Poema de Bertolt Brecht
Canção dos rebeldes cansados
Quem sempre poupou o sapato
Jamais o viu ficar com furo.
Quem nunca esteve triste ou farto
Também jamais dançou, no duro.
Se o seu sapato se desfaz
De gasto e assim como você
Foi só pra se chutar, é mais
Feliz que você, pode crer.
Pondo o pé na cova é que nós
Bailamos com mais galhardia.
Do último furo Deus sopra
A mais bonita melodia.
Esta vida é muito pouca.
É melhor cair de boca
Para não se arrepender
No momento de morrer!
Eu o sobrevivente
Sei naturalmente: apenas por sorte
A tantos amigos sobrevivi. Mas hoje à noite, em sonho,
Ouvi esses amigos dizerem de mim: “Os mais fortes sobrevivem.”
E tive ódio de mim.
Realmente, vivemos tempos sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.
Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Os Esperançosos
Pelo que esperam?
Que os surdos se deixem convencer
E que os insaciáveis
Lhes devolvam algo?
Os lobos os alimentarão, em vez de devorá-los!
Por amizade
Os tigres convidarão
A lhes arrancarem os dentes!
É por isso que esperam!
Não se alegrem com a derrota dele, homens. Mesmo que o mundo tenha se erguido para deter o bastardo, a cadela que o pariu está no cio novamente.
De que lhe serve poder duvidar a quem não pode decidir-se?
Pode atuar equivocadamente quem se contenta com razões muito escassas, mas ficará inativo ante o perigo quem precise de muitas.
Aqueles que são contra o fascismo sem serem contra o capitalismo, que lamentam a barbárie que sai da barbárie, são como pessoas que desejam comer carne de vitela sem matar o bezerro.
A poesia deve ser considerada como uma atividade humana, como uma prática social com todas as suas contradições, variabilidade, como historicamente dependente e fazedora de história. A diferença reside entre “refletir” e “segurar o espelho”.
O que significa, afinal, escrever? É como um moinho de vento que também pode ficar sem grãos. Mas a pessoa inteira é como um aparelho de Estado, por vezes em grande desunião, sem governo, meio devastado, incapaz de responder como um todo ao mundo exterior. Às vezes, escreve-se movido por uma certa força, e às vezes tenta-se ganhar força escrevendo.
“Primeiro levaram e prenderam o pessoal da Direita, mas não me importei com isso, até comemorei! Eu não era da Direita! Em seguida levaram e acusaram os de Centro, mas não me importei com isso, eu também não era de Centro! Depois prenderam os de Centro-Esquerda, mas não me importei com isso porque eu não sou Centro-Esquerda! Depois acusaram alguns da Esquerda de traição, mas como eu sou fiel ao partido de esquerda, também não me importei! Agora estão me levando, mas já é tarde... Como eu não me importei com ninguém, também, ninguém agora se importa comigo...”