Poema de Amor e Saudade
Falar é fácil, difícil é ouvir. Somente quem se sente aprisionado sabe que a vitalidade se despedaça igual uma peça de porcelana. A solidão, a futilidade, o fracasso, o anonimato, é tão, tão grande que chega a ser insuportável. Vivemos numa caixa de vidro mental e física. Um sistema com permissões, normas e aceitação que molda tudo aquilo que não é dito e que caso se rebele, se torna apenas outra estatística num mundo que não irá parar para consertar o seu coração. Ao ler estas linhas, qual o tamanho da sua jaula? Cinquenta metros, cinquenta quilômetros, alguns centímetros? A limitação da sua mente? É isso? Uma caixa de Pandora que liberta de tudo, medos, tristeza, guerras, desprezo, menos a capacidade de ouvir. Cuidado com isso, ainda faltam alguns itens para saírem da imaginação. O que acontece quando você abre essa caixa e a esperança não está mais lá? Oras meu caro, a resposta é simples, a vida termina e não existe uma passagem de volta. É uma longa viagem num campo minado onde você caminha tentando sobreviver, ou melhor, apenas existir. Pontes deveriam ser uma bela travessia para admirar a paisagem, não um cemitério. Imagino a quantidade de pessoas que se sentem atordoadas, vazias, levando porradas da vida diariamente e aguentando para prosseguir até a luz do fim do túnel, uma luz que na verdade está apagada há muito tempo por falta de manutenção: aquele cuidado com o tesouro mais precioso que alguém poderia possuir.
Nada neste mundo é permanente. As pessoas se vão, as verdades mentem, o café esfria e os pensamentos mudam. Somente quem joga pilhas de rosas aos próprios pés conhece a realidade sufocante de tentar renascer sem estar morto. Em algum momento, começamos a limpar a consciência e tentamos enterrar o remorso. Se for preciso, eu acendo um fósforo e queimo minhas memórias à base de gasolina. Se for preciso, eu faço de tudo pra me livrar da tristeza de lembrar de alguém. Se for preciso, eu liberto meus amores da forma mais banal possível. Simples assim. Só por paz, só por liberdade.
Aos poucos o tempo vai acalmando as tempestades e curando as cicatrizes, deixando para lá quem não te acrescenta nada mais. Com o passar dos anos a noite se torna o novo dia e você aprende que a existência não se mede em relógios, mas com quanta coragem fomos capazes de entregar nossa vida a alguém. Amor é assim, você entrega seu coração, seu ombro amigo e alguns abraços em troca de algo, mas algo que nem mesmo os julgamentos e as expectativas poderiam prever. E aí meu amigo, você chegou num beco quase sem saída. Aquilo que parecia ser eterno não dura e quem parecia ser o nosso mundo se torna um fim de nada. Aprenda a deixar ir, não precisa esquecer, apenas saiba que quando decidem nos amar, talvez seja tarde demais. Quando precisam de nós, talvez não estejamos disponíveis para se doar. Quando resolvem nos entender, talvez não existam motivos para continuar. E desta forma, a vida mostra seu jeito estranho de ser, provando que quando falam com nós, talvez não sejamos capazes de ouvir. É aquela velha história onde aqui se faz e aqui se paga, e que nenhum piscar de olhos devolve um sorriso que se transformou numa decepção.
Um dia além do dia, você entende que as pessoas conquistadas valem mais do que todos os bens perdidos e que mudanças são inevitáveis quando descobrimos que a vida exige coragem. Estar só não significa não amar a si mesmo, pois a solidão monótona não cabe numa única palavra. Um dia você entende que pode chover mais dentro de si do que numa tempestade lá fora e que não importa com quantas lágrimas você foi capaz de se reerguer, mas com quantas decepções você aprendeu a cair. Com o passar dos anos o seu corpo torna-se um refúgio e você descobre que as pessoas não são a sua pele, mas a cegueira da ignorância. Ame o que você possui nas piores situações, isso lhe ensinará sobre algo que o mundo nunca poderá lhe tirar, a sua esperança. Creia em algo, mesmo que seja em alguém, na arte, na escrita, na dança ou na vida. Nada vem de graça e o preço pode ser alto demais. Esteja disposto a pagar caro pelas pessoas que você possui. Companhia, amor e lealdade não se encontram na lata de lixo da próxima esquina da vida. Geralmente alguém tenta apanhá-las para ficar na melhor, quando na verdade o melhor é disputado e alguém sai ferido. Tiros de sinceridade não são para qualquer um. A munição é rara e os apoios pra lá de escassos. Amizades verdadeiras não crescem a longas distâncias, mas florescem dentro do peito e aguardam até a próxima primavera voltar. E de estação em estação, tudo termina, até que o tempo que lhe foi dado vire pó num adeus eterno.
