Pessoa Linda
Desejo...
Meu desejo pela vida...
Tão grande que não cabe em mim
Tão forte que me amedronta
Tão sedutor qual cor de carmim.
Desejo saborear cada momento
Ousar e sonhar o impossível
Viver cada paixão sem lamento
Num todo saber imprevisível.
Desejo tocar tudo intensamente
Tantos planos ainda surgem em minha mente
Andar pelo mundo, semear novas sementes
Curtir a liberdade, viver apaixonadamente.
Desejo eternizar o meu presente
O amanhã é futuro longínquo e silente
O tempo se faz relativo e intermitente
Navegar no universo, deixar-se levar pela corrente!
Universo de Nós Dois
Paira no ar um cheiro de pele
Juras secretas são desvendadas
Vem a centelha e o fogo se espalha
Perde-se o medo e soltam-se as amarras.
O toque acende e o desejo se instala
O brilho dos olhos reflete na sala
Emoção sutil, ternura que embala
Sensibilidade latente no fio da navalha.
Uma aura de amor circunda a coxia
Música de fundo, dança e poesia
Olhares furtivos em pura magia.
Desejos sussurrados, instintos em folia
Corpos entrelaçados, calor, energia
Sentimento ilhado na fantasia.
Crepúsculo II
A tarde cai serena e fagueira
Fechando as janelas do dia
Cedendo espaço à lua e às estrelas
Que ousam clarear as sombras da boemia.
A luz vai mudando de cor
Mil tons se transformam em harmonia
Há um quê de melancolia e torpor
Nessa dança entre a noite e o dia.
O sol se põe e os amores se aguçam
Lânguidos olhares acendem e atiçam
Os corações amantes que logo se agitam.
Descobrem-se os véus e vem a penumbra
O clima de sedução envolve e deslumbra
A noite é criança e a folia é fecunda!
Infinito...
Acalento o desejo de um dia...
Voar mundo afora sem destino
Provando e sentindo o dia-a-dia
Dos andarilhos e dos peregrinos.
Acalento o desejo de um dia...
Navegar por mares nunca dantes
Ouvindo histórias de coxia
Bebendo a sangria dos amantes.
Acalento o desejo de um dia...
Habitar em praias oníricas
Ouvindo as ondas bravias
Soando qual músicas líricas.
Acalento o desejo de um dia...
Viver livre, plena e tranquila
Retratando o infinito...
Saboreando o néctar da vida!
Tua Falta
Sinto falta de você...
do teu beijo apaixonado
do teu gosto de fruta madura
do teu corpo quente e dourado
do teu olhar cheio de doçura.
Sinto falta de você...
da tua forma de me olhar
da tua mão a me acariciar
da tua comida a me encantar
da tua voz a me incendiar.
Sinto falta de você...
do teu amor a me querer
do teu olhar de desejo
do teu calor a me aquecer
do teu galope matreiro.
Sinto falta de você...
da tua mansa suavidade
da tua forma de me cortejar
da tua doce sensibilidade
do teu jeito de me amar!
Encontro Esperado...
Quando penso em te encontrar
Me sinto borboleta nascida
Batendo asas, querendo chegar
No teu casulo, emoção atrevida.
Esse momento esperado
Me faz voar, pássaro sonhador
Sentir o galope apaixonado
Do cavalo alado, viril e sedutor.
Pensamento leve, livre e arrebatador
Sentimento errante, quase assustador
Momento mágico, sonho abrasador.
A espera é cruel, tempo usurpador
Vôo buscando com total despudor
O amor desnudo, fiel e perturbador!
Minhas Dúvidas...
Tantas vezes me questiono
O que fazer com esse amor
Que me inunda de felicidade
E me encurrala de modo assustador.
Tantas vezes me surpreendo
Sonhando esse amor impossível
Buscando o horizonte perdido
Pra me encontrar no infinito.
Tantas vezes me assusto e luto
Contra essa dúbia realidade
Com esse presente do destino
Que roubou minha tranquilidade.
