Pensamentos de Clarice Lispector
Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.
O mar é impossível de se acreditar. Só o imaginando é que se chega a ver sua realidade.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança.
Detesto que esperem por mim. Não é por delicadeza ou por medo de desapontar. É que alguém esperando por mim é um medo de não se estar só.
A esperança era o meu pecado maior.
Parece que esperança não tem olhos (...), é guiada pelas antenas.
Era cruel o que fazia consigo própria: aproveitar que estava em carne viva para se conhecer melhor, já que a ferida estava aberta.