Pensamentos de Bocage

Amores vêm e vão, mas o verdadeiro amor nunca sai do coração.

Triste quem ama, cego quem se fia.

Morrer é pouco, é fácil; mas ter vida
Delirando de amor, sem fruto ardendo,
É padecer mil mortes, mil infernos.

Se amor vive além da morte.
Constância eterna hei-de ter;
Se amor dura só na vida,
Hei-de amar-te até morrer.

Os amantes são assim: Todos fogem à razão.

Vai sempre avante a paixão,
Buscando seu doce fim;
Os amantes são assim:
Todos fogem à razão.

Cantando a vida, como o cisne a morte.

Amor em sendo ditoso
Costuma ser imprudente,
E nos gestos de quem ama
Logo o vê quem o não sente.

Nas paixões a razão nos desampara.

Só tu, meu bem, me arrebatas
A vontade, o pensamento;
Vivo de ver-te e de amar-te,
E detesto o fingimento.

Quase tudo que é raro, estranho, ilustre, da vaidade procede.
Nas paixões a razão nos desampara.
A frouxidão no amor é uma ofensa.
Quem é muito amado, não é muito amante.

Por entre a chuva de mortais peloiros
A nua fronte enriquecer de loiros
Eu procuro, eu desejo,
Para teus mimos desfrutar sem pejo,
Pois quem deste esplendor se não guarnece,
Não é digno de ti, não te merece.

Fantasmas do Terror (...)
Tristes combinações (...)
Já não sois meus tiranos

A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo.

Quando recente o sol caiu na esfera
cristalina e serena
(...) surgiram flores,
Flores que não murcharam

Os homens não são maus por natureza
Atractivo interesse os falsifica,
A utilidade ao mal, e ao bem o instinto
Guia estes frágeis entes

Tu, que benigno raio
Derramas neste horror, neste amargoso
Domicílio dos males?...

A mente, a liberdade, a luz e a vida
Neste horror sufocados

Eu, que não satisfeito
De combater, de triunfar na Terra,
Convosco tenho feito
Aos próprios Céus inevitável guerra

Infeliz! Que arrogância,
Que imprudência, que fado ou que desdita
Te guia à negra estância
Aonde o tempo com a Morte habita?