Pessoas Sábias
Aproximei-me de um homem que era considerado sábio. E pensei comigo que eu era mais preparado que ele. Ninguém sabe mais do que o outro, mas ele acredita que sim, ainda que não seja verdade. Eu não sei mais do que ele, e sou consciente disso. Por isso, sou mais sábio que ele.
Morrer é uma destas duas coisas: ou o morto é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa nenhuma; ou, então, como se costuma dizer, trata-se duma mudança, uma emigração da alma, do lugar deste mundo para outro lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que o adormecido nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morte!
Aqueles que, no sentido preciso do termo cuidam do filosofar, permanecem afastados de todos os desejos corporais sem exceção, mantendo uma atitude inflexível e não concedendo às paixões. A perda de patrimônios, a pobreza, não lhes causa medo, como acontece com a multidão dos amigos da riqueza; e nem a existência sem honrarias e sem glória que o infortúnio proporciona não é de molde a intimidá-los como acontece com aqueles que amam o poder e as honrarias. E, desse modo, eles se mantêm afastados dessas espécies de desejos.
Aquele que não aceita fugir de sua condenação à morte por respeito às próprias leis que o condenaram.
Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: todos estão convencidos de que a tem de sobra.
Despreza-se um homem que tem ciúmes da mulher, porque isso é testemunho de que ele não ama como deve ser, e de que tem má opinião de si próprio ou dela.
A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.
Tomei a decisão de fingir que todas as coisas que até então haviam entrado na minha mente não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos.
Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel.
As paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos de evitar o seu mau uso e os seus excessos.
Apenas desejo a tranquilidade e o descanso, que são os bens que os mais poderosos reis da terra não podem conceder a quem os não pode tomar pelas suas próprias mãos.