Parabéns Mãe
Assentei o amor pelos meus nessa dádiva de sangue, assim como a mãe assenta o seu amor no leite que dá. É aí que reside o mistério. É preciso começar pelo sacrifício para alicerçar o amor.
"Foi quando a minha mãe me disse que comprou um edredon de algodão 100% solteira que eu me senti sozinha."
MEDITAÇÃO DIÁRIA
Talvez sua mãe tenha falado com você antes de você nascer. E eu estou convencido que você escutou essa fala e respondeu. Talvez tenha ocontecido que ocasionalmente ela esqueceu que você estava lá. Por isso talvez você tenha dado um chute nela para lembrá-la. Seu chute era um sino de plena atenção. Se ela estava praticando plena consciência, ela poderia ter dito: "Querido, eu sei que você está aí, e eu estou muito feliz." Este é o primeiro mantra. Mesmo que ela não tenha dito isso ou soubesse disso, seu corpo respondeu, fazendo o que fosse necessário para que você fosse nutrido.
Quando você nasceu, alguém cortou seu cordão umbilical. Provavelmente você chorou muito pela primeira vez. Agora você tinha que respirar por si mesmo. Agora você tinha que se acostumar com a luz ao seu redor. Agora você experimentava fome pela primeira vez. Você estava fora de sua mãe, mas ainda de certo modo dentro dela. Você ainda era dependente dela e pode ter se nutrido nos seus seios. E embora o cordão não estivesse ligando vocês, você estava ligado a sua mãe de uma maneira muito concreta, muito íntima.
Cuida do presente, minha mãe dizia, porque é nessa estação que você vai passar o resto de sua vida.
Mãe, são três letras apenas as deste nome bendito
Também o céu tem três letras e nelas cabe o infinito.
Você não é linda. Linda é sua mãe, que gerou a ternura. Você é maravilhosa, ultrapassa a estética, sua alma transparece.
Mãe...
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do céu
E apenas menor que Deus
Minha mãe dizia que eu era como a água. A água abre caminho mesmo através da rocha. E diante de algum obstáculo, ela encontra outro rumo.
A certeza que amar enlouquecia, corroía, dava medo, dava um ciúme filho da mãe, dava uma saudade idiota de mulherzinha romântica, uma vontade besta de estar junto o tempo todo como uma mulherzinha sem vida própria.
Ser mãe
Ah, ser mãe é difícil; não existe filho que não tenha dito um dia - ou pelo menos pensado - "não aguento minha mãe", e o pior: com toda razão. Há coisas a ser evitadas para que eles nos odeiem o menos possível.
Toda mãe tem vontade de telefonar para o filho pelo menos duas vezes por dia.
Meu conselho: não telefone. Deixe seu filho em paz, mas esteja sempre à disposição, a qualquer hora do dia ou da noite, para ouvi-lo reclamar do trabalho, da mulher, do filho que ele descobriu fumando um cigarro ou coisas do gênero.
Quando ele disser que vai viajar, não pergunte jamais - jamais - o dia em que voltará. Se não resistiu e perguntou, não telefone para ele no dia da chegada, antes de ele ligar, ou corre o risco de ser vítima de alguma atrocidade, e todas somos; ou não?
A mãe ideal é aquela que não dá palpite sobre nada, a não ser quando consultada e, mesmo assim, tomando o maior cuidado com o que vai falar.
Se ele se queixar da mulher, não aproveite para dizer tudo que está atravessado na sua garganta desde o dia em que ele te abandonou por ela.
Ouça tudo, mas fique muda, porque eles vão fazer as pazes e vai sobrar para quem? Não tente seduzir seu filho com propostas do tipo: "Domingo vou fazer aquele cozido que você adora, quer vir almoçar?" Se quiser ser mesmo uma mãe maravilhosa, mande levar na casa dele aquele bolo de laranja feito no tabuleiro, com cobertura de açúcar e limão, mas não telefone para saber se ele gostou.
Quando ele ligar - se ligar - para dizer que adorou, não peça o tabuleiro de volta; esse, nunca mais.
Tem hora pra tudo na vida, inclusive - e principalmente - para mãe.
Dê um tempo: ninguém suporta ser tão fundamental à felicidade do outro, como as mães costumam deixar claro. É verdade, mas nem todas as verdades precisam ser ditas.
Quer saber o que é uma mãe confortável? É aquela que tem vida própria: ou joga pôquer e ninguém vai tirá-la da rodinha de sábado, ou tem um namorado que não vai deixar, nem morta, para cuidar dos netos, ou tem um gato que não pode ficar sozinho.
É claro que ele vai reclamar que não conta com você para nada; vai ser acusada de ser egoísta, mas, se pudesse escolher entre uma mãe que sufoca e a que vive e deixa viver, sabe qual ia preferir? Pois é isso mesmo.
Goste dele mais do que tudo neste mundo, mas não diga nada.
E não fique triste ao constatar que ele se importa mais com seus próprios filhos do que com você: a vida é assim, e o amor de cima para baixo - de mãe para filho - é muito maior do que aquele de baixo para cima - de filho para mãe.
