Poema de Pablo Neruda Crepusculario
E hoje, apenas o silêncio!
O silêncio que respeita,
o silêncio que reverencia.
Voa! Voa lindo, voa alto...
Rumo ao infinito!
Cika Parolin
Quando jovem, ouvia dos antigos a clássica frase: "O tempo voa"! E não é que me peguei dizendo isso dia desses! Não vi os últimos vinte anos passarem e ainda não realizei aquele velho plano de entrar num ônibus caindo aos pedaços qualquer e sair por aí, talvez rumo à Goiás; quem sabe comer doce de leite no interior do interior de Minas; não a viagem de turista, mas o ir ficando onde desse vontade! Passeando por pessoas, hábitos e lugares! A pé, de charrete, de bicicleta ... sem tempo determinado ou programações elaboradas! Apenas fazendo o que o gosto mandasse.
Os sessenta estão passando e já começo a transferir os planos para a próxima década! Logo começarei a desconfiar que não vai dar tempo.
Cika Parolin
Só agora percebo que todos os dias tenho inventado formas e maneiras de recomeçar. Como se ontem fosse história esquecida, que não tivesse marcado, que não houvesse acontecido. Assim eu sigo por caminhos diferentes.
Você e eu por estradas paralelas.
Cika Parolin
Como diz a velha canção:
"A distância, sabe, é como o vento,
Apaga os fogos pequenos
Acende aqueles grandes. Aqueles grandes "
Os velhos grandes amores, que muitas vezes julgamos apagados pela distância,
demandam apenas um pequeno sopro de vento
para reacenderem em grandes labaredas.
Cika Parolin
Não sei até que ponto revolver os "sedimentos do passado" pode ser uma coisa boa!
As lembranças bonitas podem até trazer um sorriso aos lábios,
mas as lágrimas que elas trazem aos olhos
são totalmente dispensáveis.
Cika Parolin
Todos temos nossos compromissos e deveres
e muitas vezes eles demandam renúncias
daquilo que gostaríamos de estar fazendo.
No entanto, entrei naquela idade em que posso me dar ao luxo de me "rebelar"! Não me sinto culpada por, de vez em quando, tirar o dia só para mim, dormir quando e quanto quiser, passar o dia de pijama escrevendo poemas, ouvir música no último volume, ver filmes o dia todo sem responder o telefone, esquecer das horas, curtir a minha companhia sem nada pra fazer.
Isso não tem a ver com egoísmo, mas com "terapia"!
É saudável dar-se um tempo das correrias e das necessidades alheias. É como se buscássemos energia para seguirmos em frente! Bom e necessário!
Então para você também: "Dolce far niente"
e feliz fazer aquilo que o faz leve.
Cika Parolin
O impiedoso passar do tempo não faz de mim uma mulher sábia pelo fato de amadurecer, mas de certa forma me faz ver as coisas de forma mais tranquila, sem a precipitação e o calor da hora.
Antes, me faz olhar os contratempos com uma boa pitada de humor e na certeza de que nada dura para sempre. Se os momentos bons passam rápido, os maus passam tanto quanto.
Conforta-me saber que a serenidade vem substituir as perdas inerentes ao envelhecimento. É o "toma lá dá cá da vida".
Cika Parolin
A despeito de tudo, somos humanos!
Todas as teorias não impedem que eu saiba
que um dia iremos embora
e aqui deixaremos, por curto espaço de tempo,
apenas rastros de nossa passagem.
Tal constatação deveria nos fazer ver que não há ninguém melhor
e tampouco, pior que cada um de nós.
Estamos aqui para a aprendizagem da humildade,
do respeito e das atitudes do bem.
O diferencial todo está em aprender ou não, as lições:
Quanto mais tempo perdermos com vaidades e mesquinharias,
mais íngreme será o caminho rumo ao melhoramento
e menos chance teremos de deixar marcas minimamente exemplares da nossa curta estada.
Cika Parolin
Li, em algum lugar, algo muito significativo sobre escritos:
"Se tudo o que se escrevesse passasse por uma peneira, para separar o joio do trigo, o monte do trigo seria mínimo diante da imensa montanha do joio".
Como ser que pensa, cheguei a conclusão que mesmo amando escrever, faço parte da montanha do joio e estou bastante longe dos melhores grãos.
Cika Parolin
Que minha alma seja branda,
que ela perceba o bem que existe em cada ser.
Que eu não aponte falhas em meus semelhantes,
mas antes observe as minhas que podem ser ainda maiores
do que as que eu busco apontar nos outros.
Que eu não tire a paz de ninguém
e que o coração dos que querem tirar a minha,
também seja abrandado.
Felizmente os dias não são todos iguais!
