Pensamentos de Mário Quintana
O homem é um bicho que arreganha os dentes sem necessidade, isto é, quando nos sorri.
Os silêncios
Não é possível amizade quando dois silêncios não se combinam.
As que ocultam o rosto quando choram é para disfarçarem que estão rindo.
Um autor, primeiro, é assunto. Mas a glória, mesmo, é quando ele vira falta de assunto.
Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.
” Querias que eu falasse de "poesia" um pouco mais... e desprezasse o quotidiano atroz... querias... era ouvir o som da minha voz e não um eco - apenas - deste mundo louco!”
(trecho extraído do livro em PDF: Baú de Espanto)
O mais espantoso nos velhos é a sua falta de pressa, como se eles dispusessem de todo o tempo que teriam os moços se não tivessem tanta pressa.
Hoje o que mais se precisa é de silêncios que interrompam o ruído.
O que mais me revolta nas matemáticas são as suas aplicações práticas.
O mais difícil na morte é acomodar-se a gente aos novos hábitos.
O mais triste nas praias de verão é que nos assemelhamos a um bando de focas tropicais.
O que mais enfurece o vento são esses poetas inveterados que o fazem rimar com lamento.
O que há de mais admirável nas democracias é a facilidade com que qualquer pessoa pode passar da crônica policial para a crônica social.
"Você procura por alguém que cuide de você quando está doente, que não reclame em trocar aquele churrasco dos amigos pelo aniversário da sua avó, que jogue “imagem e ação” e se divirta como uma criança, que sorria de felicidade quando te olha, mesmo quando está de short, camiseta e chinelo."
(...)
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
(...)
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a claraboia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio da parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo.
Mário Quintana, in Caderno H
Se eu fosse acreditar mesmo em tudo o que penso, ficaria louco.