Poema de Outono

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No Ciclo Eterno

No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da índole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De não mudar-me, me infiel renovo
Aos propósitos mudos
Morituros e infindos.

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

Nota: Adaptação do poema "Peço Silêncio"

Canção de Outono

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando aqueles
que não se levantarão...

Tu és folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
E vou por este caminho,
certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

Cecília Meireles
Poesia completa: Volume 2. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

Outono

É uma borboleta amarela? Ou uma folha que se desprendeu e que não quer tombar?

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Uma névoa de Outono o ar raro vela, (5-11-1932)

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

RUÍNAS

Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!

Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!... Deixa-os tombar... deixa-os tombar...

A UM MORIBUNDO
Não tenhas medo, não! Tranqüilamente,
Como adormece a noite pelo Outono,
Fecha os teus olhos, simples, docemente,
Como, à tarde, uma pomba que tem sono...
A cabeça reclina levemente
E os braços deixa-os ir ao abandono,
Como tombam, arfando, ao sol poente,
As asas de uma pomba que tem sono...
O que há depois? Depois?... O azul dos céus?
Um outro mundo? O eterno nada? Deus?
Um abismo? Um castigo? Uma guarida?
Que importa? Que te importa, ó moribundo?
- Seja o que for, será melhor que o mundo!
Tudo será melhor do que esta vida!...

Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiura, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente.

Está fazendo um dia lindo de outono. A praia estava cheia de um vento bom, de uma liberdade. E eu estava só. E naqueles momentos não precisava de ninguém. Preciso aprender a não precisar de ninguém. É difícil, porque preciso repartir com alguém o que sinto. O mar estava calmo. Eu também. Mas à espreita, em suspeita. Como se essa calma não pudesse durar. Algo está sempre por acontecer. O imprevisto me fascina.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Ao correr da máquina.

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O BEIJO

Guardo teu beijo, terno beijo, na memória.
No outono cinza, a despedida, último adeus,
como se foras sem deixar-me uma esperança
de reviver o teu carinho e os lábios teus!

Amargurando o teu partir, restou-me o beijo.
Sonho desfeito, nem as folhas esqueceram,
no farfalhar, de relembrá-lo nas canções,
brincando algures junto às brisas outonais!

As estações se sucederam desde então!
Alma constrita, olhar perdido no horizonte,
dei-me ao letargo dos impulsos lascivosos!

Trago a utopia de uma espera que me aturde!
Cedo o destino e a vida; ao tempo, entrego a morte,
mas na esperança de beijar-te uma outra vez!

No inverno te proteger
no verão sair pra pescar
no outono te conhecer
primavera poder gostar
e no estio me derreter
pra na chuva dançar e andar junto!

tudo novo de novo

O choro secou. Um outono doce impera com seu aconchego de amor e lucidez, suaves. E esse abraço aveludado que chegou repentinamente, num calorzinho de cuidados e curas. Não restam mais feridas. A dor perdeu seu lugar na minha rotina e foi procurar outros rumos. Tenho novos sonhos e um sono novo e profundo. Suavemente tudo mudou de ritmo e celebrei o tempo de cada novo passo. A princípio tive tanta ansiedade, porque tudo parecia um turbilhão, mas de que adianta tentar pular aprendizados? Se é de poesia que o poeta precisa, vamos a ela e não mais à repetição de uma melancolia eterna e bem aprimorada. Chuva e sol, calor e frio: eis o equilíbrio da vida. Se eu nasci com o sorriso mais largo do mundo, não vou entristecer o meu olhar nem anestesiar minha alegria. O choro secou. Já era tempo de prestar mais atenção em outras cores, promover como prediletas outras flores e entrar no mar sem medo, furando a onda com respeito e repetindo a cena com entrega e confiança. Nada ficou fragmentado. Saí inteira e o amor em mim transborda: pele aceitando carícia, olhar brilhando com a menor das delícias. O toque é novo e a respiração tranqüila. Às vezes ainda ofego um pouco, mas quem disse que artista nasceu para sentir pouco? Importante agora é que o choro secou. Antes o meu pranto era cego. Tive que olhar longamente no espelho pra saber o que ainda poderia resgatar de mim. Não quis nada do que restou, quis o meu sorriso novo, minhas portas abertas e a vontade de saltar novamente no desconhecido. E hoje eu só choro se for de alegria.

Amo

Amo o silêncio das tardes cinzas de outono
o desenho das aves gravado no céu,
amo andar por estes caminhos, entre árvores
a balançar na brisa que vem do mar...
Amo as horas paradas do tempo em
que o mundo parece ter estacionado numa praia,
onde as ondas fazem graça na areia branca.

Amo as tardes com suas aragens frias,
que buscam seu agasalho na alma,
amo o verde esperança das matas,
o azul pacífico das inquietas águas,
a natureza de tantas cores da ilha,
as mil cores imaginadas e vividas,
cores de doçura e de força,
numa prece que é pura natureza.

Crepúsculo de Outono

O crepúsculo cai, manso como uma bênção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito...
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.

O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.

Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura unânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.

Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale... o horizonte purpúreo...
Consoladora como um divino perdão.

O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.

A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. A Cinza das Horas, 1917

⁠Não sei quando comecei a gostar de você.
Da primavera ao verão.
Do verão ao outono.
e do outono ao inverno.
Sabe quando as estações mudam?
Sabe exatamente quando o inverno acaba e a primavera começa?
Não sei exatamente quando, o que sinto por você, começou a crescer.

Em mim faz verão, inverno, outono, primavera.
Em mim faz frio, calor...
Em mim reside um pouco de tudo, de tudo um pouco:
felicidade, tristeza, alegria, sorrisos, lágrimas.
Em mim habita as flores, as cores, os amores.
Em mim visita a certeza, as incertezas, a verdade, a mentira.
Em mim passeia as lembranças, a saudade, os momentos.
Em mim mora os sentimentos, os enganos e desenganos.
Em mim vive eu, na procura da descoberta de quem
realmente sou!

Quero alguém que me ame demais

Não quero amor de primeiro dia, amor de verão, amor de outono, primavera, inverno..
quero estações completas, apaixonas e sinceras. Quero ter a certeza - e senti-lá - de que tudo é mesmo real e de que eu mereço.
Quero alguém que me abraçe forte, e que me diga o que pensa, que não tenha medo de ficar calado, ou de falar. Quero alguém que não me diga o que eu quero escutar, mas o que eu preciso.
Não quero uma vida inteira, quero momentos. Rir quando a vontade bater, e deixar as lágrimas rolarem quando as emoções forem fortes.
Quero um muro, uma rocha. Algo como certeza, força, grandeza. Não quero beleza, nem dinheiro. Quero jeito.
E quero ser capaz de ser tudo isso também.

Me deixem ficar aqui apenas
sozinha no meu quarto
a contemplar as folhas secas do outono
que se amontoam pelo chão
levadas e trazidas pelo vento...
Deixem-me ouvir o som das nuvens
e admirar suas formas negras...
Deixem-me suspirar pela vida
que reflete no meu ser
assim, penso nas horas
que não posso mais perder
e nas que eu perdi...

Porque de uma coisa a gente sabe, a vida é injusta e quem devia ficar sempre vai.

Nós, mulheres e o clima, somos assim. Temos os nossos momentos de outono e inverno, mas sempre voltamos a ser primavera e verão.