a vida perdeu,
Fujo com medo, mas lá vem o soldado...
Soldado em tempo de guerra, lutou,
Tão bravo que é, no entanto morreu,
Enorme que foi, por ele aqui estou eu,
Tão pouco lhe deram, o pobre coitado.
Soldado em tempo de guerra, valente,
Aguentou sem comer, não viu a cama,
Corre ao sol, alguém o chama,
Salvou mais alguém, é um herói!
Ganhamos a guerra, voltou a paz,
Poucos soldados que eram, deveriam ser mais,
Tudo o que lhes ofereçam não é demais,
Enfrentaram a morte e a minha família viveu.
Soldado em tempo de paz, incómodo,
Atira-se para o chão quando estoura um balão,
Não se dá com ninguém, vive na solidão,
Mudo de lado na rua para não ter que o ver.
Soldado em tempo de paz, esquecido
Já tinha ele saudades de quando era inútil,
Passava o tempo a treinar, para um dia ser útil
E só sabia sorrir, junto aos camaradas agora caídos.
Soldado em tempo de paz, são tantos,
Acabem com eles, não servem para nada,
Passam os dias em pé na parada
E marcham para o treino, a brincar com a arma.
Soldado inútil, sanguessuga, ignorante...
Finge o soldado que nada está a ouvir
Para o seu país continuar a servir
E dar a vida pela sua pátria, como jurou fazer.

Inserida por nfj

⁠O Medo e a Certeza
Se tens medo, avança...
Medo é passo firme que molda a tua estrada,
É gume dos sentidos que golpeia a turbidez da visão,
É constante questão que quer cortar a escuridão.
Se tens certeza, recua...
Certeza é ausência que se pensa repleta,
É pergunta altiva que não tem humildade para se colocar,
É escondida escuridão que está vestida de luar.
Não tenhas medo do medo, pois este é músculo que te faz crescer,
Não tenhas certeza da certeza, pois esta é nervo que te faz quebrar.

Inserida por nfj

⁠O Corpo de um sonho
Se sonho fosse mão e realidade o pé,
Agarrarias o sonho e chutarias a realidade?
Estrangularias o sonho e caminharias na realidade?
Ou perceberias que o corpo só existe completo e trarias o sonho à realidade?

Inserida por nfj

⁠Despe-te...
Olhei,
Como se o olhar te despisse e vi-te como és:
Parede que se esconde em palavras e atos que não és tu
E muralha de receios que suspendem a beleza que se quer mostrar.
Desisti,
Se te escondes não deixas que eu te encontre,
Se gritas não se ouve a voz que és
E se não és tu, como me posso apaixonar por ti?
Voltei a lutar,
Porque sei que a parede não são mais que tijolos,
Sei que as palavras não são sentimentos
E a beleza, nunca a soubeste ocultar.
Deixa de lutar,
Seria tão fácil se apenas fosses tu,
Se o teu grito não abafasse a voz da tua essência
E não receasses mostrar aquilo que nunca se quis esconder.

Inserida por nfj

⁠ Mudança,
Assustadora mudança que me obriga a ser mais quando é tão fácil ser menos,
Sufocante mudança que me furta a paz e afasta o silêncio tão confortáveis,
Íngreme escada que tenho que subir quando o que procuro é o meu sofá.
Mudança,
Querida mudança que me faz crescer e almejar a mais, pois é tão difícil ser menos,
Libertadora mudança que me leva a monotonia e alimenta a doçura do meu som,
Pesado sofá que largo para subir a escada e chegar mais alto.
Muda,
É o olhar do olho que constrói a prisão do medo ou a liberdade do caminho,
É a inércia do corpo que torna fácil o árduo ou difícil o simples.
Seja mais, menos, paz, guerra, conforto, desafio, grito de silêncio ou doce sussurro de som
Sorri, pois são os teus olhos a tua arma e a mudança, essa é só tua para mudar!

Inserida por nfj

⁠Ser Diferente
Afirmam que sou estranha
Diferente
Anormal
Imoral
Fora dos padrões
Querem o quê?
Que eu seja menos como eu
e mais como eles?
Que eu seja igual aos outros?
Que eu me cale diante da injustiça?
Que eu aceite um destino já profetizado por eles?
Querem que eu feche meus olhos para a maldade?
Que eu tampe meus ouvidos e ignore a dor do outro?
Que eu me silencie diante da crueldade humana?
Pois não vou
O errado continua sendo errado
Mesmo que seja considerado normal
Podem tentar e impedir
Mas nunca vou deixar de lutar
pelo que é certo!

Inserida por Sheilatinfel

⁠Idiota -

Sonhei demais.

Já acordaram, levantaram
e foram embora
faz tempo.

Acorda, idiota!

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠⁠⁠⁠⁠Na Mesma Moeda -

Às vezes,
diante de algumas situações
ruins,
precisamos nos colocar
à altura: cerrar os punhos,
fechar a cara,
endurecer o coração e estar
preparado para o que tiver
que ser.

O melhor caminho sempre será
o da paz e do amor.
Mas um coração — vivo —
ainda é alimentado
por sangue.