Tantas dúvidas ainda me assaltam
Tantos medos passeiam em mim
Sou nau errante desgovernada
Nesse universo paralelo e sem fim.
Ousadia de mim
Esse amor me fez ousar
olhar fundo pra dentro de mim
abrir minhas portas, me desarmar
desabrochar, me desnudar assim.
Encontrar-te me trouxe à tona
das profundezas do meu mar tranquilo
No desvendar dos meus segredos
No caminhar pelo meu desconhecido.
Descobrir-me como um caleidoscópio
E reconhecer faces ocultas de mim
Estremece meus alicerces seguros
Descortina um mundo novo sem fim.
Descompasso
Explodia a paixão desenfreada
Em seu derradeiro encontro
Forte, sôfrega e arrebatadora
Como último suspiro antes da morte
O amor eterno começava a arrefecer
O desejo latente era estancado pela razão
Ela inquieta, pressentia a vacuidade
E buscava se fazer pronta
Para deixar ir seu grande amor.
Ele aflito, não mais conseguia disfarçar
Mas não poderia ferir sua bem-amada.
Findo o objeto do desejo
O adeus se consolidou
E seus corações se soltaram livres
Naquela primeira manhã do futuro!
Final da História
Toda história tem seu final
E a nossa não poderia ser diferente
Amar, sonhar, sentir, desencontrar
A vida nos envolveu irresistivelmente.
Nos afagamos com tanto carinho
Experimentamos todos os prazeres
Degustamos tantos sabores
Nos desnudamos de todos os pudores
Depois de provar do néctar proibido
Voltamos ao inevitável caminho
Renunciamos ao amor eterno
Para nos encontrar no infinito!
Que eu abra janelas...
Senhor, tu que abres portas,
Deixe que eu abra janelas...Janelas
De violetas ,de girassóis, de quintais...
Aquelas que dão para o vôo dos pardais...
Que levarão meu olhar distante
Para os prados,para os horizontes...
Lá onde estão os meus sonhos,
onde vivem os meus ideais...
Senhor, e que abrindo janelas,
Faça que eu, de divisar seja capaz
pelas janelas da minha alma,
os campos onde floresce a paz!
Estabelece-se!
Fica estabelecido que as pessoas terão asas na alma e que alçarão voos em direção aos sonhos,que estarão pousados no galho mais baixo da árvore dos desejos, plantada no meio de um jardim,no campo onde floresce o impossível!
Pergunte-me por quê!
Não é sempre que acordo com vontade de dar explicações, mas às vezes sinto falta de alguém me enchendo de por quês... Porquê da minha tristeza, porquê das minhas angústias, porquê das minhas inquietações, porquê das minhas perguntas...uma pessoa que te ama, quer saber de você e isso , geralmente se resume em saber os seus por quês...Minha filha me vê quietinha num canto ,logo me pergunta: "mãe, por quê tão quietinha?"...Mimosa, a poodle me olha de olhos doces e úmidos...é a sua forma de me perguntar por quê...Lino,o siamês se enrosca suavemente entre os meus pés e ronrona...Nina, a calopsita quando pousa sobre os meus ombros cansados sem emitir um único assovio,também quer saber o por quê... Outras vezes um amigo me pergunta por que estou assim tão calada, outros ainda me perguntam o porquê da minha cara pensativa, dos meus olhos tristes... da minha solidão...Às vezes me irrito um pouco, por que nessas horas o que quero é ficar calada, é ter o direito de ficar assim comigo mesma, sem interrupções de outros...Preciso de mim mesma e esse é um momento que não gostaria de dividir com mais ninguém...Depois volto atrás e vejo que isso é uma prova de amor...Sei disso por que as pessoas que nos amam sempre querem saber por quê...E quando estamos alegres também querem saber o motivo da alegria, da euforia, se interessam por nós...Mas existem aquelas manhãs em que essa simples pergunta me ajuda, pois essa pessoa me dá a oportunidade de pôr pra fora o que sinto, o que não poderia fazer, se não houvesse o tal por quê...Eu mesma já enchi de por quês a vida, o tempo, o destino, mas diferente de mim, eles nunca me responderam e também nunca me perguntaram o porquê das minhas dúvidas...E se a minha vida é uma equação, foi com a incógnita que o tempo teve preguiça de encontrar.. Todos os meus por quês ficaram no ar, vagando por aí em busca de respostas que nunca virão mistérios que nunca desvendarei... Mas hoje eu gostaria de dizer que estou aberta a por quês... Tenho todas as respostas, apesar de não ter as soluções...Então, não seja como o tempo...Pergunte-me por quê hoje... Pergunte-me eu te direi o porquê da minha inquietude, da minha cara amarrada, do meu olhar perdido...Não posso garantir que as minhas respostas te farão mais feliz ou menos preocupado, mas egoisticamente preciso libertar dissabores em forma de respostas ...Queira saber de mim, que isso me faz bem... O por quê é a válvula de escape que as pessoas nos dão...Sem ele morreríamos sufocados dentro de nós mesmos, sufocados de perguntas sem respostas, de mágoas, de tristezas, de solidão...Viva o por quê e viva as pessoas que nos perguntam ,por que talvez no seu por quê esteja a resposta que tanto procuramos...
