Pertencer
Naquele momento, e durante toda a vida, tive que lidar com duas sensações bastante ruins, a de não pertencer a lugar algum e o medo de me unir a alguém que depois partiria por um motivo qualquer.
Eu odeio você ...
Odeio te amar, odeio me sentir presa a você, odeio sensação de te querer todos os dias, odeio a falta que você me faz quando não está por perto, odeio quando me deixa vulnerável, odeio sentir ....
Eu odeio você ....
Odeio a ideia de ter aberto as portas que estavam travadas, de um lugar devastado e escuro, que não queria que ninguém fosse morar, odeio ter deixado você entrar, decorar, se instalar....
Eu odeio você ....
Odeio seus defeitos que me tiram do sério, odeio saber a verdade, odeio e hoje estou te adiando mais, seu sorriso faceiro, suas brincadeiras irritantes, estou odiando você....
Anaya 🌹
Faço pausas. Me pergunto: eu pertenço a esse lugar? Se sim, permaneço. Se não, vou em busca de onde eu me reconheça. Mas, onde quer que eu esteja, eu rezo para merecer estar. Se for por merecer, minha oração me faz permanecer, ou me leva para um lugar bem melhor do que eu sou capaz de imaginar.
Eu sei como é estar rodeadas por pessoas e não se sentir pertencente a um grupo ou local.
Sempre falta,e eu não sei da onde vem tanta falta,até parece que não sou daqui.
Elas nos olham mas não enxergam o que se passa por dentro,e mesmo falando o que tanto nos incomoda,ainda não consegue entender o real sentindo de nossas palavras.
Aqui, neste pedaço de terra onde pequenos detalhes importam mais do que grandes acontecimentos, onde o chão de barro é tão marcado quanto o rosto de minha Tia Firmina - ambos esculpidos pelo tempo e pelas mágoas -, onde o destino das mulheres é reto e seco, tal qual um avesso imperfeito da única trama guiada exclusivamente pela nossa vontade: a renda. Já que os demais caminhos não nos pertenciam por inteiro.
Há este sentimento de que, uma vez que você deixa o lugar onde cresceu, você não pertence totalmente lá de novo.
Por anos, me senti invisível na sala de aula, como se não fizesse parte daquele lugar.
E isso tudo me faz pensar... pensar no que vale a pena, pensar no que se deve esquecer, pensar em quem veio e tem que ir. Me faz refletir que nada nessa vida me pertence, nem os pensamentos... E eu deixo, não tenho escolha. Que os caminhos sejam seguidos, e que a vida se encarregue do restante.
Apenas deixo fluir!
(em Xalés de Maracaípe)