Periferia
"Gostaria muito de ver as pessoas prestando atenção na ciência do Hip Hop. A parte dos conhecimentos, o aspecto político do que se pode fazer o Hip Hop. Eu sempre digo que será universal como nos convertemos em uma união galáctica."
“Ainda vivemos em tempos de chibatadas. Escravidão virou emprego remunerado. Senhor de escravos virou patrão. Capitão do mato virou policial. Homem branco virou playboy. Escravo virou cidadão de renda modesta. Casa grande virou mansão. Senzala virou favela. Tronco e pelourinho se transformaram no sistema carcerário. E navio negreiro se converteu às viaturas da polícia.”
As ruas são nossos museus
os muros as nossas telas
o sangue nos olhos a nossa tinta
e a poesia marginal a nossa arte.
'Neguinho'
Censuram-te!
Não permitem-lhe o livre pensamento
a livre expressão.
Vendem-lhe produtos que não lhe servem a nada
obrigam-no a andar sempre na linha
e andando sempre tão reto, jã não percebes
o quanto te curvas, o quanto és servo de tal esquema?
Que sistema é esse, que cega nossos jovens, cega nossos adultos
e agora, cega também as nossas crianças?
Enquanto você dorme tranquilo este teu sono alienado
a morte espreita-o, feito um predador à presa.
Sem que percebas, fecham o cerco à tua liberdade
já não és mais livre, mesmo que pague, se puder pagar!
Mas antes, acenam-lhe com uma invenção de última época
afagam-lhe a nuca com um mimo qualquer.
Tocam música boa ao pé dos teus ouvidos
amaciam a tua carne com as marcas da moda
as propagandas enchem a tua mente do mais absurdo vazio
não há em você mais consciência ou razão.
Inerte e sem reação, você perde, o sistema ganha.
Em menos de um segundo, uma bala perdida
- bem no meio da testa - te encontra por acaso,
numa esquina qualquer de um bairro qualquer da periferia.
O sistema vence mais uma
e você perde toda a sua inocência de uma só vez.
Sintonia
Quem vive a vida se escondendo no conforto e preconceito de sua morada não vê nem sente, mas a vida na "quebrada" é dura.
Entre chinelos de dedo, pés descalços, mãos com calos, crianças correndo, cachorros com sarna, nóias na fissura, há algo em comum nos olhos do cão abandonado e nos da senhora que empurra o carrinho de papelão ... HÁ TRISTEZA!
"Ó São Paulo garoento,
Meu Grande ABC, Serra do Mar.
No planalto, selva de cimento
O trânsito é de amargar.
Na periferia um tormento
De carro poder rodar.
Vivemos todo momento
Aos trancos, a lamentar.
Mas Deus, no firmamento
Ensina-nos a te amar.
(J.M.Jardim - Set/2013)
A violência desempenhada pelo estado, através de suas estruturas de guerra contra seus cidadãos pobres, alimenta uma cadeia de ódio e revanche social.
O sentimento que envolve o espírito no seu momento mais presente ultrapassa os limites do cosmos, culminando num acontecer de sensações à periferia do ser.
O ódio, a raiva e o rancor
Infelizmente
São abundantes
Estão na periferia
Atitudes sem consciência...
Mas quem transborda mesmo
E rega toda a periferia...
É o amor...
Bom de mais!...
Não são todas as sementes
Que brotam
Mas continuemos a regar
Esse jardim
Para que flores possam crescer
E com seus perfumes
Fazer outros se despertaram
Para juntos conosco
Inundar a periferia de beleza
E gratidão
Vamos juntos
Compartilhando essa luz
Essa amor!...
Felicidades
Uma noite abençoada
Paz no coração
O abominável homem das trevas
Sombrio e obscuro,
ele navegava pelo asfalto da avenida
como quem veleja pelo concreto frio, cinza e duro da cidade.
Caminhava altivo e inexorável
os caminhos possíveis de seu pensar,
em ruinas, via o seu mundo inexplorável ruir a cada esquina.
Sentia suas dores mais intangíveis explodirem na escuridão à sua frente
e como um mensageiro da escuridão ele explorava o mundo de forma inabalável.