Tudo se vai...
Tudo se vai...os sonhos, a chuva na vidraça...vão- se as alegrias,os dias bons e os dias maus... até a esperança um dia nos deixa...vão-se as tardes azuis de abril,as flores de maio se vão para nos trazer o inverno que um dia também vai embora... o arco-iris se vai levando suas cores...vão-se as nossas dúvidas e dores,nossos amigos,nossos amores... vão- se as estrelas e o brilho que elas nos deixam, depois se vai; as tempestades se vão, a bonança também...vão- se os risos, vai-se o pranto, vão-se as ilusões... vão- se as andorinhas em busca de outros verões,vão- se luas e estações ...sentimentos como folhas secas se vão com o vento...vão-se as nuvens do céu de agosto...vão-se os verdes anos...vai o ontem ,para que venha o hoje acordar o amanhã que não sabemos se virá ...o que fica é apenas a estrada e a história que escrevemos ao passar por ela,que talvez continue na memória.E para que tudo não seja em vão,vivamos o momento,desatemos os laços do presente, brindemos o agora,que o tempo urge e não tem tempo de esperar e ele também se vai,nos levando a nós,a todos e a tudo que ele mesmo nos trouxe...nos levando a vida!
Sinto saudade
Sinto saudades... Saudades do que fui e do que poderia ter sido, de quem tive e de quem poderia ter tido...Saudades de quem eu quis e eu deixei passar, de quem me quis e eu sequer olhei...Sinto falta dos abraços que não dei, dos beijos que deixei no ar...Da inocência que perdi e da juventude que me roubaram... Dos amores que o tempo não me deixou viver,das alegrias que a vida não me deu... Sinto saudades de tempos idos, de amigos sinceros...de pular poças d’água depois da chuva e saudades de olhar um céu que era só meu refletido no espelho azul...Das espirais que as pedras formavam na água e dos meus olhos inocentes perdidos nelas.Sinto falta de desenhar monstros e anjos nas nuvens, enquanto elas e a vida passavam sem me mostrar para onde estavam me levando.Saudades de construir castelos na beira do mar e chorar quando a onda os levava junto com meus sonhos...Sinto saudades até de chorar por nada (hoje choro por tudo). Saudades de manhãs de sol, de dias nublados, de tardes de outono com seus horizontes dourados . Sinto saudades de pingos de chuva como canção de ninar, de cheiro de vó, de colo de mãe...Sinto falta de alguém que foi embora de mim... Sinto falta de farrapos de alegria que senti, de nuances de felicidade que passaram no meu caminho. Saudades de lua cheia, lua nova e pôr do sol... Sinto falta de idílios, fantasias,e de olhos secos de dor, sinto saudades até das lágrimas que chorei! de lábios esquecidos, sinto falta dos sorrisos que não dei, das minhas gargalhadas roubadas pela tristeza... Sinto saudades da menina que ficou por tão pouco tempo,de boa noite no portão, de bilhetinhos escondidos, de olhares furtivos...De cartas amarelecidas pelo tempo, que se fizeram poemas de amor...Sinto saudades de alegrias, de casas e lares de livros e histórias... Saudades de irmãos, de camas unidas, de olhar chuva na vidraça, do arco-íris que vinha depois...De varais ao vento, de moça triste na janela...Saudades de ouvir a banda passar, de coretos e cantores, de trovas e canções... De cantarolar baixinho sem motivo, sem por quê... De rir sozinha de coisas que ouvi da vida... Saudade de lenços brancos de partida, de aconchego da volta... De andar à esmo sem motivos pra voltar... De dias que não vieram,de momentos que nem existiram...Sinto saudades de outra vida, outra estrada, outro começo, outro fim... Saudade de outra saudade de um tempo que não viví , e vazia de tudo, sinto saudades de mim.
