Pensamentos de Agostinho de Hipona
E que pretendo dizer-te, Senhor, senão que ignoro de onde vim para aqui, para esta não sei se posso chamar vida mortal ou morte vital? Não o sei. Mas receberam-me os consolos de tuas misericórdias, conforme o que ouvi de meus pais carnais, de quem e em quem me formaste no tempo, pois eu de mim nada recordo.
(Confissões)
Nossa vida desceu para esta terra e levou embora a morte, matou a morte
com a abundância da vida: e Ele reclamou chamando-nos para voltar para Ele,
para aquele local secreto do qual Ele viera direto para nós - primeiro no útero da Virgem, no qual a humanidade uniu-se a Ele, nossa carne mortal, nem sempre destinada a ser mortal.
Ele não tardou, mas apressou-se, chamando-nos por sua morte e sua vida, por sua vinda e sua ascensão, para voltarmos a Ele.
E Ele retirou-se de nossa visão para que pudéssemos voltar ao nosso próprio coração e encontrá-lo.
Como Ele se afastou, ainda está próximo. Ele não está conosco e nunca nos deixou.
Um corpo, formado de membros todos belos, é muito
mais belo que cada um dos seus membros de cuja
conexão harmoniosíssima se forma o conjunto,
posto que também cada membro separadamente
tenha uma beleza peculiar.
Portanto, creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço.
Um homem bom é livre, mesmo quando é escravo. Um homem mau é escravo, mesmo quando é rei. Não serve a outros homens mas a seus caprichos. Tem tantos senhores quantos vícios.
Que és, portanto, ó meu Deus?
Tao oculto e tão presente, formosíssimo e fortíssimo, estável e incompreensível; imutável, mudando todas as coisas; nunca novo e nunca velho; renovador de todas as coisas, conduzindo à ruína os soberbos sem que eles o saibam; sempre agindo e sempre repouso; sempre sustentando, enchendo e protegendo; sempre criando, nutrindo e aperfeiçoando, sempre buscando, ainda que nada te falte.
(Confissões)
O mistério da Santíssima Trindade cristã é o mistério do
amor Divino. Você vê a Santíssima Trindade, se você vê
o amor [Deus é ágape].
A alma dá ordens ao corpo e é imediatamente obedecida. A alma dá ordens a si mesma e depara com resistências. A alma ordena que a mão se mexa, e é uma operação tão fácil, que mal se distingue a ordem de sua execução. E, no entanto, a alma é alma e a mão é corpo. A alma dá à alma a ordem de querer: uma não se distingue da outra e no entanto ela não age. De onde vem esse prodígio?
Razão: Tu que queres conhecer-te
a ti mesmo, sabes que existes?
Agostinho: Sei.
Razão: De onde sabes?
Agostinho: Não sei.
Razão: Sentes-te como
um ser simples ou múltiplo?
Agostinho: Não sei?
Razão: Sabes que te moves?
Agostinho: Não sei.
Razão: Sabes que pensas?
Agostinho: Sei.
Razão: Portanto,
é verdade que pensas.
Agostinho: Sim.