Pequenos textos Reflexivos
Na minha opinião, depois da morte, a matéria deveria ser aniquilada. Seria o método mais adequado para lidar com o corpo. Assim, os corpos aniquilados voltariam diretamente para os buracos negros de onde vieram. As almas viajariam para a luz com a velocidade da luz. Isso se de fato existir algo como a alma.
Chego em casa faminta e minha geladeira me lembra que tenho 130 anos, me oferecendo prateleiras de brócolis, couves e que tais, não mais um carregamento de bem-casados que se amassavam nos bolsos dos paletós dos meninos e que eram divididos entre todos que rachavam o táxi da volta. Eu devia ter me casado, penso. Com sorte ele também seria avesso à ideia de filhos e teria uma lesão nos joelhos. Levaríamos uma vida desanimada revezando a bolsa de água quente. Teríamos um jogo de tupperwares de vidro, presente de alguma tia, e cuidaríamos para preservar todas as tampas.
O médico disse que era estresse. Sempre é. Estresse. Aquele tremor no olho, e quatro horas de sono a menos que o recomendado. E a ansiedade, era estresse também? Você precisa relaxar, ele disse, e a palavra soou leve, como fumaça de incenso. Listou uma série de atividades que poderiam me deixar mole como sua fala enquanto receitava alopatia, pra garantir. A ideia de precisar relaxar me deixava ligeiramente histérica. Quem é que relaxa — e como? — nesses tempos?
A vida, é claro, jamais captura toda a atenção de alguém. A morte é sempre interessante e nos atrai. Assim como o sono é necessário à nossa fisiologia, a depressão parece ser necessária à nossa economia psíquica. De alguma forma secreta, Tânatos, além de se opor a Eros, também o nutre. Os dois princípios atuam em oculta harmonia; embora Eros predomine na maioria de nós, em ninguém Tânatos está totalmente subjugado.
"Aquela menina que o desprezo gerou, aprendeu a ser amor, pois conhecia bem o que era dor. Não usava rosa porque era clichê, gostava do preto e marcava os olhos na frente do espelho, no bolso, carregava abraços apertados pra todos! Aquela menina, era uma mulher, que escondia suas dores pra curar a dor de um outro qualquer."
"A vivência nos traz algumas rugas e sinais de cansaço, são as minúcias de um plano físico, mas o milagre da vida em seu complexo misterioso, nos mostra que o exterior é apenas uma simples roupagem, que se gasta e finaliza, porém, o nosso interior continua e se eterniza, pois acredito que somos feitos de pura energia!"
Héstia e Hermes representam idéias arquetípicas do espírito e da alma. Hermes é o espírito que põe fogo na alma. Nesse contexto, Hermes é como o vento que sopra a brasa no centro da lareira, fazendo-a acender-se. Do mesmo modo, as idéias podem excitar sentimentos profundos, ou as palavras podem tornar consciente o que foi inarticuladamente conhecido e iluminado o que foi obscuramente percebido.
A ideia de autoridade feminina está tão profundamente fixada no subconsciente humano que mesmo depois de todos estes séculos de direitos do pai o filhinho instintivamente considera a mãe como a autoridade suprema. Ele olha para o pai como igual a ele mesmo, igualmente sujeito à regra da mãe. As crianças têm que ser educadas para poder amar, honrar, e respeitar o pai, uma tarefa usualmente adotada pela mãe.
Os Homens insistem que não se importam que as mulheres sejam bem sucedidas contanto que elas conservem sua "feminilidade". No entanto, as qualidades que os homens consideram "femininas": timidez, submissão, obediência, tolice, e auto-depreciação — são exatamente as qualidades mais garantidas para assegurar a derrota da mais talentosa aspirante.
O fato é que os homens necessitam das mulheres mais do que as mulheres necessitam dos homens; e então, ciente deste fato, o homem tem procurado manter a mulher dependente dele economicamente como o único método disponível para ele fazer-se necessário para ela. Como no início a mulher não se tornaria sua escrava voluntária, ele tem feito ao longo dos séculos uma sociedade na qual a mulher deve servi-lo para sobreviver.