Ame o que você possui nas piores situações, isso lhe ensinará sobre algo que o mundo nunca poderá lhe tirar, a sua esperança.
Sempre existirá um fim, uma triste regra que não irá mudar a lógica da vida. Só que ficar nesse vai e vem, nessa agonia e nessa indecisão não faz o meu tipo. Basta bagunçar ainda mais, porque apesar de existirem poucas razões para prosseguir, ao prosseguir, encontramos coisas para aproveitar. As pedras que alguém atirou, as palavras que alguém disse e as oportunidades que tantos outros perderam são verdadeiras lições de como aprender a ser uma pessoa melhor. É isso que nos torna humanos.
Se existe algo que os erros não podem esconder é o inevitável. Por menor que seja, a luz estará sempre um passo atrás de você. Fugir do que os outros podem ou não gostar é como julgar a si mesmo. Esconde-se o que é verdadeiro, para demonstrar o dolorido cicatrizado no peito. Uma hora ou outra, o futuro que desconhecemos nos obrigará a reviver os mesmos defeitos sem um dia sequer sonhar, sequer vencer.
A coragem da tristeza golpeia minhas escolhas e jorra um ciclo de dor dentro de mim. O orgulho torna-se inquestionável quando a raiva flui do coração. Há um mundo de luto que conserva o silêncio da vida e paralisa o vórtice da ignorância. Convicção inabalável que despenca sobre o rio do tempo e ecoa até a dádiva da culpa. Lacunas de solidão que ocultam rostos e nomes e forjam o inverno da alma. Manhã fria que me aquece em seus braços e empunha o segredo dos sonhos. Vergonha do passado que despedaça as paredes da confiança e condena o reflexo da vida. Vazio que preenche o sussurro do vento e envenena o sangue corrente nas veias. Inteligência que jaz ao gosto de mentiras e transfigura o inexorável poder âmago do tempo.
Penso com certo receio que minhas palavras são incompletas. Vou fazendo de conta que tudo está em ordem - meu quarto, minha vida amorosa, meus pensamentos. Mas que engano, meu coração deve ter uns mil anos de idade, uma pedra, um imã que atrai com fascínio pessoas indecisas. Sinto como se estivesse de mãos atadas, tentando assistir quarenta e quatro canais ao mesmo tempo. A luta e a confusão me encurralam. Não há como se esconder. Não há como ignorar.
As pessoas pensam dominar as outras de um jeito completamente inusitado. Pluralidade não é o meu forte, a minha vida sempre foi uma caixa selada por medo. Quanto menos as pessoas souberem o que eu faço, menor a probabilidade delas me derrubarem. Caio e me levanto com meus problemas, procuro ver se existe alguma graça em continuar. Sei que me aprisiono em minha mente, embora viajo para além dos portões densos da solidão. Abro-os perante minha própria vontade e dou o comando, fecho-os se achar necessário. Sua presença é bem vinda, embora esses apegos quase gritam adeus. Não é como uma simples saudade. Primeiro vou abrir todas as janelas e depois as portas. Vou deixá-la entrar, e então espero que você não derrube todas as paredes e arranque o telhado como um tornado. Essas tempestades que me provam até onde caímos e quebramos dentro de nós mesmos. O abismo não é real, mas somente alguém que me toque profundamente irá saber a imensidão dos penhascos que eu carrego. É inviável jogar as pedras e a ironia sobre as minhas costas, talvez elas rolem e te acertem no meio do caminho. Culpar alguém somente o fará responsável por algo que você não pode lidar.
É inviável jogar as pedras e a ironia sobre as minhas costas, talvez elas rolem e te acertem no meio do caminho.