Ele também vai ficar triste quando perceber um dia, já avô, que seus filhos gostam muito mais dos seus próprios filhos do que dele, o que é natural.
E isso não é bom, nem ruim, nem justo, nem injusto: apenas é.
Eu tenho o costume de sofrer muito por esperar dos outros uma atitude que não vem. Pode ser da mãe, do pai, do amigo, do colega de trabalho, do namorado, do mosquito que faz barulho chato no ouvido no meio da noite. Eu espero porque eu faço. Me dou de bandeja, mas nem sempre consigo me perdoar. E preciso entender que as coisas não vão ser como eu quero.
Se você quer saber realmente se está grávida, não faça teste, conte para a sua mãe. Ela sabe quando você está ou não mentindo.
Mariama
Mariama, Nossa Senhora, mãe de Cristo e Mãe dos homens!
Mariama, Mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da Terra.
Pede ao teu filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.
Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavra, não fique em aplauso.
Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem.
Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão. É Evangelho de Cristo, Mariama.
Claro que seremos intolerados.
Mariama, Mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grande problemas humanos.
Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões.
Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é Paz.
Basta de injustiça!
Basta de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar.
Basta de alguns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano.
Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.
Mariama, Senhora Nossa, Mãe querida, nem precisa ir tão longe, como no teu hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e o pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico.
Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhor e sem escravos. Um mundo de irmãos.
De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama.
A criança segue os passos da mãe, lhe confiando o caminho, porém eu sigo os passos de Cristo, lhe confiando minha vida.
Lerdeza
A frase que o Everton mais ouvia da mãe era "levanta e vai buscar", geralmente seguida de um epíteto, como "seu preguiçoso" ou, pior, "lerdeza". Porque o que o Everton mais fazia, atirado no sofá na frente da TV na sua posição de costume (que a mãe chamava de "estrapaxado"), era pedir para lhe trazerem coisas. Uma Coca. Uns salgadinhos...
- Levanta e vai buscar!
- Pô, mãe.
- Lerdeza!
O Everton já estava com quinze anos e era uma luta convencê-lo a sair do sofá e ir fazer o que os garotos de quinze anos fazem. Correr. Jogar bola. Namorar. Ou pelo menos ir buscar sua própria Coca.
- Esse menino um dia ainda vai se fundir com o sofá...
Everton não queria outra coisa. Ser um homem-sofá. Um estofado humano, alimentado sem precisar sair do lugar. E sem tirar os olhos da TV. E como era filho único, e insistente, sempre conseguia que lhe trouxessem o que pedia. Quando não era a mãe, sob protestos ("Toma, lerdeza, mas é a última vez") era Marineide, a empregada de vinte e poucos anos cujo decote era a única coisa que fazia o Everton desviar os olhos da TV, e assim mesmo por poucos segundos.
***
Um dia, estrapaxado no sofá, o Everton se deu conta de que estava sozinho em casa. A mãe tinha saído, o pai estava no trabalho, a Marineide de folga, e ele sem ninguém para lhe trazer uma Coca, uns chips de batata e uns Bis. Levantar-se e ir buscar estava fora de questão.
Fechou os olhos e concentrou-se. Concentrou-se com força. Depois de alguns minutos, ouviu ruídos vindo da cozinha. A geladeira abrindo e fechando. Uma porta de armário abrindo e fechando. Depois silêncio. Quando abriu os olhos, a Coca, os chips e os Bis pairavam no ar, à sua frente. Ele só precisou estender a mão.
No dia seguinte, Everton testou seu poder recém-descoberto na Marineide, que até hoje não sabe como a sua blusa desabotoou sozinha e seu soutien simplesmente voou longe daquele jeito, e logo na frente do menino. Everton também acendeu a TV e mudou de canais sem precisar usar o controle remoto, e fez um vaso voar pela sala só com a força do seu pensamento. Apagou a TV e ficou, atirado no sofá, refletindo sobre o que significava aquilo. Ele era um fenômeno. Tinha um poder único - fazia as coisas acontecerem apenas pela sua vontade. Contaria aos pais, claro. Eles poderiam ganhar dinheiro com seu poder. O pai saberia como. Ele se transformaria numa celebridade. Cientistas do mundo inteiro o procurariam, sua capacidade extraordinária seria usada em benefício da humanidade. No combate ao crime, por exemplo. Nas comunicações. Na medicina a distância.
***
E se aquilo fosse, de alguma forma, um poder religioso? Até onde a revelação do seu dom milagroso seria um sinal de que ele tinha uma missão a cumprir na Terra? Até onde aquilo o levaria? Fosse o que fosse, uma coisa era certa. Ele teria que sair do sofá.
***
- Mãe.
- Ahn?
- Eu quero daquelas coisinhas de queijo. E uma Coca.
- Levanta e vai buscar.
- Pô, mãe.
- Tá bem. Mas esta é a última vez.
E já a caminho da cozinha:
- Lerdeza!