Poema Carolina
A frente da pastelaria, onde criam todas essas lendas urbanas,
Eu fiz e foi em casamentos e velorios:
Em praias, igrejas e templos.
Em meu lar, nessa cidade morta
Que nem chover certo, cê sabe.
Tudo vez que vocês quebrão um prédio,
Quebrão uma parte do meu passado.
Eu planejei de manhãzinha lhe dar um presente. De no natal irmos ver Quebra Nozes e apreciar as luzes piscantes natalinas.
Planejei um dia de chuva pra não fazer nada e um dia de sol para fazer tudo.
Plantei uma semente de árvore para um dia sentarmos em baixo dela.
Bordei nosso nome numa toalha de rosto, só para enfeitar o banheiro.
Esqueci de propósito uma peça de roupa em sua cama.
Planejei molhar nossos pés na beira da praia e colher jaboticaba do pé.
Eu planejei.
Sozinha.
Árvore florida, cheia de vida
Doa mais do que recebe
Tem roubado sua sombra folhas e frutos
Mas mesmo tronco de árvore quebrada
Ainda dá-se um jeito de virar assento
Senti em alma a brisa gélida da manhã
Onde o dia parecia ser abismo sem fim
As cores diante meus olhos se afogaram
Nas lágrimas de sangue que corriam sem limites
Deixando o rastro da angústia gritante
E fazendo de mim um vazio constante.
METAMORFOSE
A morada é singela,
Abriga demasia,
Exibe fachada admirável,
Pinturas assíduas.
A morada é metamorfose,
Parede adunca
Dos vestígios temporais
Nela esculpidos.
A morada é resistente,
Perdera telhas,
Todavia, cintila nos estivais.
RIO VERDE
A nuance da mocidade
Habita-a,
Arde como brasa.
Na pele,
Nítida as intempéries
Vividas na luta
Seara, bem como, na cinza.
O Rio Verde,
Profundo e inestimável,
Enaltece a riqueza
De sua alma.
O mundo é atroz,
Mas sua sutileza deixa-o
Afável e vívido.
Dessarte, não tema.
PARADOXO
O vento fresco emaranha seus cabelos,
Outrossim, arrefece minha alma.
Os pingos do céu atalham seu deleito,
Todavia, atenuam minha rotina.
A semana vagarosa aborrece-o,
Contudo, para mim, é fugaz.
A terra enfada-o, entretanto,
Renova-me. O simples desinteressa-o,
Ainda assim, enobrece minha vida.
RUÍNA
Aurora,
Obsecro à mente sublime
Que está a atordoar
Um frágil corpo carnal.
Crepúsculo,
Suplico à mente celeste
Que está devastando
Um frágil corpo carnal.
Enoitecer,
Imploro à mente extensa
Que assassinou
A ruína restante acolá.
SALVADOR
Viagem curiosa esta,
Não paguei e estou a
Ver o mar. Olha lá!
A roda de capoeira,
O sotaque baiano,
Cá estou na primeira
Capital?! Mistura de
Cores enfeitam as
Ruas. Dança e cantoria
Denotam a magia do
Candomblé. O farol
É lindo! Seja bem vindo!
Disse Severino. Oxalá!
Quem dera voltar logo
Após o despertar...
INSANAMENTE AMANDO
O cantar dos pássaros
É airoso como seu timbre.
Aparência suntuosa, bem como,
Sua essência. Perco-me no que
É de praxe, ao mesmo tempo que
Me perco em seu beijo e ainda
Assim, consigo encontrar-me.
Julgam-me de insanidade a miúdo.
Ah, se soubessem:
Insanos são eles...
DIVINA HARMONIA
Pés despidos na terra
Abençoada. Sintonia
Intrínseca de sua cintura
Com o balanço das árvores,
Em ritmo do cantar do
Sabiá-Laranjeira.
