Pequenos textos
Somos como um livro esquecido nas areias do tempo. Somos pó, um pedaço de papel, a magia em forma de palavras. Fazemos parte do desconhecido, adormecemos na penumbra perpétua. Somos ignorados, somos a capa cor de vinho que não condiz com as letras douradas. Talvez não somos nada, nem ninguém, para alguém. Mas sempre existe um outro alguém e esse ninguém nos encontrará. Seremos folheados e nossos lábios dirão o que as palavras insistem em negar: um romance, que se desvenda além do corpo e da mente. Não é para ser lido, mas sentido.
Eu preciso disfarçar que não sinto mais falta. É sombrio isso, a saudade não é um parque de diversões, é como um fósforo riscado diante do combustível. Tudo explode, a vida torna-se uma pilha de cascalho e você se arrasta entre os cacos da dor refletida em milhares de espelhos. O vazio te alcança e a pessoa em questão desaparece de vista no outro lado da alma.
Ser confiante em algo tem lá suas desvantagens. O fato de confiar nas pessoas que estão presentes em seu círculo vicioso faz de você um ser ingênuo. Mas se isso é algo bom, restam algumas montanhas para serem escaladas e objetivos para se cumprir. Você certamente não deixou todas as suas cicatrizes neste planeta, está apenas começando.
Tenho desistido de muitas coisas, mas não de mim mesmo. Sei o que não vale a pena, o que não me completa. E se continuo indo a algum lugar é porque restaram alguns sonhos. Ninguém vive só de pessoas e reciprocidade, elas se vão e amor enche de erva daninha. Não é uma dor física, é algo que rasga a alma e rabisca o papel. Simples assim, as palavras saem como um tiro de canhão, não desejam mais nada, apenas vitalidade. Amor próprio é aquele que você encontra quando tenta carregar um peso vazio, um peso que nem sempre condiz com a sua tristeza.
Quem me dera fosse drama o que estou sentindo, embora passe bem longe disso. São crises de orgulho misturadas com doses de incerteza. É saber que tanto me importei com alguém que pouco se lixou. Meu bem, eu tenho vontade de revirar essa sua cabeça de borboleta e deixar um recado nada gentil lá. Seria algo assim: sua idiota, eu te amava.
Vejo o espelho e encontro eu mesmo. Nesta jaula mental eu permaneço aprisionado. Olho para minha criança interior e sussurro: cuidado com os sonhos. E eu seguro ela para ela não chorar, diante de olhos que se tornaram geleiras. Minha fraca respiração guia o vento, enquanto eu destruo o inquebrável. Liberdade, para um coração que é um oceano e pensamentos que são uma galáxia. Apenas observo os imbecis, porque é assim que me sinto: perdido, nessa selva sádica onde todos falam, mas ninguém entende nada.
Sei que é errado. Estou esperando um amanhã, uma pessoa certa, um dia que pode não chegar. Talvez um dia eu esteja com 50 anos, sem amor, sem ninguém, aguardando pétalas caírem do teto por tentativas que nunca fiz. Não haverá uma família para relembrar de mim ou alguém para sussurrar meu nome. E tempo não volta, muito menos arrependimento pra corrigir algo.
Minha vida está no silêncio. Não tenho problema algum em falar com pessoas ou ouvir músicas com letras agitadas, mas eu sei que em determinado momento a faixa perde a graça e a humanidade torna-se um grande poço de chatice. Quero estar só, sem ninguém para me perturbar. O sol só se esconde de verdade quando eu o transformo numa sombra.
Qualquer felicidade dura apenas um pequeno momento. Ela se vai como uma folha carregada pelo vento ou como um raio que ilumina o horizonte. A felicidade que me refiro não cabe numa única palavra, é um abraço seu que pode simplesmente desaparecer como um pássaro no céu. E quer saber, essa felicidade está muito distante, mas para toda distância existe um ponto de encontro. É esse ponto que eu preciso alcançar.
Olha só, você sempre disse que não daríamos certo por causa das diferenças, por menores que elas fossem. E por ironia, foi esse julgamento que nos afastou. Não era preciso ser nenhum gênio para perceber que a diferença entre um remédio e o veneno é a dose, a diferença entre vencer e perder é a vontade e que a diferença entre os opostos é apenas uma questão de aceitação. Mas agora, quem não quer juntar as extremidades e entender sobre fatos sou eu, afinal, passamos a ser distantes quando a falta de igualdade vira falta de interesse.