Reminiscências...
Ontem fiz uma viagem de volta ao passado. Uma viagem com passagem de ida e volta. Sentei-me no quarto das minhas memórias, esvaziei as gavetas das lembranças, arrumei com cuidado no baú das ilusões e na estação do presente, peguei uma carona no trem do pensamento e parti de volta à minha história. Trilhei caminhos planos e tortuosos, peguei atalhos, construí desvios no afã de me desvencilhar da realidade, refiz obstáculos, ri outra vez meus risos, derramei outra vez minhas lágrimas, amei, perdi amores, folheei um livro do qual não pude destacar sequer uma página, trilhei outra vez meu caminho feito de nanquim. Nada consertei, nada pude mudar. A borracha do tempo não havia apagado meus erros , as oportunidades que perdi adormecidas à beira do caminho... Algumas sementes que espalhei a o longo da minha estrada já haviam se tornado frutos, outras haviam sido mortas pelas intempéries da vida. Poucas foram as flores que vi na minha estrada de volta... Nesse amargo regresso, os espinhos me feriram novamente os pés e sequer pude ver as pessoas amadas que perdi... No meio do percurso cansada do peso da bagagem que levava, sentei-me na estação dos saudosistas e acenei para os devaneios, que seguiam conduzidos pela nostalgia, que presto pararam e indagaram o meu destino. Falei-lhes do meu desejo de voltar no tempo para fazer novas escolhas, rever pessoas que haviam passado por mim sem serem notadas, quem sabe o primeiro amor...Estender a mão a algumas que eu havia deixado sentadas à beira do caminho, encontrar outra vez a minha infância perdida, queria falar com o tempo, pedir-lhe outra chance, recolher migalhas de alegria que porventura houvessem caído da minha vida, sonhar outros sonhos, mesmo que fosse por alguns instantes... Ter a ilusão de que poderia fazer tudo outra vez e melhor e diferente. Mas nesse momento o tempo passou muito apresado e me disse que o seu itinerário era o futuro que era impossível que ele retrocedesse comigo, pois em sua companhia viajavam os que estavam deixando para sempre o passado. Eram os que olhavam horizontes muito além dos meus, que eram muitos, pois andavam leves, que não carregavam nos ombros o peso de lembranças, mágoas e amarguras e recordações como eu carregava..... E mesmo sabendo que o tempo jamais voltaria, parti sozinha ao meu destino final. Continuei minha jornada mais de lágrimas que sorrisos, num caminho mais de pedras que de flores... Passei por ilusões perdidas, por lembranças já quase esquecidas, vi de longe, muito longe a paz acenar com seu lenço branco na estação das despedidas e prossegui... Chegando à casa do passado, encontrei –a cheia de sombras e fantasmas, a saudade sentada à porta, me estreitou num forte abraço. Arriei minhas malas e parei. Encontrei-me criança inocente e sem pressa, em balanços de alegria, contando estrelas e transformando em pássaros, anjos e monstros, nuvens que passavam junto com a vida sem dizer para onde estavam me levando... mas o tempo, implacável, seguia seu caminho sem volta e corria muito rápido, roubando-me a inocência, a pureza. Agora já cheia de anseios e planos, o meu maior desejo era que o tempo continuasse mesmo a correr... Comecei a pedir-lhe que passasse e eu o fustigava para que voasse, dei rédeas a ele e galopando sobre vales e transpondo montanhas, e passando por cima de tudo, cheguei ao mais belo lugar onde se pode estar: À minha juventude. Mas nessa parte da vida, também não estava o que eu buscava. Muita coisa me prendia, muitos me dominavam, eu não poderia viver assim. Necessitava ser livre, queria as asas da