Inserida por SilvioFagno

⁠Erotismo

Na lua existe infinidades
Se me perdi a noite toda
É porque na lua existe sabores
a que a carecia o abismo e ternura

-Mbuvane

Inserida por Sergiombuvane

⁠Texto

Na terra de guerra camarada.
Acolhe-se os frutos de balas
quentes
Triste. Eu
Sinto-me na terra da maldição.

-Mbuvane

Inserida por Sergiombuvane

⁠⁠Da Pior Forma -

⁠Estou aprendendo,
da pior forma,
que até o mais belo dos
sentimentos,
pode tornar-se, facilmente
descartável.

Inserida por SilvioFagno

⁠⁠O Senhor -

Certo dia,
enquanto eu estava no sofá
de casa,
com aquela velha angústia
das minhas manhãs,
vi pelo portão um senhor parado
na rua em frente.

Percebi que estava perdido,
pelos movimentos repetitivos
da cabeça — que ficava de um lado
para o outro, à procura de algo.

Logo
notei que era um senhor
conhecido,
inclusive por
mim,
que já o vira outras
tantas vezes
por aí,
e, assim como a maioria,
eu sabia que se tratava de
um pobre dependente
de álcool (ignorado como
tantos ignorados),
precisando de ajuda desde
sempre na vida.

Então
eu desci e fui até ele.
— O que deseja? — perguntei-lhe.
— Ir para minha casa. — respondeu-me.
— Onde o senhor mora? — questionei-lhe, mais uma vez.
E após ele dizer o nome do bairro,
eu o instrui para que,
dessa vez,
pudesse pegar o caminho
correto até sua casa.

Chamei-lhe e disse:
Olha,
o senhor vai direto,
e na primeira esquina
vira à esquerda até
chegar à avenida
principal — apontando-lhe
o sentido com um dos braços.
Ele,
que havia perdido um dos
pés das sandálias,
assim o fez.

E enquanto ele seguia,
meio cambaleando,
lentamente seu
destino,
eu voltei para minha
casa, para minha vida,
minhas angústias
diárias.

Minutos depois,
outra vez sentado no
sofá da sala,
agora com uma xícara
de café na mão,
para minha surpresa
(como num déjà vu),
me aparece o mesmo senhor,
no mesmo local, fazendo os
mesmos gestos.

Por um instante,
pensei em descer e, outra vez
ajudá-lo.
Mas percebi que,
independentemente do
quanto demorara,
ele já havia entendido a vida
e seus labirintos íngremes e esburacados — mais cedo
ou mais tarde, no seu tempo,
tomaria o caminho de volta
até sua casa — como o
fizera tanta e tantas
vezes.

Eu é que nada sabia
da vida,
além da porta
de casa,
e era, de fato, quem
mais estava
perdido.

Inserida por SilvioFagno

⁠Amor-acção

Traduza - me tua palavra
Seja tão artista capaz
De dar acção
E não autor de escrever
E só falar amor

Traduza -me teu amor
Põe-me tão fundo
Capaz de esquecer-me
No enlevo seio teu
No abismo e na lua
Onde se faz beija-flor a,
Beijar a flor-bela, Que é

Na noite verme da
Tempestade
A que trova
Chame pelo nome ,
Porque és tão
Fria
E dura quando não a faço
Em meus lábios
O teu autor

-Mbuvane

Inserida por Sergiombuvane

⁠Só Assim -

Tomara
que você sinta-se feliz na maior parte do tempo,
para não precisar lembrar
de mim.

Inserida por SilvioFagno

⁠Encontros Trágicos -

⁠Se a vida fosse, de fato,
boa,
não permitiria tantos
encontros trágicos.

A maioria das pessoas,
simplesmente
não liga.
Uma pequena parte
tem sorte.
O resto
vive à beira deum precipício.

Assim,
a vida acontece,
e se, de fato,
ela fosse boa,
não permitiria tantos
encontros trágicos.

Inserida por SilvioFagno

⁠Não é sobre a cor dos teus olhos,
a da tua pele ou a dos teus cabelos.
É sobre esse arco-íris que tu levas na alma.

Inserida por JulietteCunha

⁠Em Agosto

Ouço as vozes que cantam
E em silêncio elas derramam
Lágrimas quentes pela manhã

Por horas é o para sempre
E por horas penso em te ver
Simplesmente para abrir a boca e falar

Em agosto eu toquei os céus
Com as mãos em chamas
Voltei de um dia claro e frio

Quando se vive a verdade
Belas palavras são só palavras
No fundo de um precipício

É o que eu sinto antes de tudo
Amor, paixão ou o que tiver que ser
Realidade é a cor dos meus sonhos

Diga o que tiver a dizer
Quando estamos juntos
Atenção é o seu sobrenome

Aonde cada suspiro é um poema completo
Respiramos como recém-nascidos
Assobiamos como pássaros

No laço dos seus braços
Diga que ainda vai me proteger
Quando o dia tiver partido

Nos olhos me perco
No perfume me enveneno
Em tudo e em todas as coisas em que te vejo

Inserida por lisbelle