Palavra Sábia
Agir é aprender a conhecer a si mesmo. As opiniões formuladas são palavras vãs, desde que não sejam sancionaldas pelo ato.
Nem vinte
Ele não gosta de cinema europeu. Não sabe o que é crème brulée, De La Guarda e nunca ouviu falar no filme "O filho da noiva".
Ele é estagiário, tem um carro cheio de apetrechos esportivos, acha Frank Sinatra um velho aí, faz questão absoluta de pagar meu almoço com ticket e, sempre que eu elogio uma roupa, um acessório ou um perfume, responde sem pudor: "Foi minha mãe que me deu."
De cada cinco palavras, uma é “irado”, outra é "bagulho" e as outras três podem ser intercaladas com "tipo assim" ou "se pá".
Se essa descrição me fosse feita há alguns meses, eu, que sempre defendi romances com experientes e articulados homens mais velhos, certamente riria e ignoraria tal existência, nem cogitando uma aproximação.
Mas o que seria da vida se o mundo não nos pregasse essas surpresas? Se o mundo não desmentisse nossas verdades absolutas? O mundo é divertido. E por falar em diversão, tenho andado de volta aos meus quinze anos.
Sempre defendi, eu e minhas verdades irrefutáveis, que os homens mais velhos e blá, blá, blá, eram os melhores na arte do acasalamento. Pois muito bem, fique com eles então, porque eu ando satisfeita demais para lembrar que eles existem.
Imaginem a minha felicidade ao ver um casal na mesa ao lado, discutindo incansavelmente a relação a dois, enquanto eu e meu menino discutíamos entre batata frita com catchup e batata frita com mostarda? Sendo que eu preferia a segunda opção e ele a primeira. Esse era o nosso conflito.
No fim acabamos misturando tudo porque, enquanto o mundo adulto pensa, a gente beija, um milhão de beijos para esquecer o mundo.
Ele tem um sorriso sem marcas, de uma doçura sem mágoas. Ele é limpo de dores do mundo. E ainda que isso torne a sua alegria um pouco sem profundidade, faz com que a superfície brilhe tanto que nada mais importe.
Ele anda o dia inteiro pra cá e pra lá, resolvendo seus problemas de estagiário com seu cabelo tigelinha, sua falta de pelos e o rosto mais lindo do mundo. E eu vou junto. O dia inteiro para lá e para cá, o dia inteiro pra frente e para trás enquanto ele vai, o dia inteiro disfarçando enquanto ele vem. O dia inteiro desejando que ele apareça para me dar vida, e que ele desapareça para me dar ar.
Você esqueceria qualquer gíria se prestasse atenção na boca carnuda, dura e bem desenhada que as pronuncia. Você esqueceria qualquer "não sei" se prestasse atenção em tudo que suas mãos, pernas e línguas sabem.
Você esqueceria qualquer colo maduro se prestasse atenção a quantas horas está naquele colo que nunca cansa, que nunca pára, que é tão jovem, macio e forte. Você esqueceria qualquer acalanto intelectual se tivesse suas costas e seus cabelos acariciados por horas, por mãos leves, por intenções leves, por momentos silenciosos jamais despertados por celulares, obrigações e cobranças da vida adulta.
Quando a voz dele, que ainda não é grossa, que ainda não é firme, sussurra para mim tudo o que eu preciso ouvir para me sentir de novo com o meu corpo de dezoito anos, eu sei que aquela é a voz que minha alma precisava. Quando ele sorri desarmado, limitado e impotente, para todas as minhas dúvidas, inconstâncias e chatices, eu sei que é daquele sorriso que minha alma precisava.
Ele não faz muito pela minha angústia existencial, até por não saber. E consegue tudo de mim. Consegue até o que ninguém nunca conseguiu: me deixar leve.
Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter ânsia de vômito segundos antes de vê-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçá-lo? Sabe não agüentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado? Ele consegue fazer com que eu me perdoe por apenas viver sem questionar tanto.
Eu quero parar com tudo isso, ele é um menino que não pode acompanhar minha louca linha de raciocínio meio poeta, meio neurótica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aí. E aí eu me pergunto: pra quê? Se está tão bom, se é tão simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tão boa.
É isso, sei que vocês vêm aqui para ler neuroses, mas estou de férias delas. Umas férias, tipo assim, se pá, iradas.
Será genuína sabedoria de vida de quem possui algo de justo em si mesmo, se, em caso de necessidade, souber limitar as próprias carências, a fim de preservar ou ampliar a sua liberdade, isto é, se souber contentar-se com o menos possível para a sua pessoa nas relações inevitáveis com o universo humano.
Porque às vezes é preciso saber engolir a lágrima. Às vezes é preciso saber engolir o próprio coração, que teima ainda em existir...
Sabe aquela pessoa que é forte o suficiente para consolar os outros, quando na verdade é ela que precisa de consolo? Pois é, essa sou eu.
...não se interrogava em saber se o amava. O amor, no seu entender, devia surgir de repente, com ruídos e fulgurações, tempestade dos céus que cai sôbre a vida e a revolve, arranca as vontades como fôlhas e arrebata para o abismo o coração inteiro. Ela não sabia que nos terraços das casas a chuva forma poças quando as calhas estão entupidas, de maneira que se pôs de sobreaviso, até que subitamente descobriu uma fenda na parede.
Se eu fosse eu, riria abertamente do que acho mais graça:
pessoas prepotentes, que pensam saber mais do que os outros,
e encorajaria os que pensam que sabem pouco, e sabem tanto.
Crônica: Se eu fosse eu - Livro: Non-Stop
A vida não vale a pena se não for vivida no presente. Passado já era e o futuro ninguém sabe, mas o presente é você quem faz. Então não fique se preocupando com o que falam de você, com a sua aparência, com coisas insignificantes. Se preocupe com quem realmente te ama. E verá como tudo ficará mais feliz.
Estás só. Ninguém o sabe.
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.
A sabedoria não requer cérebros infalíveis,mas mentes que reconhecem seus limites e sua estupidez. Cobre menos de si mesmo.
Urge preveni-los do muito que se poderia fazer, com apoio no saber científico, e do descalabro e pequenez do que se está fazendo