Pensamentos de Fernando Pessoa
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés. O mesmo sempre, graças ao céu e à terra. E aos meus olhos e ouvidos atentos. E à minha clara simplicidade de alma...
Era uma princesa
Que amou... Já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...
Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,
Dormir a sorrir
E seja isto o fim.
A recordação é uma traição à natureza,
Porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Ah, a Esta Alma Que Não Arde
AH, a esta alma que não arde .
Não envolve, porque ama,
A esperança, ainda que vã,
O esquecimento que vive
Entre o orvalho da tarde.
E o orvalho da manhã
Que sei eu do que serei eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Não há normas. Todos os homens são excepções a uma regra que não existe.
A caixa que não tem tampa
Fica sempre destapada
Dá-me um sorriso dos teus
Porque não quero mais nada.
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.
Se um homem escreve bem só quando está bêbado, dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso respondo: o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto.
Bernardo Soares
Mas quem sente muito cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma, nem fala
Fica só, inteiramente