liberdade sobre mim... Pedi então ao tempo que corresse mais depressa. Precisava me livrar das amarras que me prendiam ser adulta, encontrar um grande amor, fazer novas descobertas, desvendar os mistérios da vida, fazer tudo aquilo que sentisse vontade e finalmente ser dona de mim... E o tempo obediente, correu, correu, voou... Cheguei ao presente, lugar onde estão todas as oportunidades, onde moram o agora e o hoje, mas sequer olhei para eles. Passei a me preocupar o que viria adiante e não tive tempo de desatar os laços dessa caixa preciosa, que tantos a deixam num canto, sem ao menos desembrulhar, dado a pressa de chegar ao futuro e ver o que a vida faria . Precisava ser urgentemente alguém importante, com muitas histórias para contar, vencer todas as batalhas e finalmente ser independente. Então, na minha ânsia insana, gritei com o tempo, reclamei dos dias que pareciam não ter fim, das estações que nunca mudavam, das luas novas que nunca se iam, adiantei o relógio do destino. E a corrida continuou e o tempo voava e me levava pela mão e me arrastava com ele, até que me encontrei velha e sem forças e quis descansar. Agora já não precisava mais pedir ao tempo que passasse. Eu estava quase à sua frente... Comecei então pedir que parasse, ou pelo menos que andasse mais devagar, pois a louca corrida em busca de realizações me tornara cansada e saudosa do presente que não vivi. Mas ele se fez surdo, inclemente e implacável passou muito mais velozmente, e viajando nas suas asas ele me trouxe e me fez pousar onde estou. Um lugar chamado velhice, outono da existência para quem soube aproveitá-lo e inverno dos corações para quem o desperdiçou sem ter vivido a primavera!
Hoje descobri!
Hoje acordei e descobri que não posso mais ser quem eu fui,ou quem gostaria de ter sido. Que o meu passado, tenha sido bom ou ruim, ficou lá atrás.Que não posso carregar comigo o fardo das lembranças, se em meus ombros pesa o que sou agora. Descobri que não devo deixar que as garras do tempo que se foi, agarrem o presente que me conduz ao futuro.Que a minha dor, a dor da lagarta, da uva e do trigo, apenas nos transformaram em algo melhor. Descobri que o tempo que nos trouxe nos levará e que não posso usá-lo para assistir a um filme que já vi, rebobinando fitas, se a história continua e eu sou sua protagonista,embora às vezes sem tempo para assistí-la.Descobri que as feridas que a vida me fez, já se transformaram em cicatrizes, que as lágrimas que chorei já foram secas pelo lenço do tempo.Descobri que a juventude foi um presente que já desembrulhei e usei, mas que não pude guardar no armário,como fiz com as minhas bonecas. Que a velhice também é uma caixa de presentecujoconteúdo se chama vida da qual muitos não puderam desatar os laços.Hoje acordei e resolvi absolver vida que andei culpando por ter matado meus sonhos,por que descobri que sonhos podem morrer,para reviverem realidade .Descobri as mágoas são águas más que devem virar correntezas e não lago parado.Descobri que preciso de mim aqui ao meu lado e não lá atrás ,perdida no caminho, a procura de quem fui,ou de quem poderia ter sido.Descobri que devo seguir o exemplo do rio, que embora murmure, segue seu curso, transpõe barreiras e desce vales, mas encontra o mar...Descobri que traumas são restos dores que a vida varreu para debaixo do tapete e mais do que isso, descobri que podemos enrolar o tapete e dançar no espaço que restou.Descobri que a vida é estrada de mão única e que em cada estação fica um pouco de nós ,mas que devemos seguir em frente com o que restou do que fomos: O que somos!
