Pensamentos de Clarice Lispector
Fiquei de novo diante de mim, boba. Não sei o que fazer. Que sou? Realmente, não posso nem de longe escrever como escrevo. Ou deixo definitivamente de escrever ou escrevo de outro modo. Não posso ficar em arabescos. Se eu não tenho mais nada a dizer, que eu morra.
Cada vez mais acho tudo uma questão de paciência, de amor criando paciência, de paciência criando amor.
Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém
despeja um balde de água no terraço: sábado ao vento é a rosa da semana. Sábado de manhã é
quintal, uma abelha esvoaça, e o vento (...)
Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana.
Acho que loucura é perfeição. É como enxergar. Ver é a pura loucura do corpo.
Acho que viver no Nordeste ou Norte do Brasil é viver mais intensamente e de perto a verdadeira vida brasileira que lá, no interior, não recebe influência de costumes de outros países.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Meu Deus, e eu que não sei rezar? Como viver então? Não é só para pedir por mim e por outros, mas para sentir, para agradecer, para de algum modo entrar num convento, logo eu que sou tão colérica e feroz.
Eu, que fabrico o futuro como uma aranha diligente. E o melhor de mim é quando nada sei e fabrico não sei o quê.
Entrego-me ao doce convívio da eternidade. Mas esta eu não sei se mereço.
Eu agora sei pensar em nada. Foi uma conquista. Não pensar significa o contato inexprimível com o Nada.
Como conseguirei saber do que nem ao menos sei?
Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
Nota: Trecho ligeiramente adaptado do original.
...MaisAmar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
Que medo alegre, o de te esperar.
Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência, e sim de sentir...