Pérolas
ESCREVI-LHE POEMAS
Escrevi-lhe poemas de amor
E eram como recém-colhida flor a te oferecer...
Mas sem cuidado para reviver,
Murchou ao sol por.
Também, aos ventos,
Rasgou-se a fina folha de papel
onde todo meu sentimento escrevi,
E assim, esses olhos, à noite, cerrou-se
sob um véu de tristeza coberto,
tal qual o rosto de quem findou-se.
Meu poema foi tudo que te dei:
A pérola que recriei: Essência da alma
que a ti guardava, ofereci-te nas palavras
toda minha pena com tinta dourada!
Mas tal qual a flor e o amor,
os poemas também fenecem
na telúrica raiz das pétalas recém colhidas.
Era ontem
Ainda posso vê-la!
Estava aqui agora há pouco...
Ainda ontem! Sumiu nas brumas.
Ficou na lembrança tão próxima.
Posso até estender as mãos e toca-la...
Mas transformou-se em outra matéria
que não se pode tocar com a minha.
Era ontem... Eu ainda a vi tão perto!
Mas houve uma tarde, noite, logo após.
E, anoiteceu... Amanheceu... Anoiteceu!
Poeta,
Só tu és poeta, Senhor meu!
Plagio-te na tua imensidão
com que me inspira
e a que me aspiro.
Mas só tu tens o original.
Um dia a Justiça brilhará como o sol do meio dia
Porque eu não sou o peso da tua falsa medida,
descomedida. Com a qual não te medirias.
O porvir
Um dia estará com Ele no paraíso.
Em seu vestido luminoso tal qual o céu.
E a coroa que o Rei lhe coroar,
a fará chorar por lembrar das promessas
e do tempo da sua dor.
Vai sentir ter valido a pena,
tudo ter sofrido, tudo ter chorado.
E na mansão celestial , finalmente
e para sempre, pousaras tuas pegadas,
passo a passo na caminhada.
E não mais a morte, e não mais contar com a sorte...
Não mais o fim e não mais a dor.
Agora já está com o Senhor,
aquele que te prometeu um belo porvir
é fiel para cumprir. E não mais a morte
e não mais contar com essa maldita sorte.
Música silente
Postas mãos...
brancas, taciturnas,
alvas feito Jasmim
na primavera...
Noturnas!
Nenhum toque de gaita,
à boca se desenhou.
Era o fim... Porque a canção se cansou.
Nenhum sopro... Nem tom.
Borboletas azuis pousam na tela,
voando dos pincéis, outrora em suas mãos,
e agora, voam pelos ares em procissão...
Tudo silente, emudeceu
A canção se cansou e dentro da gaita se recolheu.
LINHO FINO
A poesia é um eterno bordar em linho fino.
O linho são os papeis,e a caneta a agulha
e a tinta as palavras.
E bordaremos e bordaremos...
Até que um dia alguém nos tome
a agulha e a linha e os sonhos e a inspiração.
.
VIVER É FATAL
O que és tu vida? Alguém há de perguntar.
E alguém haverá de responder que é um
amontoado de borboletas sugando
as últimas gotículas de sangue do seu cadáver,
enquanto outros seres putrefadores da cadeia alimentar
aguardam sua vez para degustar o corpo que ora habitava sua alma.
Alguns preferirão logo seus olhos para interromper-lhe a visualização...
Para que não sofra com a própria destruição... Da essência ora existente.
E as fezes expelidas nos dias quentes, e também se for noite fria.
Isso é a vida... Os poros se abrindo e deixando derramar, bem devagar
o suor que outrora, umidificava o corpo para não desidratar e agora... tudo explodindo... Implodindo!
Enfim, é a vida... Fezes futuras para adubar a terra onde plantinhas nascerão sobre sua cabeça e lhe taparão os ouvidos e cobrirão sua boca para esconder o desejo das palavras que você preferiu não dizer.
Viver é estar sempre em estágio terminal! Viver é fatal!
POR QUE TE AMO
Amo tuas mãos.
Tem gosto de lençóis
acetinados da infância...
Tuas mãos:
Pérolas a tocar-me as faces!
Amo tua voz!
Tem delírio de música erudita
dos palácios reais...
Tua voz:
Doce canção a beijar-me a alma!
Amo teu corpo!
Tem calor do manto na estrada onde passou
o bom samaritano e o mendigo.
Teu corpo!
Pois me aquece nas noites frias,
quando ninguém mais me oferece nada.
Amo-te! Se me podes ser apenas um toque,
um calor e um sussurro!
VERSO TRISTE
Estou em luto, a poesia morreu.
Morreu nas frágeis mãos de quem a escreveu.
Porque o amor foi para longe, tais quais os monges
que se fecham em antigas catedrais.
E não voltará! Nunca! Nunca mais!
É como a alma sem vestes na noite invernal...
“Nu eu vim do pó e a ele regressarei.”
Sem tema de amor, histórias de rainha ou rei.
E partirei... Cantando ou chorando
os versos que compus para o amor...
O amor que se perdeu e amei tanto!
Mas minha alma purificada,
deixará no chão as folhas orvalhadas
de versos tristes, rabiscadas.
AUSÊNCIA DE PALAVRAS
De tudo para quanto vivi,
eras tu do que mais morri.
Da ausência de palavras,
do canto que não ouvi.
Eu sinto porque tu foste,
pelo amor e o desgosto...
