Poema de Pablo Neruda Crepusculario
Nasceu por acaso
Namorou por interesse
Casou-se por status,
Foi julgado como mercadoria.
Foi trocado quando perdeu a beleza
Vive de esmolas de velhas lembranças,
Enquanto se afoga em certezas
Absolutamente irrelevantes,
Que ninguém se importa,
Ou faz questão de lembrar
Quando vira as costas.
Acende uma vela
Reza pro teu santo!
Por desapego, por desespero,
E algum tipo de encanto.
Enquanto a luz do dia
Espera e te aguarda, como guia,
Pra você sentir a vida
Ao invés de ficar ajoelhado,
Em algum canto.
Lamentando
Por dizeres que sozinhos
Não movem um mundo,
Nem geram espanto.
De pedido em pedido
Impedindo de ser a vida
Que tanto ouve em forma
De melodia e canto!
Tem fé
Tem dó,
Tem força!
Contra o uso
Da ignorância!
Contra a arma
Politica!
Contra a policia
Armada!
Tem fé!
Que pra violência
Do dia...
Tem a paz e a lagrima
Da madrugada.
Faltou agua
Acabou a luz,
Comida não tem.
Sofrimento sempre sobra
Em alguma casa
Sem janela e nem porta,
Seja no sul ou no sertão!
A noite é iluminada
Pelos lamentos,
E o sal das lagrimas
É o sustento!
Para a barriga de vento.
Em terra castigada
Pela politica e corrupção
Quem sofre é o miserável
Sem o acesso a saúde
E educação.
Que vive de promessas
Que insistem em se repetir
A cada quatro anos
Ilusão, ilusão, ilusão,
Pela falta de competência
Na escolha de uma nação.
Democracia
Quando ouvi os gritos,
Tampei meus ouvidos.
Quando senti a fumaça,
Cobri meus olhos e nariz.
Quando o sangue respingou em mim,
Apenas lavei minhas mãos.
Quando a minoria estava nas ruas,
Tranquei-me na sala e liguei a tv.
Enquanto o governo coagia,
E a policia batia, minha omissão falava.
Com a coleira de ajuda e salários mínimos,
A sociedade me oprimia.
Só percebi que o caminho não tinha mais volta,
Quando amanhecia o dia.
Manchetes de jornal em sua maioria,
São sempre as mesmas e vazias.
Eu morria sem envelhecer,
Escravo de um sistema brutal,
Disfarçado de democracia.
A ilusão vendida à conta gotas,
Esmola para mentes vazias,
E isto sem perceber, havia me custado uma vida.
De repente do olhar
Surgiu a duvida,
E da duvida a certeza
De que sua vida precisava mudar.
Não só de amores e estações
Mas o que possuía
No coração.
Marcas
Que pés são esses
Que deixam marcas tão profundas,
De escolhas e histórias.
Que olhos são esses
Que penetram na alma,
Mesmo quando estão fechados.
Que mão são essas
Que calejadas insistem em acariciar,
O rosto do teu amor, do teu inimigo, do teu intimo.
Que voz é essa
Que penetra e ecoa,
No vazio da alma, na mente perturbada.
Porque insistes em lutar?
Porque insistes em viver?
Porque insistes em chorar?
Não basta que teu corpo seja a prova do tempo?
Tão pouco as cicatrizes de teus erros e de teus acertos.
Que sobras desejam ter
Se somente o pó vai sobrar,
O silencio ensurdecedor
Ira dilacerar os desejos mais íntimos,
Mesmo o de vida e o que tiver em morte.
Se sobram olhares,
Faltam palavras.
Se sobram palavras,
Faltam olhares.
Só não pode, em momento algum,
Deixar de ser, todo coração!
Infinitos pensamentos
Oceanos de palavras,
A pureza rompida
Pelos olhos curiosos da mente.
Depois do primeiro passo, incertezas!
Depois da primeira curva
A duvida além da própria natureza.
Rasgar o senso comum
Para se tornar extraordinário!
A mente que não mente
De forma latente,
É um presente.
Chora pobre miserável
Por sua pouca sorte de nascer condenado,
Se não por correntes, por mãos que se dizem justas.
Por migalhas de sentimentos,
Por um luxo chamado vida.
Reclama sobre o jornal úmido
Declamando seus gruídos.
Esquece-se do gosto do pão
Perde teu desejo por agua,
Mendiga olhares tristes
De poucas almas cinza,
Que insistem em não lhe ajudar.
Não sabe mais, qual é tua imagem?
Não sabe mais, o que significam tuas palavras?
Perdeu o tato e a sensibilidade bruta que te doma,
É desespero de não poder mais sentir, a flor!
Em forma de esperança que como pétalas
Arrancaram antes mesmo de brotar, dentro de ti.
Nas ruas
Nas calçadas,
Nas pessoas.
Dentro de algum alma
Ou em um pequeno jardim,
O amor está
Aonde se deixa
Ele entrar!
O roubo legalizado
Vivemos em um tempo aonde a lei ampara o roubo legalizado, tarifas absurdas, taxas que são verdadeiros crimes e impostos que nenhum ser humano é capaz de aguentar. A lei faz com que políticos fichas sujas, que prejudicam o país descaradamente fiquem impunes, mas coloca na cadeia manifestantes e pobres que não tem como obter um bom advogado.
Somos um país de estádios,do futebol, da cultura do supérfluo, aonde escolas se desmancham pelo descaso, aonde a saúde publica e o transporte são banalizados e a população paga o pato, ou seria o custo Brasil?