Em meio às trevas de sua existência embebidas de silêncios enormes
que lhe afagavam a face
penetrava o seu abismo mais profundo.
Feito mãos que penetram insensíveis as teclas de um piano e afagam sombrias as cordas de uma guitarra,
seus pensamentos mais sordidos ressoavam temerosos e solitários pelos acordes mais crueis e malignos daquela noite.
Ao caminhar por seus medos mais horrendos, se aprazia da amizade sincera que lhe ofertava a solidão, oprimido pelas sombras da noite retorcendo-se pelo caminho e beliscando o seu calcanhar, via, sentia,
a brisa da noite lhe afagar serena a face segundos antes do breu intenso da madrugada explodir em sua retina,
já turva e meio estorvada.
Enquanto percorria sozinho e intrépido os caminhos sombrios de sua escuridão revia os rumos prescritos em seu destino.
Ao passar pela avenida vazia,
via as luzes dos postes de iluminação se apagarem feito presságios.
O abominável homem das trevas caminhava sonoro, todos os dias,
pelas vias mais improváveis de sua quase morte
e bem em meio a percepção de sua inexistência
era acometido de uma euforia absorta e imponderável,
acometido de um prazer inexplicável.
A adrenalina lhe aprazia.
As trevas lhe aprazia.
A solidão lhe aprazia.
Nem mesmo a morte lhe metia medo.
Na escuridão, os seus olhos brilhavam feito estrelas raivosas
deslizando pelo céu infindo,
refletindo o brilho sagaz de sua impenetrável coragem.
Seu hábitat era a escuridão.
O ecossistema ao qual pertencia subsistia no caos à beira do quase fim.
M'ais!
Maaaaiiissss....
Uma mãe preta invisível
Lacrimessangra sobre
O corpo visível de seu filho morto
Sujo coração foi achado
Por mais uma bala perdida
Em mais uma periferia de
Salvador Bahia.
Favelado, ator
Favelado, artística
Favelado, jogador
Favelado, cineasta
Favelado, empreendedor
Favelado, deputado
Favelado, senador
A favela, vence!
A favela, vencerá!
A favela está chegando em lugares.
Que ninguém nunca ia imaginar.
A favela merece muito respeito
E não o vulgo de desonestidade
Respeito é pra quem tem, já dizia Sabotagem...
Povo guerreiro e trabalhador
Acorda de madrugada para se sustentar
Transportes públicos, sempre cheios e precários...
Mas fazer o quê? Tem que ir trabalhar
Com o povo da favela
É tudo na garra e correria
Seja verão, outono, primavera ou inverno
Todos os dias é dia...
Sei que o capital comanda
e que quer dizer que preciso da comanda
pra provar o que tenho feito
desisti de receber dinheiro
tô ligada que o que faço
não vale qualquer trocado
vou trocar por tempo!
Expandi as possibilidades
vou usar sagacidade
o que eu tenho dentro
vou buscar quem tá por perto
o que eu sempre por certo
é partilhar conhecimento!
Quero ser que nem criança
to cansada da cobrança
não vou mais ter medo de crescer
a autoconfiança vai além de superar inseguranças
tem que confiar no próprio poder.
-
part. da faixa "Bolso Cheios de Sonhos" com Mestre Chapeleiro e Poeta Gabriela do álbum Chapelaria - Sorrisos,braços e histórias.
Sempre foi difícil pra mim entender
pra que tanto sacrifício se é ser feliz
que a gente precisa querer
"Em quanto me afogo no meu mundo covarde, o menino da esquina grita:
_Corre!
Dentro desta caixa estampada com flores,
Não vejo maior que minhas dores,
Nada, além do supérfluo que se faz real.
Enquanto brinco com o dicionário de palavras difíceis,
O menino na escrita chora,
Por não saber ler.
Mundos fechados, como os meus existem aos montes,
Tão rijos que deixam de ser engolidos pela massa
Mas jogam diariamente seus escretos pelas valas,
Onde o menino ainda grita:
- Ele não fez nada, só queria um pedaço de pão."