Poema de Amigo de Augusto dos Anjos
Terrível condição do homem! Não há uma das suas felicidades que não provenha de uma ignorância qualquer.
Uma coisa essencial à justiça que se deve aos outros é fazê-la, prontamente e sem adiamentos; demorá-la é injustiça.
Normalmente, são tão poucas as diferenças de homem para homem que não há motivo nenhum para sermos vaidosos.
Chorarmos por daqui a cem anos não estarmos vivos é loucura semelhante à de chorarmos por não termos vivido há cem anos.
O avarento gasta mais no dia da sua morte do que gastou em dez anos de vida, e o seu herdeiro mais em dez meses do que ele na vida inteira.
O pesar e o prazer andam tão emparelhados que tanto se desnorteia o triste que desespera quanto o alegre que confia.
As oportunidades do indivíduo não as definiremos em termos de felicidade, mas em termos de liberdade.
O valor do casamento não está no fato de que adultos produzem crianças, mas em que crianças produzem adultos.
A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho, aumenta o produto e o proveito.
As grandes livrarias são monumentos da ignorância humana. Bem poucos seriam os livros se contivessem somente verdades. Os erros dos homens abastecem as estantes.
É que a sabedoria é um trabalho, e sermos apenas sensatos custa muito, pois para se fazerem asneiras basta deixarmo-nos ir.
Sem os males que contrastam os bens, não nos creríamos jamais felizes por maior que fosse nossa felicidade.
É uma infelicidade ser tão breve o intervalo que medeia entre o tempo em que se é jovem demais e o tempo em que se é velho demais.
Um homem que ensina torna-se facilmente teimoso, pois exerce a profissão de um homem que nunca erra.