Não é com os homens que a maioria das mulheres se preocupam quando elas se levantam em defesa ao status quo. Seu aparente endosso à supremacia masculina é, antes, um esforço patético por auto-respeito, auto-justificação, e auto-perdão. Depois de mil e quinhentos anos de sujeição aos homens, as mulheres Ocidentais acham quase insuportável encarar o fato de que têm sido enganadas e escravizadas por seus inferiores — que o senhor é menos que a escrava.
A disciplina é uma parte importante do processo. As pessoas não gostam dessa palavra, pois associam a disciplina com opressão. Mas na verdade, disciplina tem a mesma raíz de discípulo, que significa se enxergar pelos olhos do mestre que o ama. Temos esse mestre dentro de nós e temos também o animal selvagem que precisa ser disciplinado com amor. Precisamos de sua energia instintiva e sabedoria.
Cultivar a alma é permitir que a essência eterna penetre e experimente o mundo externo por todos os orifícios do corpo: vendo, sentindo o aroma e o sabor, ouvindo, tocando - de tal maneira que a alma cresça durante sua permanência na terra. Cultivar a alma é descobrir-se um ser eterno habitando um corpo temporal. É por isso que sofre e aprende pelo coração.
Quando falo em amor romântico, não estou falando de mandar flores, mas de um amor idealizado, irreal. Você conhece uma pessoa, idealiza e lhe atribui características que ela não tem. Passa a vida toda querendo mudá-la e, no fim, percebe que é impossível. Para piorar, o amor romântico prega uma grande mentira, que é “quem ama não sente desejo por mais ninguém”. Nessa concepção enganosa de amor, não nos apaixonamos pelo outro, mas pela própria paixão.
O fato que todas nós somos treinadas da infância em diante para sermos mães significa que nós todas somos treinadas para devotar nossas vidas aos homens, quer eles sejam nossos filhos ou não; que todas nós somos treinadas a forçar outras mulheres a exemplificar a falta de qualidades que caracteriza a construção cultural da feminilidade.
Para uma mulher, o amor é definido como sua boa vontade para se submeter a sua própria aniquilação… A prova de amor é que ela está disposta a ser destruída por aquele que ela ama, pelo seu bem. Para as mulheres, o amor é sempre auto-sacrifício, sacrifício de sua identidade, desejo e integridade de seu corpo; para que satisfaça e se redima diante da masculinidade de seu amado.
No tempo em que somos mulheres, medo é tão familiar para nós como ar. É o nosso elemento. Nós vivemos nele, nós inalamos ele, nós exalamos ele, e na maioria do tempo nós nem notamos isso. Ao invés de "Eu tenho medo", nós dizemos, "Eu não quero", ou "Eu não sei como", ou "Eu não posso".
Já discuti muito sobre isso (novamente: não comecei ontem); existe um desafio básico em fazer literatura de gênero e fazer "alta" literatura (sim, ainda acredito nisso). Como respeitar as convenções do gênero sem recorrer (apenas) a clichês, como fazer "alta" literatura sem provocar apenas estranhamento, e sim respostas objetivas (no caso do terror, "provocar medo"). É um desafio que eu mesmo (como autor) acho que não consegui vencer. Mas eu prefiro criar o estranho, a dificuldade, do que recorrer a uma literatura rasa.
Meus temas e meu universo não são convencionais no meio literário. Minha aparência também não. Por um lado, essa desconfiança vem diminuindo, porque já tenho mais de dez anos de carreira, oito livros, não sou mais um garotinho. Mas também me sinto mais confortável para ousar, tanto no discurso, na aparência, quanto no texto.
Minha escrita era mais apaixonada, espontânea. Com o tempo, ficou mais cerebral – atualmente se apoiando mais em pesquisa. Acho os dois momentos importantes. Na literatura valoriza-se muito a experiência, a maturidade, a velhice, mas há algo da paixão, da energia da escrita do jovem, que é fascinante – e isso eu já perdi. Então não tenho nada a ensinar ao meu eu-jovem – talvez ele é que tenha.