Era uma verdade tão vã,
que só durava no afã
das palavras ditas com escárnio
travestindo-se o riso dos falsos
versos de Chamfort.
Era sua verdade tão vã!
De tudo o quanto vivi,
eras tu do que mais morri.
MEU BATUQUE
Escuta o meu batuque! Vai até a madrugada.
Meu batuque é silêncio que me põe a vida pensá...
Deixa ele batucá... té que eu dance a ultima música
e alguém me põe pra niná.
É batuque com repiques dos sinos lá da aldeia
e dos sons das ondas do mar,
de cheiro de campos floridos,
e da areia branca da estrada...
Da canção dos violeros!
Tem gosto de céu estrelado e dos causos
que meu pai contava, à noite, lá no terrero.
Das roupas que mamãe lavava e secava
no varal da minha infância...
De quando levava a gente na cidade pra comprá
os tecidos boladinhos para ela costurá,
vestidos dos contos de fadas mais lindos daquele lugá.
Por isso, deixa meu silencio batucá.
A cada vez que ele batuca
põe-se minha alma a pensá.
Deixa ele batucá...
Té que eu dance a ultima música
e alguém me põe pra niná.
PARA ONDE FOI O PRÍNCIPE?
Uma canção para a menina
que foi embora.
Linda menina que brincava
comigo no meu jardim...
E sonhava com seu príncipe!
Vestida, sempre, de chita, saia balonê
e tiara de pedrarias nos cabelos de princesa,
a coroa de sempre dessa menina!
O príncipe...
Ah, o príncipe?
Foi só uma história!
O AMANHECER
Retornei-me ao mundo dos mortais,
até revestir-me de imortalidade outra vez.
E caminhei por entre os prados e jardins
para remarcar meus rastros, antes que ventos
os apagassem.
Dormi o sono dos justos ou dos injustos,
e despertei-me como qualquer deles...
Ouvindo a melodia dos pássaros.
E o sol brilhava assim mesmo na minha janela.
APRENDIZ DE SOLIDÃO
Aprendi a ser só
Aprendi seguir e ousar!
Percebi que para voar
é deixar-me ser levado...
Planar nos ventos sem suas asas.
Vi o quanto posso...
Eu, pássaro de rapina!
Não perco na noite imensa ou curta.
Aprendi a usar minha retina
tal qual a azul luz da mira de um fuzil.
LOUCURA DE AMOR
Grita, grita! Oh, alma amargurada!
Até acordar-te do teu pesadelo.
O amor existe! Foi apenas um sonho ruim.
Não fora embora seu amado!
Nem há montanhas intransponíveis,
ou, pássaros de mau presságio.
Escuta! É a mesma canção do vento
que o trouxe um dia! Ele ainda sopra!
Podes sentir o perfume em tuas mãos.
A fragrante essência dos deuses!
Não as lave! Leve à tua boca e sentirás
quão doce sabor!
Acorda-te, desse pesadelo,
Oh, alma amargurada!
O amor ainda existe. Persiste!
Não te enlouqueças na tua dor!
DEVOLVA-ME
Devolva-me as doces palavras
e as mais puras gargalhadas
que tocaram-lhe os ouvidos!
Devolva-me !
Devolva-me os beijos
que com sofreguidão lhe dei,
e as carícias que só eu soube,
ou não soube, mas que desenhei
em seu corpo as marcas
da felicidade efêmera.
Devolva-me!
E se quiser, devolverei os beijos e os abraços.
Conceda-me uma noite, apenas!
E daquela estrada, peço que me retorne de onde
juntos seguimos, pois não sei mais voltar, estou perdida!
Devolva-me!
Devolva-me a direção do caminho!
ASSIM É ESSE MEU AMOR
Esse amor que é meu e me alimenta
de versos, anelos e ternura.
Que um dia saí a procurar,
a chamar de alma minha...
Há muito já habitava-me os sonhos.
Sua voz macia e um sorriso terno...
Mãos pequenas de pérolas!
E os negros olhos a mirar os meus!
Esse amor seria todo meu paraíso!
E me amaria por tudo e também por nada.
Assim é esse meu amor...
Eu o amaria por tudo e também por nada.
O VINHO DA JUVENTUDE ESCARLATE
O vinho que eu bebi em sua boca me enlouqueceu.
Era de uvas frescas colhidas em tempos da juventude escarlate.
Em tempos que o trem apitava ao longe anunciando sua chegada.
Eu na estação à procura...
Não era mais o menino de alma singela e pura,
mas o homem esbelto com seu paletó aos ombros,
em busca da menina de tranças.
E eu não mais a criança!
Não mais o vestido floral.
Era um tempo de estio, não mais um jardim estival.
Jardim que juntos plantamos para selar nosso amor
de criança...
Hoje quando o trem apita, ouço da vida um prenúncio:
Não mais o trem que chega, e sim, avisa sua partida.
E bebo o vinho embriagante da sua boca, na lembrança.
QUERO
Quero ser o sonho que te faz bem...
Que te faz dormir e sonhar.
Eu quero ser sua poetisa a cantar
as melodias mais profundas
das sereias no fundo do mar.
Deixa-me cantar!
Sou também jardineira das flores
E posso uma semente lançar...
As sementes dos amores.
E pintar um jardim tão perfeito
Que não haverá outro jeito
a não ser amar, amar, amar...
Nas profundezas do mar,
ou no mais simples leito.