Poema água

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Água-marinha? meu primeiro namoradinho tinha olhos azuis de água-marinha. Mas eu não chegava perto dele: tinha medo. Porque água quieta é água funda e me dava calafrios.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Você me provoca, você me perturba. Joga água e sai correndo. Atira a pedra e me acerta de raspão. Me espia no escuro e mostra a língua. Me xinga. Me atiça. Invade o meu sossego. Você me provoca achando que não há perigo. Sem conhecer a força da minha mordida, o tamanho dos caninos. Você me provoca sem esperar a picada. Sem saber que ainda não inventaram antídoto pro meu tipo de veneno.

Soube que eu te amava por que quando eu te vi havia estrelas no firmamento, água no leito dos rios, e flores nos jardins: saber que tu eras a pessoa da minha vida era, pois, coisa tão clara que até um cego enxergaria!

Não era amor de verdade, era daqueles amores que já vem pronto, embalado, adiciona água quente e espera amolecer. Mas não tem gosto e esfria rápido.

Um peixe que está na água não tem escolha do que ele é. Os gênios possuem este talento que possuímos de nadar na areia. Somos peixes e nos afogamos.

Faço o papel sem dificuldade. A água flui, vai para a frente. Isto também vai passar. Mas não compreendo. Então um lado meu pensa: é sina, é fado, é destino, é maldição. Outro lado pensa: não, é mera neurose, de alguma forma sutil devo construir elaboradamente essa rejeição. Crio a situação, e ouço um não. Desta vez, eu tinha tanta certeza. E penso: os deuses me traíram, os búzios me atraiçoaram, as cartas me mentiram. E me sinto velho e cansado, e tiro toda a roupa preta guardada nos armários — e tudo não deixa de ser teatral, meio engraçado. Mas há também uma dorzinha verdadeira no fundo.

O blando é muito mais forte que o duro. A água é mais forte que a roca, o amor é mais forte que a violência.

Eu tenho tanto pra te dizer e... no entanto, veja meus olhos rasos d’água: é a expressão de todo o carinho que sinto por você!

É claro que os cidadãos de Ankh-Morpork sempre afirmaram que a água do seu rio era incrivelmente pura. Segundo eles qualquer água que tivesse passado por tantos rins tinha que ser, de facto, muito pura.

Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede, sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações. Talvez apenas alguns goles... Ah, eis uma lição, eis uma lição, diria a tia: nunca ir adiante, nunca roubar antes de saber se o que você quer roubar existe em alguma parte honestamente reservado para você. Ou não? Roubar torna tudo mais valioso. O gosto do mal – mastigar vermelho, engolir fogo adocicado.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

QUEM CHEGA PRIMEIRO BEBE A ÁGUA LIMPA
Cercados por um mar de lama, duas tribos decidiram fazer uma expedição para ir em busca de água limpa para consumo.

A primeira tribo resolveu planejar tudo dentro dos mais rigorosos critérios científicos e administrativos. Desde o material a ser utilizado na embarcação, até o preparo dos marinheiros, e a organização da equipe, tudo, absolutamente tudo foi discutido por meses a fio antes de executarem tão importante expedição.

Mas quando tudo estava pronto, deram-se conta que a segunda equipe, com muito menos preparo intelectual e com muito menos estrutura, já retornava da expedição com toda a água potável usando meras jangadas improvisadas, e a água que restou do outro lado agora também já estava suja.

Moral da história?
Com todo o seu planejamento, evidentemente que a primeira tribo conseguiu fazer uma embarcação ideal, com equipe treinada e tudo organizado para obter o melhor resultado.

Mas a segunda equipe chegou primeiro, e quem chega primeiro bebe a água limpa.

A areia não é líquida, por isso por mais que à molhemos ela tornará a secar.
A água, por sua vez, não é sólida, então ainda que a tornemos gelo sólido,
ela derreterá e água novamente se tornará.
Algumas pessoas são como a água, outras como a areia,
por isto convém aceitar que cada um percebe a vida conforme sua natureza,
sua capacidade, e seu entendimento.

Todas as boas meninas vão para o inferno
Porque até a própria deusa
Tem inimigos
E quando a água começar a subir
E o céu estiver fora de vista
Ela vai querer o diabo em sua equipe

O verde das águas,
O verde das plantas,
Esse é o lugar onde
Minha alma descansa.

Ri(to) de Passagem.

Mar de ilusões.
E, só, ao afogar-me,
Vi que a água não era doce.

”Formiga é um ser tão pequeno que não agüenta nem neblina. Bernardo me ensinou: Para infantilizar formigas é só pingar um pouquinho de água no coração delas. Achei fácil”.

(Extraído do "Livro Sobre Nada" (Arte de Infantilizar Formigas), Editora Record - Rio de Janeiro, 1996, pág – projeto releituras)

Água
Derrame
Extravase
Leve

Água
Escorra
Deslize
Limpe

Água
Deságua
Leva
Limpa

Águas
Límpidas
Renovam
Vidas

Vento, Água, Pedra

A água perfura a pedra,
o vento dispersa a água,
a pedra detém ao vento.
Água, vento, pedra.



O vento esculpe a pedra,
a pedra é taça da água,
a água escapa e é vento.
Pedra, vento, água.



O vento em seus giros canta,
a água ao andar murmura,
a pedra imóvel se cala.
Vento, água, pedra.



Um é outro e é nenhum:
entre seus nomes vazios
passam e se desvanecem.
Água, pedra, vento.

RECOMECE SEMPRE

Observe a natureza, siga o seu exemplo.
Tudo nela recomeça e nasce outra vez.
No lugar da poda surgem os brotos novos.
Com a água, as plantas vicejam novamente (renascem).
Aos poucos tudo muda, nada para, os campos tórridos pela seca, ficam verdejantes com a água da chuva que cai.
A própria terra se veste diferentemente todas as manhãs. As flores começam a desabrochar, os passarinhos dão vida a terra com seus lindos cantos.
Isso acontece também conosco.
As feridas cicatrizam, o coração volta a amar mesmo depois de grandes decepções.
A dores desaparecem.
A doença é vencida pela saúde.
A calma vem após e o nervosismo e do estresse do dia de trabalho.
O descanso restitui as forças nos revestimos de ânimos para mais um dia de luta.
Recomece.
Anime-se.
Se preciso for, pode suas folhagens e deixe que novos brotos surjam, para que no futuro tenhas boas sementes para por no campo.
Assim é a VIDA, RECOMECE SEMPRE!

Kana: – Permita-me uma pergunta. O que acontece depois que a neve derrete?
Hatori: – Transforma-se em água.
Kana: – Errou! Chega a primavera!