Pessoa Ofendida
Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.
Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.
O tempo inteiro vivo buscando a fundo, em algum lugar onde eu possa me encontrar... Mas, difícil compreender o quão perdido estou, e em que tempo eu vivo. E logo o que "era" não é mais e o que "não é" passa a existir. Me diga que no final da história me encontrarei...
É natural que haja conflito entre a percepção dos fatos e os dados oficiais. Os números traduzem a visão do controle do estado e os nossos sentidos traduzem a realidade da vida.
Mais do que outras artes, são a Literatura e a música propícias às subtilesas de um psicólogo. As figuras de romance são - como todos sabem - tão reais como qualquer de nós. Certos aspectos de som tem uma alma alada e rápida, mas suscetíveis de psicologia e Sociologia porque - bom é que os ignorantes o saibam - as sociedades existem dentro das cores, dos sons, das frases, e há regimes e revoluções, reinados, políticas e - há-os em absoluto e sem metafísica - no conjunto instrumental de sinfonias, no todo organizado das novelas, nos metros quadrados de um quadro complexo, onde gozam, sofrem e misturam as atitudes coloridas de guerreiros, de amorosos ou de simbólicos.
Quando se quebra uma chávena da minha coleção japonesa, eu sonho que mais do que um descuido das mãos de uma criada tenha sido a causa, ou tenham estado os anseios das figuras que habitam as curvas daquela de louça; a resolução tenebrosa de suicídio que as tomou não se causa espanto: serviram-se da criada, como um de nós de um revólver. Saber Isto é estar além da ciência moderna, e com que precisão eu sei disso.
Diário de Bernardo Soares - pag. 341
Fernando Pessoa - Livro do desassossego
O futuro é o resultado das ações e omissões do presente. No passado ninguém mexe - ou se orgulha ou esquece.
nem um mínimo de amor e vida nos chega, aos homens, sem que antes ardamos no entendimento vasto do que totaliza a mulher... seja pela mãe que viemos ou para àquela que nos destinamos, como futuro parceiro, nossa jornada masculina é o que ocorre entre esses dois amores.
amor é a incompetência de desistir, a deselegância de querer bem a qualquer custo, o fracasso em soltar as mãos.
Intimidade é abrir a porta. Afeição é adentrá-la. Amor é não precisar abri-la: é morar em casa de vez.
tenho sido todo-meu: me cuidado no abraço-amigo do eu-amoroso.
tenho me preservado-pertencido pra me renunciar quando teu desejo me chamar.
medidas afetivas:
paixão é contar estrelas,
descontar atrasos, recontar detalhes.
amor é perder as contas.
Dizem?
Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.
Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.
Porquê
Esperar?
— Tudo é
Sonhar.
Passa uma nuvem pelo sol.
Passa uma pena por quem vê.
A alma é como um girassol:
Vira-se ao que não está ao pé.
Passou a nuvem; o sol volta.
A alegria girassolou.
Pendão latente de revolta,
Que hora maligna te enrolou?
A vida pode ser injusta e a tristeza pode nos consumir, mas saiba que em mim você sempre vai encontrar apoio e um ombro para desabafar. ... Não vou deixar de ficar triste por esse ser o fim, mas não vou me deixar abater, pois para tudo há sempre um recomeço. A decepção é o começo de uma injusta desconfiança no futuro.