Ouvido
E como eu sei que ele me ama? Porque ele sussurra no meu ouvido, "eu amo você" as vezes assim, no meio da noite, ou da tarde, ou de qualquer hora do dia.
Sussurrar no teu ouvido
Apenas um pouco do amor que tenho.
... assim, quem sabe, te desperto dessa dúvida toda.
Não acreditaria na tua riqueza se não tivesse usado de teu ouro. Daria ouvido ao seu sórdido amor caso não tivesse me ferido em suas amargas palavras.
'Um sopro passou em meu ouvido, daqueles sopros que esquentam, massageou meus tímpanos sem muito esforço, aliviou o coração como um remédio sob prescrição médica, e como a fumaça de uma droga fez meu cérebro relaxar, respirei mais aliviado, projetei com o olho uma imagem a minha frente, com minha boca consegui falar algumas coisas, até umas poucas de meu coração, falei em um ritmo particular, mas é nesse ritmo que preciso levar para não desrespeitar. Ritmo de quem gosta do que não tem, e precisa lutar.'
Ele: Amo-te
Ela: Prova que é verdade
Ele: Como?
Ela: Grita ao mundo
Ele, murmurando ao ouvido dela: AMO-TE
Ela: Porque sussuraste?
Ele: Porque és o meu mundo.
A única pessoa a que nós damos ouvido é a nossa própria consciência. Então, se não temos uma boa consciência a quem ouviremos.
Menina linda
Dona de seu tanto faz
É só pedir que
Te faço poesia
E te canto no ouvido, E prometo e duvido
que não vai gostar
Coloco os fones no ouvido e é como se me desprendesse do mundo, na verdade é como se estivesse sendo envolvida por uma bolha de melodias incríveis, é bom, as coisas lá fora parecem um pouco melhores, mas ainda perigosas demais para que possa abandonar minha bolha de músicas, meu refugio para as coisas ruins, meu cantinho seguro.
Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios, e aplica o teu coração ao meu conhecimento.
-Você é responsável pelo que cativa. – foram minhas palavras mais covardes, ao seu pé do ouvido – eu me apaixonei por você. Pelo seu jeito de sorrir, pelo seu jeito de contar uma história, e pelos trejeitos efusivos que você demonstra pra qualquer um. Mais, acima de tudo, me apaixonei pelo seu abraço, que me traz sensações oscilantes entre o que é certo e o que é errado; entre a possibilidade e o arrependimento...
-Eu... – você tentou balbuciar algo em resposta, mas foi calada pelo encontro dos nossos olhares.
-Só quero um beijo para saber o que estou perdendo. – e sem esperar por resposta, meus lábios lhe roubaram qualquer reação.
Eu sabia que ia ser assim. Desde o momento que te quis. É egoísmo demais querer ter para si uma pessoa que ama? Acho que sim, quando seu coração já não lhe pertence mais.
Provavelmente, acontecerá conosco o que acontece com todos os amores. O tempo passa, a onda quebra contra o cais, a maré vira, a maresia voa. Tudo enferruja.
-Chega... – você suspirou finalmente se livrando do beijo como um alguém que volta a respirar depois de quase se afogar. Porém, sua expressão não era de alivio, era de dor. Uma expressão de agonia por ter parado algo que muito provavelmente estava sendo avassalador.
-Eu...
-Não precisa dizer nada – seus olhos fugiam dos meus, assim como seu corpo recuava. Havia muita confusão naquele momento.
Esse jogo de flerte e cantadas que começamos só podia dar nisso. Sem nenhum vencedor, apenas perdedores. Eu nunca ouvi falar de ninguém que jogou com o amor e venceu, acho que essa é minha sina. Tenho de confessar que não sou tão perdedor, pois, pelo menos uma parte do meu coração continuará feliz por não deixar de pertencer a ela.
Talvez essa seja a verdadeira resposta não? Você vai perder independente da estratégia que definir. Não peço desculpas, pois não me arrependo do que fiz. Só lamento por ser um só, e não poder ser tão seu, quanto sou dela. Não poder ser para você, nada mais que um amor de possibilidades. Um amor, que não se transformar em algo áureo.
-Tem certeza? – foram minhas palavras tentando reverter palavras que machucaram.
-Tenho. Está tudo bem – não sei se você lembra, mas eu conheço cada um dos seus sete tipos de sorrir. E esse é aquele sorriso falso, que não transparece nada além de uma magoa fria.
-Então tudo bem – eu retribui com um sorriso opaco.
O tempo passou mais uma vez. Só que dessa vez, sem viradas na maré. Apenas a constante maresia corroendo nosso amor. E se foi. Nosso amor enferrujar-se-ia.
Então, sem escolhas, lamento, e me vou. Uma lástima pelo adeus. Mas a despedida será melhor do que nuances de um amor oxidado; caindo aos pedaços.