Poema de Pablo Neruda Crepusculario
A MENINA DE PALMARES
Havia uma menina
cuja infância se foi na cheia
afogada nas águas pretas
e escuras do Rio Una
Daqueles tempos molhados
carrega consigo meia dúzia de fotos
e os espaçamentos da memória
cujas lacunas completam o inteirar de sua história
Na inocência dos seus olhos
brincava com a farra das águas
assistindo do alto da casa que lhe era abrigo
junto com outras crianças que como ela
aguardava o retorno desalojado dos pais
Era uma infância úmida devorada pela fome da boca
inundada de dilúvios e pelo banhar selvagem do rio
Não nasceu dos ossos das costelas
mas da mesma argila e do mesmo barro que Adão
Por sobre as águas das chuvas e do lado
boiavam entre bonecas e tiaras
as sobras flutuantes de suas lembranças
e do vestido submerso de sua primeira comunhão
apenas sobreviveu o terço presenteado de sua mãe
No leito em que hoje dorme convivo com suas noites
e me banho todo dia me enxaguando
nos afetos encharcados dos líquidos
de seus mais profundos amores
Minha filha não conheceu meus pais
mas eu conheci meu neto
Por isso faço versos
para que ele saiba
o que meus retratos sentiam por dentro
CORDÃO UMBILICAL
Quando nasci
cortaram-me o cordão umbilical,
só esqueceram de cortar
o fio que me deixou atado ao tempo
Perdi tempo perdendo tempo
em olhar o relógio com pressa de chegar
e nem me dei conta da paisagem
em que havia canteiros de jasmins
que não levarei comigo na memória
Ela é a cara da mãe,
que em tudo puxou de sua avó.
A avó, por sua vez,
é idêntica à mãe que um dia teve,
que vejo em apagados retratos,
e que, conforme antigamente contavam,
era cópia fiel da bisavó da mãe
da mulher que hoje amo,
e que é a cara esculpida da minha sogra.
Creio que me apaixonei
foi por uma mulher do começo do século XIX
Acordei,vesti os sonhos,
calcei os desejos,e sai de casa
fantasiado de realidade.
Quando voltei,
a roupa estava suada,
os sapatos estavam gastos,
deitei a fantasia de lado,
enxaguei os desejos manchados,
ensaboei meus sonhos molhados,
deitei-me na cama cansado,
encobri-me com o véu da noite
e esperei o corpo dormir
no acordar da minha alma
DOMINGOS
Ruas deitadas sobre o chão dos domingos
descançam do pisotear das multidões
que no atravessar corrido das esquinas
são indiferentes aos seus sentimentos
Marginal
Às margens profundas do meu ser, vagueio como um rio agitado sem leito. As palavras, como pesadas pedras, afundam no abissal silêncio impenetrável.
As pobres almas que toquei, como folhas secas outonais, desprendem-se e voam para longe. Desaparecem na bruma do cruel tempo.
Ó rio, sem rumo, sem destino, és espelho da minha própria existência.
Rio sou. E fluí.
Leva-me para além.
Que eu seja a folha seca que flutua em tuas correntezas, que se despede, e que o tempo, implacável, me leve para a outra margem.
Não permita que te destruam, pois é facil fingir algo que não é, apenas para alcançar um objetivo onde você não se inclui na vitória.
Se o passado se prender em seu interior, faça logo uma limpeza na alma. Pois não se pode viver com fantasmas assombrando. A vida segue e existe muita luz pelo caminho, pra que andar na escuridão se podemos enxergar muito melhor em meio as luzes sejam elas do sol ou da lua que mesmo na penumbra ilumina a todos que acreditam nela.
Na vida tudo é uma lição a ser aprendida no dia a dia. Muitos nem prestam atenção, Nem sequer comungam com a situação, depois reclamam que a vida é superficial e injusta.
Muitas vezes afastamos as pessoas da gente por medo. Um medo bobo que nada justifica. Pois nem todos são iguais, algumas pessoas só querem nosso bem, mas se a presença é ignorada ou mal vista, acabam que se afastando por achar que há outras intenções, triste entendimento mas que acolhemos de bom grado e damos ao outro a distância tanto desejada.
A dor só vem apenas para aqueles a quem as palavras afetam (ferem). Se não diz nada a seu respeito não tem porque se ofender.
Dizem que a desistência é um sentimento dos fracos. Eu não vejo como uma fraqueza, mas sim como coragem. Coragem de deixar pra traz o que não tem solução e seguir um caminho próspero de luz. "Buscar a felicidade em outros caminhos."
Sou a única razão pela qual ainda estou aqui. Tenho força e perseverança de que águas passam e os problemas se vão. E no decorrer do tempo boas novas surgirão.