Pequenez
Percebi a minha pequenez quando vi meu erro e por poder mudar o ângulo e percebe-lo, descobri a minha grandeza....
GINA
Ela é de uma pequenez
No seu tamanho chinês...
Mas bem de perto
Quando se mostra
Sua sombra vai às costaneiras,
Se curva nas ribanceiras,
Até chegar no luar.
Ela é de uma timidez
Com sua voz de escassez
Mas quando ela fala
Enche-se o mundo de música...
E quando sussurra no meu ouvido
Já tenho me recaído.
A mulher única, é como ela
E todas são tão iguais...
Mas é do mais
Que ela tem,
Do tanto que ela faz.
E é de tudo, que existe
Dentro de um átomo.
Mas não me iludo.
Todos têm suas miragens!
E não sou surdo
Nem calo de afonia.
Seguramente sei distinguir
A fruta doce
O fruto travo
Quanto mais tento compreender o tamanho do cosmo e minha pequenez intergaláctea, passo a questionar, teimosamente, minha própria existência... mas quando, subitamente, meu pequeno filho se vira pra mim, e se lança num abraço cósmico... pronto, tudo passa a fazer sentido.
É na imensidão do nada que percebemos a nossa pequenez. Mergulho profundo no vazio absoluto quando o pensamento me deixa. E procurando me agarrar a qualquer fragmento que possa encontrar nesse espaço, percebo que nada sou e que são as coisas que me completam. Sinto-me perdida, tenho tudo do nada, mas de tudo me falta para eu ser completa. Minha mente vazia é um tormento; preciso de pensamentos para que eu possa voltar e ser algo.. alguém.. de novo.. que eu pensava que existia!
O Galo
Impotência, inutilidade, medo, pequenez. Chame como quiser. A verdade, é que as palavras jamais conseguirão expressar com exata precisão o que eu sinto ao ver aquilo. O que? Um galpão. Um imenso, fedorento e decadente galpão. Milhares de olhos tristes emolduram os rostos grandes. Bolas negras de inocência dilaceram meu coração em bilhões de pedaços. São os olhos da carne. É a comida demonstrando sentimentos adversos, tentando impor, de forma inútil, a vida que nunca lhes pertenceram.
O que acontecerá depois de hoje? A quem pertencerão?
Um futuro incerto, recheado de crescimento econômico está sendo pactuado em contratos legais de compra e venda. Eles não são animais, são coisas. Bens que nos pertencem e podem ser vendidos, assassinados, comidos ou amados. Nas jaulas frias, flashs de câmeras fotográficas inibem uma psique descontrolada. O bico frenético do galo negro morde, com demasiada ansiedade, meus dedos trêmulos.
“Você vai ficar bem”, tento dizer de forma inútil, enquanto percebo a mentira que escorre pela minha fina linha de voz. Falo como um sopro. As lágrimas me veem aos olhos, transformando diversos sentimentos em uma gota de agua palpável, a matéria da minha subjetividade não compreendida. O galo tem o olho esquerdo machucado, as patas são enormes, o corpo beira o absurdo. Hormônios. O animal foi vendido por quinhentos reais, as placas indicam que ele é o vencedor no quesito de reprodução de matrizes. Misturar raças e rações é o segredo para essa geração de aves mutantes. Claro, precisamos de galinhas fortes, recheadas com proteínas induzidas para nos dar alguma dose de energia. Mas ele não sabe, não percebe. Seu instinto diz que precisa reproduzir, seu corpo pede por comida, seus olhos ardem. O estresse diminui sua produtividade como galo. Meu Deus, será que o galo sabe que é galo? Acho que não. Está perdido na escola do professor Xavier para super dotados. O galo é um super galo. O galo me bica, pra tentar impor sua grandiosidade. O galo é apenas o galo que engole medalhas pela garganta e, ainda assim, não deixa de ser galo. Mas eu, a garota de fora que esconde o choro, sei que ele é apenas um galo que foi induzido a ser, literalmente, grandioso.
Vou embora, me despedindo daquele ser perturbado. Dobro à direita e encontro mais jaulas. Gaiolas pequenas enfestadas de animais sensíveis de pelugem branca reluzente. Eles são os melhores no quesito de pelugem, os melhores no quesito de carne, os melhores no quesito de venda. São coelhos. As orelhas pontiagudas saem por fora dos buracos minúsculos, os flashs desafiam a capacidade visual dos animais, induzindo-os a um estado de torpor. Os corpos trêmulos demonstram fragilidade. As placas brancas de madeira rústica, demonstram preços. Eles são separados de acordo com seus quesitos mais impressionantes. Crianças se amontoam à minha frente, com os dedos pequeníssimos a tocar-lhes o pelo premiado. Mães sorriem, tiram fotos, explicam a vida do ser que está enjaulado como algo banal, um destino certo, uma beleza que está ali para ser vista e depois esquecida. Nada de nos aprofundarmos. Corações tão rasos quanto seus interesses. Eles são a base sólida de um mundo já corrompido, a ignorância em massa que carregará para sempre os mais aptos nos ombros. A ignorância que alimenta a violência, que educa com cegueira, que vive em vão, que morre sem orgulhos.
Ao lado, uma loja de roupas vende casacos de pele, paralelo a uma loja de filhotes de chinchila. Mais fotos, mais crianças. O peso de não se ser ignorante em uma terra enfestada de burrice. Tento sair dali, trancar minha respiração, fechar meus olhos. Temo não suportar o abismo que se abre em frente aos meus passos febris. Mas suporto. Suporto o suficiente para chegar até o galpão ao lado, onde o meu principal destino se encontra: os bovinos.
