Poema da Fome
Quem nunca se irritou com a disciplina alheia, quando na hora da fome a pessoa anuncia: "Comerei só uma salada!" ?
E bem sei como tenho tentado me alimentar dessa casca suja que chamamos com fome e pena de pequenas-esperanças.
Mas não é verdade que nunca tivesses suspeitado desta tarde e desta fome: não é verdade que por um momento sequer tivesses tentado fugir à tua trágica determinação: não é verdade que alguma vez tivesses sequer pensado numa possibilidade de salvação: sabias desde o começo da consistência ácida do que tecias, e no entanto persistias nela, como quem penetra num beco sem saída, caminhando pela estreita dimensão que sabias desde sempre, intransponível: sim, tu sabias deste momento a construir-se desde o começo, e não fizeste nenhuma tentativa de evitá-lo: agora é necessário que enfrentes: embora talvez não soubesses do depois deste momento que se faz agora e portanto não possas estar preparado para o próximo momento: mas deste sabes: tudo se encaminhou para ele, e já não podes fazer mais nada, á não ser enfrentá-lo: tens ainda o que convencionaste chamar força: tens ainda todas as partículas de tua determinação: tens ainda a tua integridade, embora saibas que ela pode te destruir: pois então toma dessa fibra que a si mesma se construiu em solidão sob teu olhar espantando e impassível: toma dessa fibra feita de algo tão denso quanto o ódio: toma do teu ódio: agora enfrenta.
A maior herança que minha geração deixará para seus filhos é a fome e a miséria, que cresce com a mesma velocidade que o ego dos homens.
Fome de afeto. De amor. De carinho. De abraço. Fome de verdades. De beijo. De cumplicidade. Fome de união. De partilha. De colocar-se no lugar do outro. Fome de histórias para contar, de sonhos para sonhar e um punhado de aventuras para compartilhar. Fome de ser criança. De alimentar as boas emoções. Fome de ser gente. Gente de verdade.
No Brasil muitas vezes as estatísticas escondem as verdades, pois nela se você passa fome e não come nenhum frango e eu como dois, em média cada um come um.
É Natal. Onde estão os homens vestidos de vermelho? Nas ruas? Fazendo propaganda? De quê? Da fome dos meninos sem presentes (salvo bolas, carrinhos e bonecas que os auxiliem)? Ou vendendo, de dentro da barriga gorda, uma caixa de presente saída de uma sacola imaginária? Serão os seus sorrisos natalinos? Um em dez vive o Natal, os outros nove não têm presente. É Natal! Castanhas? Figos? Presentes? Onde estariam as bombas e granadas, teriam se ocultado por um pouco, ou explodem gentes diferentes em lugares diferentes, mas sempre se esquecendo, é Natal (?) Parariam os canhões por alguns dias? E se parassem, valeria? Janeiro traria sangue outra vez. É Natal, e o seu espírito invade as ruas, mas não acho sempre a sua força, perdida entre comércio, bêbados e tolos. Quem nasceu? Papai Noel? Jesus? É Natal. Mas até quando?
Vocês costumavam dormir com fome, lutando por restos. Seu planeta estava à beira do colapso. Eu parei tudo isso. Sabe o que acontece agora? As crianças aproveitam céus claros de barriga cheia. É um paraíso.
Nenhum amor, por mais forte que seja, resiste à fome de carinhos, atenção e dedicação! Quer matar um sentimento? Não o alimente.
Cultivemos o riso contra as armas que destroem a vida. O Riso que resiste ao ódio, à fome e as injustiças do mundo. Cultivemos o riso. Mas não o riso que descrimine o outro pela sua cor, religião, etnia, gostos e costumes. CULTIVEMOS O RISO PARA CELEBRAR AS NOSSAS DIFERENÇAS.
De qualquer modo, Gale e eu concordamos que, entre morrer de fome ou com um tiro na cabeça, a bala é bem mais rápida.
Se pegar um cachorro ou gato, com fome e ferido e cuidar deles, eles serão eternamente gratos a você e jamais te abandonarão. Se fizer o mesmo pelo ser humano, este pode até vir a ser grato a você, mas nesse caso correrá o risco de um dia ser apunhalado pela costas.
As bombas podem matar os famintos, os doentes, os ignorantes, mas não podem matar a fome, as doenças, a ignorância.
A fome, a sede, a falta de professores nas escolas, o desemprego, a corrupção, a pobreza, as greves, o analfabetismo, a hipocrisia, a desigualdade social, o racismo, a discriminação, a falta de informação, todos esses problemas são oriundos e culpa da burguesia.
Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer dizer "ir atrás". É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.
Bento XVI disse que foi embora da África triste pela fome. Já os africanos ficaram felizes com a vinda do Papa. Mas continuam com fome.
Trezentos milhões de crianças “passam hoje fome em todo o mundo.
O dia das crianças não pode ser apenas poesia por um dia.
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