Outros
O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso.
Todos temos nossas dores de estimação. O que nos diferencia uns dos outros é a capacidade de conviver amigavelmente com elas.
Sejais nobres como o Sol, que tem a humildade de emprestar a sua luz para que outros possam brilhar também.
Alguns têm coragem nos prazeres; outros, nas dores; alguns, no desejo; outros, nos medos; e alguns são covardes sob as mesmas condições.
Os bons vão ao passo certo;
os outros ignorando-os inteiramente,
dançam à volta deles a coreografia da hora que passa.
Se andarmos apenas por caminhos já traçados, chegaremos apenas aonde os outros chegaram.
Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.
Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada.
Viver é o meu código e o meu enigma. E quando eu morrer serei para os outros um código e um enigma.
Despenhadeiros.
Eu não sabia que o perigo é o que torna preciosa a vida.
A morte é o perigo constante da vida.
Todo mundo tem suas carências, todo mundo é humano, todo mundo sente. Uns sentem mais, outros menos, alguns quase nada, mas sentem. Podem adorar ser livre de noite na balada, no barzinho com os amigos, mas pelo menos antes de dormir ser livre pesa.
Cada pessoa é um mundo, cada pessoa tem sua própria chave e a dos outros nada resolve; só se olha para o mundo alheio por distração, por interesse, por qualquer outro sentimento que sobrenada e que não é o vital; o ‘mal de muitos’ é consolo, mas não é solução.
Tem dias que chove cinza aqui dentro. Em outros sou purpurina de leveza e quereres. Mas quando acordo Sol, não tem tempo que me faça ser sombra.