Para o Mundo que eu quero Descer
Eu sabia que eu pertencia ao público e ao mundo, não pelo fato de ser talentosa ou até mesmo bonita, mas porque eu nunca pertenci a nada ou a ninguém.
Eu a amo mais do que tudo no mundo, mais do que minha própria vida, e, por um milagre, ela me ama da mesma forma.
O que eu espero senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todo mundo concorde comigo.
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. –
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso.
Outro dia, fiquei pensando no mundo sem mim.
Há o mundo continuando a fazer o que faz.
E eu não estou lá. Muito estranho. Penso
no caminhão do lixo passando e levando o lixo
e eu não estou lá. Ou o jornal jogado no jardim
e eu não estou lá para pegá-lo. Impossível.
E pior, algum tempo depois de estar morto, vou ser
verdadeiramente descoberto. E todos aqueles
que tinham medo de mim ou me odiavam
vão subitamente me aceitar. Minhas palavras
vão estar em todos os lugares. Vão se formar
clubes e sociedades. Será nojento.
Será feito um filme sobre a minha vida.
Me farão muito mais corajoso e talentoso do que
sou. Muito mais. Será suficiente para fazer
os deuses vomitarem. A raça humana exagera
em tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância.
Quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria era provar para todo o mundo que eu não precisava provar nada para ninguém.
Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der.
Às vezes eu me perguntava se via as mesmas coisas que o resto do mundo.Talvez houvesse um problema no meu cérebro.
Eu sou mole demais por dentro para deixar todo mundo ver. Eu deixo para quem eu acho que pode comigo. Ninguém sabe. Mas eu tenho coração de moça.
Quando eu perder a capacidade de indignar-me ante a hipocrisia e as injustiças deste mundo, enterre-me: por certo que já estou morto.
Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
Minha mãe me deu ao mundo de maneira singular me dizendo uma sentença:
pra eu sempre pedir licença, mas nunca deixar entrar.
Eu sou antipática mesmo, o mundo tá cheio de gente brega e limitada e é um direito meu não querer olhar na cara delas, não tô fazendo mal a ninguém, só tô fazendo bem a mim.
Se o mundo fosse um trem; se a vida fosse uma passagem, se Deus existisse e eu me encontrasse com Ele, eu devolveria o bilhete.
Eu ouço música
como quem apanha chuva:
resignado
e triste
de saber que existe um mundo
do Outro Mundo...
Eu ouço música como
quem está morto
e sente
já um profundo
desconforto
de me verem
ainda neste mundo de cá...
Perdoai,
maestros,
meu estranho ar!
Eu ouço música
como um anjo doente
que não pode voar.
Se é certo que um Deus fez este mundo, não queria eu ser esse Deus: as dores do mundo dilacerariam meu coração.