Custo arcado a duras penas, custo pago com suor e sangue do trabalhador, que ganha uma miséria, um salario que mal se pode comer, pagar por bons serviços. Aonde políticos com suas pequenas fortunas não sentem, pois a realidade em que vivem é de primeiro mundo, enquanto o serviço que prestam é de terceiro.
Mais uma vitima de bala perdida, mais uma morte nas filas de hospitais, mais uma enchente que leva muitas vidas, as desculpas são as mesmas, os discursos ensaiados, ano após ano, mudando apenas as caras, pois as soluções nunca aparecem, as soluções se perdem na corrupção, na maquina lenta do estado que definha, com suas soluções boas apenas para quem esta no topo e nunca para quem necessita do verdadeiro auxilio.
Abriu a janela pela manha
Mais uma bala perdida,
Lhe faz companhia.
Entre um jornal e outro descaso
Fila de hospital, marginal praticando tiro ao alvo!
Politico no planalto fingindo não saber
Que o povo tem fome, tem sede,
Quer aprender a ler!
Mas quem quer saber?
Quem deseja mudar?
Lutar pra que?
Cansa, tira um, nasce cem!
E a conta, mesmo nova ou antiga,
Tá por vencer!
“De tiro em tiro, fila em fila, brasileiro vai sobrevivendo até que não exista mais forma de vida”!
La fora a vida não para
La fora a vida trincada,
Insistentemente fingi que sorri.
Seja pela janela ou pela fotografia
Cinza que volta e meia fica suja,
Com cores e tintas que sem desejar, colori.
La fora os passos são invisíveis
O vento é frio e os abraços,
São tão rápidos que não se sentiu.
La fora os olhares são perdidos
A dor é inevitável, o desejo incontrolável,
Que a morte parece um caminho feliz.
La fora a vida é latente
Mesmo com tanta coisa
Fingindo ser gente.
La fora acontece a todo momento
Para quem não tem medo,
De arriscar e perder receio
De sofrer e ser feliz!
Olha
Revolta,
Volta!
A sua volta
O vazio
Revolucionando
O nada.
Perdeu-se
A utilidade,
Seu prazo
De validade?
Ainda Vale!
Volta
Olha a sua volta,
E se revolta!
Como em antigos
Mares!
Hoje, navegáveis.
Diante do gesto
Indiferença!
Diante do ato
indiferença!
Diante da miséria
Indiferença!
Diante da dor
Indiferença!
Diante do preconceito
Indiferença!
Diante da corrupção
Indiferença!
Diante de afirmações
Indiferenças!
Diante das duvidas
Indiferenças!
Diante da vida eminente
Indiferença!
Como poderíamos
Ser todos iguais a final,
Se o resultado é a distorção
Das palavras, dos gestos,
da própria cultura?
Como ser considerado racional
Se o primeiro gesto é o de abandono,
Boa ação, apenas como intenção não salva!
Usar exemplos de terceiros não garante
Seu lugar no céu primeiro.
Todos sabemos o que deve ser feito
Todos ficamos calados diante da necessidade,
Pois enquanto a gota não nos atinge
Não há motivos para consertar o que se quebrou.
De todos os brinquedos jogados fora
A vida certamente é mais precioso,
De todas as palavras abandonadas ao vento
As que fazem falta são as verdadeiras.
De todos os olhares perdidos
Mesmos os na escuridão, na solidão,
Os de indiferença são os que não tem salvação.
Mais uma morte
Ninguém viu!
Mais uma criança drogada
Nunca existiu!
Mais um desvio de verba
Ilusão, no Brasil!
Mais um bom livro
Se perdeu no vazio!
Mais um ser humano
Confundido com artigo raro
Numa pátria que nunca existiu!
Indiferença
Palavra forte, que define,
Um ser fraco e hostil!
A poesia
É como um grito
Silencioso que ecoa,
Pelas paredes espessas
De um livro.
Implora por amor!
Clama por justiça!
Há espera ao menos
De um bom leitor,
Para se fazer livre.
Algumas mudanças não conseguimos ver e poucas vezes conseguimos percebe-las, são como leve brisas, que nos refrescam sem saber.
Não é apenas o fato da mudança que nos assusta, mas, é o não saber o que vai acontecer posteriormente que ela nos encontrar.
A duvida tão frequente quando nos deparamos em frente ha um espelho, nos questionando e as vezes de forma tão impessoal, o que virá depois?
Medo, raiva, acomodação e quem sabe fúria! Admitir-se perdido em meio a tantas escolhas é o maior gesto de bravura que se pode ter em um mundo decadentemente mecânico.
Encontrar uma razão que fuja a logica, em cada passo dado é mais que um pequeno desafio.
É descamar lentamente com uma navalha cega nosso ego, é cegar nossos desejos e privar nossa superficialidade, castigar lentamente o lado subversivo de nossos atos. Requer muito mais que uma amostra tola de força, requer algo que muitas vezes está ausente e perdido no mais intimo de nós, nossa parcela de humanidade.
E você esperando a violência acontecer
O próximo tiro, o próximo grito!
Brincando de adivinhar,
Qual será o beco escuro
Que um politico vai se corromper.
Feridas que nunca cicatrizam
De uma sociedade corrompida,
Aonde impera o caos, corrupção!
Roleta russa com o cidadão
Dia sim, dia não, no circo da civilização,
Mais um corpo que cai ao chão.
As manchas de sangue, são Capas de jornais,
Garantia de ibope na televisão
A festa acontece no nosso quintal
Em quanto você se prepara pro jantar!
Fingindo que não tem mais medo
Rezando em silencio, chorando em segredo,
Para que sua família não vire vitima
Da sua omissão, falta de expressão!