Quem tenta entender segundas impressões cai na quebra da confiança e se despedaça, adoecendo na própria imunidade. Estive pensando, as pessoas buscam julgar aquilo que se assemelha muito a elas. Nossos defeitos aparentemente não são os nossos defeitos, são evidências nunca percebidas a sós diante de um espelho, como se a porta da sua alma fosse um universo paralelo. Ninguém entende quem é quem, infelizmente. Você será usado por você mesmo, tentando jogar a culpa do outro lado. A corda irá romper, criando uma fissão entre o mundo dos sonhos e da realidade. Pode parecer loucura, mas apenas quem sente o ódio e a fúria por muito tempo sabe como é explodir em outro alguém, blasfemando algumas verdades com tom de ironia para depois repensar nas respostas que poderia ter dado. Você pensa que as mágoas são dissolvidas no rio da saudade, mas não são. Você pensa que perdoou de tudo, mas não perdoa. Somente quem deseja esquecer o passado sabe que as impressões futuras despedaçam qualquer tentativa frustrada de mudar algo.
Agonia… Talvez esse seja o lado bom da vida que faça alguém sobreviver até encontrar um rastro de paz feito por si mesmo.
Desprendido, isso que eu penso sobre transformar algo ruim em apenas uma memória. Minhas preocupações não são mais as mesmas, estão seladas numa sepultura que resiste à anos sozinha perante a rejeição, a mentira e os julgamentos. Solidão incompleta, humanos abstratos, pessoas que pensam semear vento em uma tempestade para conquistarem o que mais precisam. Companhia. Um vulto de ar seco que se desfaz perante o último grito de ajuda. Todos partem e todos quebram, essa é a triste realidade. Acostume-se com isso, obter conforto com o aborrecimento, com o que se foi, tornou-se pálido ou virou pó em meio ao nada. É a vida me dizendo para prosseguir, sem ter motivos para recuar. Existe fé suficiente para sair do poço da ilusão escalando até o último degrau de agonia. Até mesmo as pancadas diárias da vida sentem a força com que batem, e apanham. Palavras possuem atitudes, mas quem disse que toda atitude dura para sempre? É o engano, o deplorável, o lado ridículo que todos tentam ocultar. Atitudes também são carregadas pelo vento num passe de mágica, simples assim. Nunca acreditei em mágica, aliás, nunca gostei de nada que faça meus olhos brilharem e depois desapareça sem entendimento algum.
Nunca acreditei em mágica, aliás, nunca gostei de nada que faça meus olhos brilharem e depois desapareça sem entendimento algum.
Existe uma porta na parede do tempo, existe uma fenda na prisão da alma. Eu sou eu, você tem certeza que você é você?
Exausto, sem saber para onde ir. Mas nem é algo físico, é um cansaço, é ver que muito mais poderia ter sido feito, sem sequer pensar em como agir. Pode parecer que há algo errado, mas nunca conseguirá encaixar um retalho de alegria e outro de frustração. Tem uma caixa inteira de opções ao seu dispor, é só contar uma de cada vez. Pessoas, sentimentos, questionamentos. Sempre há um miserável, procurando nas cinzas o que sobrou das insistências nunca ditas. Sempre há um arrependido, preenchendo seu vazio existencial com as crises de negação. Dá vontade de cavar um túnel, e sair do outro lado da mente. Crescer com impaciência, não resolve. Olhar com sarcasmo, também não. As coisas possuem o seu tempo, uma lógica esquisita meio que forçando a barra, insinuando mil e uma maneiras de como destorcê-la. Viva um pouco, deixe o desespero de lado. Sempre existe esperança enquanto o sol nascer. Ao menos, sempre existirá vida enquanto você conseguir ver esse monstro de luz.
Talvez eu tenha perdido a vontade de falar com muita gente nos últimos tempos, talvez elas tenham se tornado apenas o repúdio que tanto julgavam em mim. Queimei pontes, e agora elas iluminam o meu caminho. Vou para além de toda essa porcaria que colocaram num cortiço de mágoas, e vejo a luz que me cega. Não importa quem você é, seu ego é apenas um maço de cigarros de marca, e você fuma suas atitudes até o fim. Ser popular não faz de você um artista, assim como ser rico não faz de você alguém importante. Mas ser honesto com o que você acredita pode torná-lo perigoso. As pessoas criam monstros, reinventam ilusões e despedaçam amores que secam como flores num deserto maldito e assombrado. E no fim, nunca aceitam receber das mesmas pancadas que doaram.