Não tenho medo da morte!Tenho coisas para fazer em Denver!
Não tenho medo da morte. A morte é breve e certa. Tenho medo da vida, muitas vezes longa, tantas vezes incerta... Por que temeria eu a morte,se não a conheço a não ser de passagem,quando cumprindo seu papel, passa por mim levando alguém que fatalmente reencontrarei? Temo antes a vida, que conheço, sei de cada instante de dor, das surpresas que ela me trouxe, das dores que me causou... Não tenho medo da morte, acima de tudo, por que a morte me separará de quem amo por uma única vez... Tenho medo da vida, que por tantas e tantas vezes fez-se ir quem eu mais queria...A morte nenhum outro golpe me dará, que não aquele fatal, único e certeiro... Por quantas vezes fui golpeada pela vida? Ela, sim, me causa medo, insegurança e nem sobre minha própria morte tem poder; Ao passo que a morte de tudo me livra inclusive de viver. Quem na vida chora por mim, me presta homenagem, me honra, me envia flores, me santifica? A morte, sim, essa vem com todos esses atributos e ainda traz com ela uma saudade imensa que todos sentirão de mim... Que títulos a vida me deu,que superará ao meu epitáfio,-(presente que só da morte se recebe-):”Aqui jaz aquela que em vida se chamou Linda?” Por que teria medo da morte? Ela não me perguntará com que roupa quero ir,esteja eu vestida de princesa ou plebéia, não fará reparo,nem me pedirá um pouco mais de finesse;Não marcará horários irritantes que sempre tive que cumprir... Não faz acepção de mim, como não faz de ninguém... A morte é democrática e isso me fascina... Visita a todos igualmente, assim como leva o mendigo, leva o rei e a diferença se atém à indumentária que o luxo possa oferecer.... Diferente da vida, que a alguns deixa todo o seu tempo prostrado na existência vã a esperar por tê-la digna... Por que teria eu medo da morte, se ela virá no dia certo , não me deixará a esperar? Quanto à vida, essa a tudo me faz aguardar,inclusive pelo impossível!... Mas a morte? Pobre morte, nunca me enganou... Antes me deu a única certeza que tenho na vida: A certeza de que morrerei. Não tenho medo da morte...Tenho medo da vida, que na escola do mundo, muitas vezes sem me ensinar, me prova e reprova...A vida me pede tempo, me toma tempo...A morte não tem tempo a perder... Apenas passará para me levar, esteja eu aprovada ou não... À morte não interessa se terminei o meu dever, se fiz certo ou errado... Eu conheço a vida e por isso tenho medo...Medo de viver...A vida não é boa em cumprir promessas...A morte, essa nunca falha...Posso esperar confiante pela sua chegada .A quantos a vida fez esquecer de mim? A morte pelo contrário, me deixará para sempre na lembrança de tantos... De quantas coisas necessito para viver? -Muitas,- diria você... Dinheiro, saúde, amor,amigos...Para morrer, apenas preciso de um corpo são ou inválido, um coração que bata rápido ou devagar e de um último suspiro, entre tantos que dei vida afora...Aqueles, de desgosto, esse, no entanto de alivio... Não tenho medo da morte...Essa nada me cobra...Apenas me levará para acertar contas com superiores, sem querer saber o que devo ou fiquei de receber.... Não tenho medo da morte que não me cobra o futuro... Ela não me prometeu que ele virá e tira de mim qualquer risco de enfrentá-lo! Tenho medo da vida que me tira o hoje e me faz preocupar com o amanhã... E parafraseando ao contrário a sagrada carta de Paulo aos Coríntios,diria no adeus final: “Vida,oh vida, onde está o teu grilhão"?Tragada foste tu pela vitória da morte, por que para mim ,vida não é liberdade e morte jamais será prisão!
