Ouvido
A gente complica a vida por abrir os olhos com veus da ilusao, abrir os ouvidos com ruidos no coração, abrir uma mão escondendo a outra. Queremos muito e pouco estamos dispostos a doar. O caminho do amor é um só. Abdicar mais do que receber. Porque o amor não dói o que dói é porque não sabemos amar.
“O silêncio fala muito. O silêncio diz tudo, mas ele precisa ser ouvido por quem não usa ou abusa da própria surdez.”
<Coca-Cola com veneno de rato e limão capeta>
Morri aos quinze anos de idade.
Não me lembro muito bem do motivo da minha morte na ocasião.
Na noite daquele fatídico domingo,
abraçado com a enorme dor que me consumia,
saltei umas dez vezes do cume mais escuro da minha existência.
Enquanto eu caía,
pude sentir as dores nas vozes gritadas
e o sofrimento nas distorções das guitarras insensíveis e frias
que ressoavam tristes enquanto vibravam e reverberavam
através dos meus fones de ouvido.
Os mesmos fones que me protegeram em vida
e que se espatifaram mudos na solidão do meu travesseiro,
na agonia da minha jornada de pesadelos madrugada adentro,
até o desembocar na segurança da manhã seguinte,
quando o sol veio me consolar.
De todas as dores sentidas à época, a de segunda-feira,
dia seguinte ao incidente, foi a mais dolorida.
Mais até do que a dor da véspera, em tom de despedida.
Pareceu-me a morte, pareceu-me que não pararia, pareceu, parecia...
Nada comparado às feridas de agora, é claro, nem à escuridão de ontem.
E pra minha infelicidade, duas décadas depois, o meu corpo ainda está em queda livre.
E a escuridão que me habitava as noites, jamais se fez luz, um diazinho sequer.
Pior... Agora dá expediente também durante o dia.
Hoje, faz vinte e um anos que morri pela primeira vez,
e desde a minha última partida, essa é a primeira vez que comemoro em vida.
<Misofonia>
Até os teus mínimos ruídos me irritam...
Mastigas de um jeito tão irritante estas tuas palavras inconclusas
e respiras tão arrogantemente o ar que te faz palpitar as veias do pescoço,
que até o farfalhar das folhas secas caindo do pé de osso de morcego
- (fruta roxa roída a exaustão),
me traz mais sossego do que esta tua sinfonia de retalhos sonoros.
O som da bandinha de rua nos teus olhos;
o som do teu sorriso doce, encabulado e quieto;
o som do teu silêncio... Ah, o som do teu silêncio!
Sendo quebrado pela língua áspera lambendo o sal dos lábios
e da inquietude da tua alma em desalinho,
até o som da minha própria saliva seca tentando lubrificar a boca,
tentando não explodir em ódio, me inquietam.
Apavoro-me, apavora-me a orquestra que o cerca.
Estou enlouquecendo com tamanho barulho!
E agora esse maldito pássaro metido a Pavarotti...
Por que não te calas maldito? Por que não te calas, pássaro idiota.
Com o coração, devemos orar como Davi: "Grandíssimo és, ó Senhor Deus, porque não há semelhante a ti, e não há outro Deus além de ti, segundo tudo o que nós mesmos temos ouvido." (2 Sm 7.22)
"Todas as vozes do mundo não serão maiores nem melhores do que a voz interior, pois as primeiras chegam aos ouvidos e a segunda ao coração”!
Momo correu os olhos pela sala e perguntou: – É para isso que você tem tantos relógios, não? Um para cada homem? – Não, Momo. Esses relógios são só um hobby meu. São apenas reproduções muito imperfeitas de algo que todo homem traz no peito. Porque, assim como vocês têm olhos para ver a luz e ouvidos para escutar os sons, também têm um coração para perceber o tempo. E todo tempo que não se percebe com o coração é tão perdido quanto as cores do arco-íris para um cego ou o canto de um pássaro para um surdo. Infelizmente, há corações cegos e surdos que, embora batam, não percebem nada. Em vez de contarmos as batidas de nosso coração, as horas e os dias que temos para fazer isto ou aquilo, seria melhor nos assegurarmos de que ele bata pela causa certa e no nosso ritmo.
"A certeza de um dia morrer me faz feliz. Será o dia da minha maior conquista: tudo o que se falar a meu respeito será ouvido e mesmo os meus maiores defeitos serão virtudes."
A voz do silêncio só é perceptível ao ouvido, quando as conexões com o universo aproxima o corpo da alma.
“A falta de comunicação com tanta tecnologia é um absurdo. O maior absurdo é falar e falar e nunca ser ouvido. E quando nos ouvem é tarde demais”.
De tudo o que entra pelo meu ouvido nada sai pelo outro. Apenas fica perdido no imenso vazio de minha cabeça.
Todo jovem procura ter a sua própria experiência de vida, porém áquele que dá ouvido as instruções de seu pai e os ensinamentos de sua mãe e as considera, antecipará possíveis perigos no presente e evitará situações não tão confortáveis no futuro.
Antigamente quando os olhos de alguém viam o Senhor, o que se ouvia dos lábios era: “Ai de mim!” e não “Eu sou o cara!”