Para sempre

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A palavra sábia é aquela que, dita a uma criança, é sempre compreendida sem a necessidade de explicações.

Por maior vergonha que tenhamos merecido, está quase sempre em nosso poder o restabelecimento da nossa reputação.

O uso frequente da astúcia é sinal de pouca inteligência, e quase sempre quem se serve dela para cobrir-se de um lado acaba por se descobrir do outro.

A ciência permanecerá sempre a satisfação do desejo mais alto da nossa natureza, a curiosidade; fornecerá sempre ao homem o único meio que ele possui de melhorar a própria sorte.

A humanidade masculina divide-se em dois grupos: areia ou falésia. A mulher é sempre o oceano.

A beleza torna sempre a virtude mais amável.

Todo o argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias, inclusive este de que a tese favorável e contrária são igualmente defensáveis.

É sempre melhor ser otimista do que ser pessimista. Até que tudo dê errado, o otimista sofreu menos.

A verdade sempre brilha no final, quando todos tiverem se afastado.

Aquilo que os princípios têm de cômodo é que podemos sempre sacrificá-los quando é necessário.

Grandes realizações sempre acontecem em uma estrutura de grandes expectativas.

As línguas têm sempre veneno para verter.

Tão frequentemente o intelectual é um imbecil que o deveríamos sempre tomar como tal, até que nos tenha provado o contrário.

Os mentirosos estão sempre prontos a jurar.

A mulher ideal é sempre a dos outros.

A experiência mostra que os homens vão sempre para baixo, que é preciso corpos sólidos para os conter.

Os ciumentos encontram sempre mais do que aquilo que procuram.

A nascente desaprova quase sempre o itinerário do rio.

Os erros são sempre iniciais.

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes
Antologia Poética. Rio de Janeiro.1960