A difícil arte de ser quem sou!
Não é fácil ser quem sou... Não trilho pela vida em caminhos planos, em brancas nuvens, mas também não passarei em branco... Não deixarei vazia a parte que me coube neste mundo... Vou retocando este croqui que nunca chega à arte final, mas espero que ao fim, eu possa entregá-lo se não perfeito, mas acabado, um projeto do qual a vida me encarregou e que é meu dever fazê-lo da melhor forma possível... Quase nada recebi como subsidio para chegar até aqui... Quando me trouxeram nada me deram além de uma planta desenhada pelo destino, que nunca representou o que sonhei um dia ser, a qual no compasso do tempo fui modificando, nada encontrei senão um terreno vazio e inóspito esperando por mim, no qual afixaram uma placa cujas inscrições eram: “Esta será você... Esforça-te e seja alguém"... Tive que fazer do material bruto matéria prima para iniciar o que hoje sou... Claro que trago calos e calos na alma pelas muitas vezes que tive que me reerguer sozinha, lutando contra tudo que tentou me desmanchar... Não é fácil construir-se sem ter tido moldes, terreno propício e estrutura... Pouca ajuda tenho do destino e o tempo só torna mais feia e sem brilho a minha pintura íntima... Tenho que correr atrás de novas cores que não o preto e branco que a vida me entregou, trazendo novas tonalidades para dentro de mim, dando pinceladas aqui e ali para disfarçar defeitos, colorir meu interior... Neste meu árduo trabalho de arquiteta de "ser”, muitas vezes quando pensei estar construindo pontes, estava levantando muros, fazendo paredes onde deveria ter feito portas, esquecendo-me em muitos momentos de abrir janelas por onde entrasse a alegria de viver, fincando esteios sem alicerce, construindo na areia e não na rocha e por isso tremendo na base a cada vento fraco que passou por mim...Muitas vezes, na ânsia de ser grande, construí labirintos e me perdi em mim mesma ,vagando por corredores infinitos, perdendo o prumo, e o rumo e sem conseguir me encontrar...E não raras vezes, ao invés de quartos arejados, teci casulos por anos a fio, esperando asas que quando vieram já me encontraram sem forças para voar, mas nem por isso rastejei, nem por isso perdi o nível... Alguns me olham e me julgam pronta... Longe disso... Às vezes quando quase me sinto assim, temporais me assolam, rajadas de vento me açoitam, ondas vêm e destroem o meu cansativo trabalho de uma vida inteira, levando para longe o que estava ao alcance das minhas mãos... Pequenas coisas atingem o meu lado mais frágil, onde por razões óbvias não coloquei escoras, não me protegi e lá vou eu de novo, começar da estaca zero onde pensei que havia posto um ponto final... E assim sigo reformando-me reconstruindo-me, colocando remendos em rachaduras que as essas mesmas intempéries fizeram... Portanto, não me julguem pelo meu exterior... Quem vier a me conhecer por dentro poderá se surpreender com matizes na minha alma, com lugares secretos e aprazíveis que fiz como refúgio para quem necessita achegar-se... Verá que por trás da minha aparência simples há uma fortaleza medieval. E por nessa construção ter sido mestra e não ajudante, tive a chance de conhecer cada parte de mim, tenho consciência de todos os meus defeitos... Conheço cada palmo desse chão onde usei o prumo da sensatez para aplainar, conheço cada centímetro dessa casa chamada alma e coração, onde habitam meus sonhos, minhas desilusões, meus anseios, minhas alegrias... Sei do que necessito para vir a ser aquilo que serei: Essa obra chamada "EU", a impossível arte de ser quem gostaria, a difícil arte de ser quem sou!