Nada de jaulas, nada de flashs. Aqui, há somente vacas, bois e cheiro de estrume. Placas enormes indicam os melhores matadouros, a melhor vaca para alimento, o melhor touro para reprodução. Cartazes esplendorosos exibem, com certa soberba, o orgulho de um boi em especial. Não lembro com exatidão o nome dele, mas sei que era muito, muito especial. Seu Sêmen foi vendido para dois continentes. Sua espécie, sua raça, ou sei lá o que, eram do mais alto escalão de linhagem bovina. Se você quer carne macia e animais dóceis, venha até mim. Se você quer animais submissos e uma linhagem mais rápida, venha até mim. Meu boi é o melhor e maior reprodutor do mundo. Venha até mim.
Eu vou.
Vou até o boi de quem tanto falam e não vejo nada além de um boi. O boi que, de tanto ser exaltado como boi, também pode se ter esquecido de que era boi. Mas eu... Ah, eu sabia que ele era um boi. Ele não me vê, estava ocupado demais regurgitando aveia. Mas eu estava lá. E eu via. O tamanho anormal, o pelo excessivamente penteado. O principal objeto de consumo, a melhor propaganda possível do objeto mais caro. O capitalismo agindo na sua forma mais pura para manipular a pecuária de que tanto dependemos. Continuo olhando e vejo apenas um boi. Um boi lotado de compromissos, fotos, folders, medalhas, filhos e linhagens inteiras de comida. Ao lado, mais bois. Todos os tipos de bois. Não conheço raças nem nada, mas sei distinguir cores. Bois brancos, bois marrons, bois pretos. Todo tipo de boi. E todos os bois que eu vi, devolviam o olhar meio incerto. O destino que nada lhes trazia, a compaixão que não lhes era devida. Olhos tristes. Bolas negras, repletas de mistérios e amores não percebidos. Bolas negras que continuavam a perfurar meu coração.
Será que o galo sabia que era galo ou apenas se convencia do contrário?
Por que estou começando a perceber falhas na minha identidade que não condizem comigo mesma. E, talvez, também ache que sou um galo. Na minha fraqueza, na minha pequenez. A indústria que consome meu dinheiro, de forma indireta. A pecuária que me engole pelas pernas contra a minha vontade. O mundo gira, enquanto acho que sou galo. E, nesses giros em descompasso, me perco numa identidade já não tão natural. Sou um galo que não se reconhece como galo, e, talvez por isso, me intitule como humana.
A nossa ignorância e pequenez é provada quando atribuímos ao ouro as qualidades do sol, tornamo-nos crianças, crianças egoístas, crianças míopes, cegadas pelo brilho falso do ouro que queima a vista de nossas múltiplas inteligências, em decorrência da busca incessante do conforto aos nossos cinco sentidos.
O verdadeiro valor de uma obra de arte está na pequenez dos detalhes, que aos olhos mais insistentes permitem brilhar.
Aquele que procura uma justificativa pela qual se está vivo, revela inocência infantil e pequenez de alma. Eu nasci para experimentar as flores - cheiro e toque - e escrever sobre elas.
Aquele que conta com a ajuda Divina, é mais humilde, tem consciência da sua pequenez, mas sabe que no interior da sua alma existe muita grandeza e buscam-na para enfrentar as dificuldades .
De onde te vejo... Me curvo e serro o olhar para poder te enxergar em sua soberba pequenez. De onde te vejo tem um espelho coberto de medo no canto do quarto escorado a um amontoado de vãos desejos... De onde te vejo tem um menino assustado em baixo da cama e sobre ela um homem entre os lençóis, que embora sempre acompanhado, adormeça e amanheça só.
De onde te vejo tento adivinhar se esta neblina escura que persiste em lhe acompanhar é fato dos tragos ou dos teus estragos... De onde te vejo tem choro sentido de quem nunca foi validado ou se quer ouvido.
De onde te vejo me perco no transito de sua loucura cruel que varia entre trocar as calças as meias e as mascaras, que curiosamente em meio a toda esta parafernália estão alinhadas e organizadas no centro da sala.
De onde te vejo acompanho seu apego por uma mala a qual carrega como uma prole amada, tão pesada, tão surrada tão abarrotada das mentiras que não cansa de se contar.
De onde te vejo ostenta um lindo terno alinhado, com ar de importante como aqueles que fazem os Homens... o qual contrasta com pela tão alva sem um fio de bigode.
De onde te vejo existe um algoz de barba robusta que não perde a chance de sempre rasgar as finas cortinas das tuas ilusões.
De onde te vejo parece ser cada vez mais difícil conseguir lhe encontrar ainda que me esforçando a memória, revirando a sua historia os meus olhos parecem não apreciar mais te enxergar.
De onde te vejo...
A minha pequenez, fraqueza e incompletude enquanto ser humano me fazem clamar a Deus, Todo-Poderoso, que me protege, abençoa e conduz por caminhos aprazíveis!
"O céu enfurecido vomita raios
Pra que olhar pro céu?
A pequenez é o palco
Ostentação barata vibra um simples mortal
Não enxergam além do que burrices virais"
Não queiramos ser tão grandes ao ponto de não aceitarmos a nossa pequenez. E tão pequenos sem querer descobrir o potencial que há dentro de cada um de nós. Neste momento há muitos que acreditam que são tão grandes ao ponto de dizer que o mundo foi feito somente para eles. Viver assim, é uma questão do ângulo que cada um quer enxergar a vida. Mas, só que, se estamos aqui no mundo para aprender e um dia entenderemos, que a maior riqueza é a da humildade, da simplicidade... A prova disto, é que em nossas orações, evocamos os simples e os humildades que são os anjos e não os potentados da terra. A dor e o sofrimento costumam nos mostrar na verdade, quem é pequeno e quem é grande aos olhos do criador. É só uma questão de bom senso.