Poema de Pablo Neruda Crepusculario
É um gládio perigoso o espírito, mesmo para o seu possuidor, se não sabe armar-se com ele de uma maneira ordenada e discreta.
Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.
No mundo, apenas há duas maneiras de subirmos, ou graças à nossa habilidade, ou mediante a imbecilidade dos outros.
Na verdade, o cuidado e a despesa dos nossos pais visam apenas enriquecer as nossas cabeças com ciência; quanto ao juízo e à virtude, as novidades são poucas.
A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.
Os homens, para não desagradarem aos maus de quem se temem, abandonam muitas vezes os bons, a quem respeitam.
Muito pouco se padece na vida, em comparação do que se goza; aliás, não sendo assim, como se viveria?
Ambicionando o louvor e admiração dos outros homens, provocamos frequentes vezes a sua inveja e aversão.
O mistério em que envolvemos os nossos desígnios revela muitas vezes mais fraqueza do que discrição, e com frequência prejudica-nos mais.
Quando um pensamento é fraco demais para vestir uma expressão simples, isso é o sinal para rejeitá-lo.
Os escolares preocupam-se em segredo com o mesmo que preocupa as raparigas nos internatos; faça-se o que se fizer, elas falarão sempre do amor, aqueles das mulheres.
Censuram-se severamente defeitos à virtude, ao passo que se não poupa indulgência para as qualidades do vício.
O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.