Transcende seu sentimento
Tão límpido quanto a água
Da cachoeira. O seu vigor
Vibra com a queda nas
Pedras vestidas de limo.
O ar estreme sacia os
Pulmões, o espírito.
A Mãe Natureza gratula
Sua romaria. Carpe diem!
LEI DE MURPHY
Acordaste e, ainda
Cambaleando,
Tropeçaste no sofá.
Gritaste o filho de
Quem não conheço
A fim de aliviar.
Já a vida, só para
Contrariar,
Colocou a pedra no
Sapato e junto com
O sol puseram-se a
Gargalhar.
O seu julgamento sobre ele
É o que tem aflorado em você
Policie seu pensamento negativo
E construa sua atitude calorosa.
EMPATIA GRADATIVA
A graciosidade dos pais,
Tornou a criança branda.
A pureza dela
Serenou o jovem.
A cortesia dele
Aformoseou a semana
Do senhor.
O bom dia eternizado
Despertou a empatia
Das futuras gerações.
PERFEITAMENTE IMPERFEITOS
Conheço-te de outra vida
Não tenho dúvida.
Energia prazerosa que
Acalora minha alma.
Carinhosamente admiro-te,
Apesar das falhas.
Ora, sou humana também!
Aquieta-te, ó mente
E não julgue!
Somos imperfeitos
Ao mesmo tempo
Primorosos.
E estamos aqui
Em constante evolução
Moldando nosso ser
Com a maré de experiências.
Qual seria a graça
Se soubéssemos
De tudo?
O sentimento ordinário
Foi necessário, acredite!
Agora, viva!
AUTOCONHECIMENTO
O brado da vida alucinou-a
Por instante. Fê-la transmutar
De uma perspectiva simplista
Para um profundo, realista,
E até então, inacessível prisma.
A busca incessante pelo saber
Tornou-a conhecedora de si,
Progressivamente.
A alteridade que aprendera
Há pouco, auxiliou-a em seu
Propósito. Ao mesmo tempo
Sem sabê-lo, sucede minunciosamente,
Dia após dia em busca. Aplicando-se
Em seu melhor significado de viver.
DEVANEIOS E LUCIDEZ
Ela é de luz com ascendente
Em determinação e lua independente.
Mulher menina carrega consigo
A arte de amar. Coração corajoso
Não se deixa levar por um amor de
Verão. Apetecem-lhe as quatro estações.
Corrida zelosa atrás de seus anseios.
Cabeça iluminada, um tanto, avoada,
Enquanto o sol não se põe. Mas, à noite...
Ah, a noite! Como é bela, tão quanto
Seu sorriso enaltecido pelo batom bordô.
Deleita um bom vinho na sacada.
Aprecia sua própria companhia,
As constelações, singularmente, as Três Marias
Em uma infindável mescla de devaneios
E lucidez.
INCERTEZA
Eu cá, você acolá
Unificados em pensamentos
De insegurança e prazer.
O que fazer?!
A incerteza faz-me
Ter certeza do que sinto
Agora, todavia, amanhã
É um novo dia, um novo eu e
A hesitação torna-me a procurar...
Quando ela passou
Meus olhos começaram a brilhar
Por segundos parei de respirar
E não sabia o que dizer.
Quando ela parou
Bateu logo um desespero
Fiquei com cara de joelho
E pensei no que dizer.
Quando ela me viu
Minha mão suou gelado
Fiquei com um jeito desengonçado
E sorri, pois ainda não sabia o que dizer.
Quando ela chegou perto
Olhei disfarçadamente
Pensei um pouco na gente
E disse "oi!", pois não pensei em algo melhor a dizer.
Quando ela abraçou
Eu me senti tão segura
Pois ela é uma menina pura
Quis dizer "eu te amo" mas achei que não era a hora certa de dizer.
Quando ela disse que iria partir
Pensei em pedir para não ir
Ela prometeu que outra vez iria vir
E agora estou aqui
Escrevendo isso para lhe dizer.