Quando se está só por muito tempo, é perigoso demais buscar companhia sem entender o que se deseja, é como enfiar seu braço numa caixa cheia de serpentes esperando tirar de lá felicidade. Não adianta, o veneno da solidão corrompe seu ego se você não amar a si mesmo. E outra, é inviável estar com alguém somente por estar, a confiança torna-se uma droga alucinógena.
Foi muito bonito ver você sorrindo, sou apaixonado por isso. É imaginação, é real, é ilusório, é sentimento. É tudo que acontece de verdade sem ninguém para dizer o contrário. Sorrisos são como torres que me protegem dos destroços de mais um dia inútil. É, não posso negar, não mesmo. Um até mais foi a coisa mais gentil desde que seus olhos se perderam nos meus.
O tempo passa e as lembranças ficam. Muita coisa que deveria ter virado pó, mas que insiste em arrancar alguns sorrisos amanhã será apenas um motivo para seguir em frente, assim como toda tristeza será um porto seguro para se atracar. Perdoar e ser perdoado é árduo, mas não impossível. Só o simples fato de recostar a cabeça no travesseiro deveria trazer alguém de volta, mas não traz. É assim mesmo! Não adianta gritar para a saudade, ela é um silêncio que se desperta com o primeiro bocejo de bom dia.
É assim que me sinto. Depois de pensar que as pessoas estariam te abraçando, elas estavam lá numa festa, rindo, te abandonando. Ou sei lá, homens, mulheres, quantas vezes dizem que amam você e mais 10 pessoas junto? Eu não sei. As pessoas que enchem tua paciência porque você sequer diz bom dia são as mesmas que se esqueciam de dizer boa noite lá atrás. Esse amor que não dá pra suportar, tão falso que uma solidão junta do chão do quarto é a melhor coisa a se fazer.
Acontece esse mal, essa tristeza, esse desânimo de carregar os cacos pra ver se mudamos algo. E sempre mudamos, mudamos ao olhar a chuva cair na janela, ao caminhar, ao pensar que somos os mesmos, ao sorrir com a chegada de um novo alguém. Sempre faremos esse papel de trouxa, mas de vez em quando dá vontade de dobrar ele, guardar no bolso e ir atrás de abraços como o seu. Eu sei que sou idiota também, eu sei, eu preciso de algo pra me sentir assim.
Às vezes me lembro de quem partiu. Um, dois. Silenciosos, sem dizer adeus algum. Essa era a triste verdade, todos viraram pó na memória. Mas por fim, eu não saberia dizer se eles me procuraram, sentiram minha falta ou fingiram não precisar. Essas três verdades absolutas não explicavam grandes coisas. Aliás, não explicavam absolutamente nada. E eu? Eu tentando entender de tudo, sabendo de menos.
E então, já havia acontecido tanta coisa. Caído no fundo do poço, discutido com o vento, retornado do além do tempo, aberto um frasco de saudade, chorado para não se afogar. Tudo isso, coisas que de fato pareciam ser o ideal ou os ideais. Não havia muito mais a se fazer. Era uma guerra contra você, e no meio de um tiroteio a única alternativa era sair com os braços para cima, correndo para ser destrinchado ao seu lado.
Estou recluso, distante de pessoas e com poucas coisas. Sei bem o valor que os mais próximos possuem. Apenas me completam, animam e me fazem prosseguir. O caminho é meu, mas as marcas trilhadas não pertencem somente a mim. Confesso que enquanto admiro alguns de coração, gostaria de sair por ai despedaçando outros ou sei lá, mostrar para cada imbecil o quanto valemos à pena e que pessoas são únicas. Mas infelizmente, apenas existimos enquanto alguém precisa de nós.
A folha de papel insistia em ficar vazia, não existiam palavras para descrever o irretratável. Pior era com a vida, tudo fragmentado, indeciso, um novo dia que precisava ser consolado ou sentido. Era quase uma certeza, procurar por alguém, entender por alguém. Mas não era o suficiente, o mosaico era eu e as cinco mil peças de dúvidas eram minhas. Queria que estivesse aqui, mesmo não estando. E isso nem é algo tão bom assim. Vivo do indizível, do inimaginável, insistindo em bater na mesma porta que não se abre nunca.
Não despeje dor em quem não se importa, por mais que isso pareça inexplicável. Todos carregam essas poças de medo onde pisam e acabam afundando na própria desgraça. Seus bons olhos podem compartilhar a felicidade, mas por que não devem compartilhar a tristeza? Cuidado ao se afogar sozinho, tudo que é guardado para si apodrece com o tempo. Explique-se com calma, sem chutes nem socos. É inegável que certas coisas doem pra caramba, mas sempre existe alguém disposto a desatar parte dos nós existenciais, jogando os cacos de agonia cortantes na lixeira.