Alguns difíceis de se viver, daqueles que achamos intransponíveis;
outros de pura pirotecnia, foguetório na alma,
riso despreocupado, desejo de viver.
Talvez a graça esteja justamente aí: chorar e sorrir,
sorrir e chorar.
Cika Parolin
À beira de uma estrada qualquer de interior,
pequenas flores do campo, de um singelo tom arroxeado,
chamou-lhes a atenção.
Sem perda de tempo ele parou o carro
e colheu uma delas.
Olhos nos olhos, mãos nas mãos, ela recebeu a florzinha como o mais valioso presente! Prendeu-a nas mãos até o o final da viagem e depois, por dias, um copo de água serviu-lhe de vaso. Antes que morresse fora guardada em um livro, cujo nome agora não importa.
Lá ficou por anos e anos... De vez em quando, era "visitada" e as mutações, provocadas pelo tempo se percebiam.
Numa dessas ocasiões, ao abrir o livro, a florzinha seca havia se desintegrado e seus fragmentos caíram ao chão.
Nada mais poderia ser feito além de lançá-los ao vento
como quem, com muita relutância, devolve ao universo algo que se queria somente seu.
Cika Parolin
Há amores intensos, aqueles que se arrastam pela vida adentro,
mas que o Universo não conspira a favor deles.
Como lenha no fundo do "rio da alma" ,
basta que se agitem suas águas
para trazê-los novamente à tona.
Seria o Senhor Universo brincando de esconde-esconde,
fingindo reacender o que jaz encharcado
entre saudades e lembranças.
Cika Parolin
Definitivamente o envelhecimento traz mais sabedoria, mais segurança e crescimento interior, mas não vou ser hipócrita:
Envelhecer externamente é difícil! Apesar da alimentação saudável e dos exercícios físicos, vejo todos os dias os seus sinais. Uma dorzinha aqui, outra ali e mais outra... e assim vou caminhando, como todo mundo, rumo ao fim da viagem.
Não se trata de lamentar o andamento natural da vida, mas de constatar, a cada dia, a efemeridade da existência física.
Daí a importância de crer na vida além da vida. Cika Parolin
Identifico-me com Rubem Alves quando disse "Escrevo para pintar cenários".
Nos meus textos falo das minhas vivências e observações
e as escrevo da maneira como as contaria aos amigos, em torno de uma mesa. Faço-o pelo puro prazer de contar histórias, relatar fatos e sentimentos que me pareçam relevantes, sem compará-los aos de ninguém.
Somente "pinto-os", com as tonalidades das minhas próprias tintas.
Cika Parolin
Rememoro, de forma fragmentada, acontecimentos marcantes do passado. Sem muita determinação de tempo ou espaço, mas por ordem de importância das marcas que eles deixaram.
Flores brejeiras cultivadas por mamãe; os biscoitos de especiarias, inesquecíveis, que marcavam os festejos de fim de ano; a mesa armada no quintal para os almoços de domingo e as conversas que giravam em torno dela. A vida simples, mas repleta de ensinamentos e significados! Enfim, tudo o que fez de mim o que hoje sou: Um ser grato por ter vivido o que vivi.
Cika Parolin
Muito longe de ser um exemplo de pessoa,
carrego comigo as incongruências naturais dos humanos.
As fragilidades, os temores e tudo o que faz de mim
um ser igual a todos os outros.
Se alguma coisa eu puder falar a meu favor,
certamente é a de possuir
a capacidade para exercer a autocrítica,
reconhecer minhas falhas e sempre buscar formas de corrigi-las.
Junta-se a isso o fato de procurar não agir de má fé
e nem cometer maldades deliberadamente.
No mais, minhas atitudes falam por si só.
Cika Parolin
Muito além da matéria
há a alma errante
que voa, voa...
Algumas vezes em voos cegos,
sempre em voo solo.
No fundo não passamos de pássaros solitários
na infinita busca do que nos aqueça o ninho.
Cika Parolin
A cada dia mais me convenço
que saber viver consiste em distinguir
o que é importante considerar
do que tem importância nenhuma.
Dou importância à paz!
Dou importância ao que se alegra com a alegria do outro.
Dou importância ao acolhimento e à lealdade.
Dou importância a quem segue seu caminho
sem se incomodar com a maneira como seus semelhantes seguem os seus. Dou importância a quem não julga através de mexericos, mas sabe "distinguir o joio do trigo".
E acima de tudo, dou importância às almas pacíficas,
ricas em sentimentos fraternos e bem-querer.
Desejo a todos nada mais que PAZ!
Quando estamos envolvidos nela,
tudo o mais fica fácil de resolver!
Os desencontros ganham contornos mais suaves
e o entendimento se estabelece através do diálogo
desarmado e do real desejo de um convívio harmonioso!
Cika Parolin