Os Velhos Carlos Drummond de Andrade
Te falarei verdades mas não acredite em todas
apenas ouça, grite se quiser, porém ouça
e quando o silêncio chegar, sorria
É o coração meditando você
por estradas e montanhas
noites e luares
lugares absurdos que só a gente soube chegar
Vão ѕe paѕѕar várιoѕ anoѕ e eυ aιnda тe aмareι, Então em um dos caminhos que escolhemos, nos esbarraremos novamente. A incerteza é se teremos alguém segurando a nossa mao
Não gosto de nenhum dos três tempos. O passado eu já vivi e quebrei a cara, o futuro já é horrível por não saber se te terei novamente algum dia, e o presente que estou vivendo tá cada dia mais triste
VIAGEM NO TEMPO
Lanço ao mar meu olhar,
ele é minha ponte
com o horizonte,
olhos atentos de navegar,
visão lisa, assaz precisa,
me da o norte,
da nossa sorte,
ao destino que não invisa,
minha pele cheira alvorada
respira nova liberdade,
pois nunca é tarde,
se meu lugar é tua parada,
ouço sons verdes de farfalhar,
é a brisa da nova sina,
ou talvez tua saia menina,
talvez ambas a me esperar,
Ó mar, ó amar, provei teu sal,
temperei meus anseios,
me deitei em teus seios,
agora fujo para o teu madrigal.
Pérsio Pereira de Mendonça – 14/07/2016
BURLESCO
Gira mundo no vazio e gira a vida no vazio,
gira mulher que dança, gira e nunca cansa,
o resto passa inerte e rápido na paisagem,
a cada volta uma esperança e uma viagem
Flutua lua indiferente ao espaço renitente,
flutua menina o doce bailado intermitente,
entre estrelas e cometas na melodia vazia,
e eu aqui a olhar o céu em completa afasia.
Da pérgola, ao longe vejo refletido o olhar,
reflete cintilante dança na espuma do mar,
saia rendada branca e olhos cheios d’água,
vem em ondas, devagar, pela areia dançar.
Linda criatura criada na fonte das latências,
linda sereia no mar dança com onipotência.
Gira mundo repleto, gira mundo completo,
gira a mulher adorada no silêncio predileto.
Ganho cores e sons ao ritmo de sua dança,
agora já tenho de novo o fio da esperança,
tomastes corpos e almas com teu encanto,
agora valsas livre também pelo meu canto.
Pérsio Pereira de Mendonça – 14/07/2016
Minha Terra
sabia que o sabiá sabia assobiar?
para que saber que sabiá
assobia
se já sei que ele pode voar
apenas com cortes do vento
saber cantar?
pois um sabiá não apenas assobia
mas sabiam que eu sabia
seu maior segredo que assobiou
o segredo da sua terra:
são sábios,
dizem os assobios.
Casal Contemporâneo
Te odeio a ponto de te amar.
Tanta sede, sou capaz de beber o mar.
Sua chama de tão azul é fria.
Você é tão distante que eu iria
Tornei-me cego que viu até demais.
Você é a prova do desgosto que quero mais.
"já é tempo, chegou o momento
já é hora de quarar a alma
e colocar os sentimentos fora,
o horizonte é o nosso varal,
onde penduramos as amarguras,
dores, tristezas, coisa e tal.."
Pérsio Mendonça
As Vozes no Espaço
O silêncio
no enterro das vozes
altas
fora gritante.
tão alto que estou surdo,
mas não sei estar cego
ou apenas poeta mudo.
e ainda escuto
do fundo do espaço
esse miúdo
esse miúdo opaco.
o som
ainda ressoa
o som
de uma única pessoa.
Átomos
Somos partículas de Carbono
Dentro de um vasto universo,
Mas com você me sinto dono
De cada planeta, de cada verso
Desta poesia que lhe escrevo.
Universo esse que lhe concedo.
Sou meu corpo, menos você.
Sou as cores da arte que não vê.
Sem você, sou alma que não lê.
Pequenos como átomos
Gigantes como estrelas
Humanos como humanos.
E teus amores são cometas
Rasgos de pó em meu noturno
São luzes, as lunetas
Chega a noite penso e durmo.
Com a paixão que se abraça em calor,
Em teus buracos negros de amor.
Consulta
"Onde, dor na mente?"
- não doutor é além:
um infinito ausente...
"Um infinito ausente
ou apenas um coração carente?"
- não, me entenda doutor
é o esquecimento do amor.
"Ora pois então não é ausência.
é apenas um infinito no escuro,
ou sintomas de corpo mudo"
- e isso é grave doutor?
pois posso ter contaminado
para paixão anterior.
"A única coisa contaminável
é céu sem estrelas, meu irmão!"
- que vida mais afável...
examina meus vãos?
Amantes
Sob o brilho da luz da rua
E a escuridão pálida da lua
Caminha Solidão opaca,
Negra e com ressaca
Após arrastadas bebedeiras,
Com pessoas sorrateiras
Na noite sem estrelas
Sem amor e sem belezas
Sob o brilho da luz da rua
E a escuridão pálida da lua,
Caminha um homem opaco
Meio a meio Mulato.
O homem do dia a dia
Sentindo a ressaca da ironia
Em noites sem estrelas encontra-se com Solidão
Sem perceber apenas sua ingênua traição.
Sob o brilho da luz da rua
E a escuridão pálida da lua
Os Outros se assombram por uma janela
No quarto escuro acendem uma vela
Rindo do Mulato até doer
Do quão banal é ter que o olho ver
Pessoas tão ignorantes
Em nosso mundano mundo repleto de amantes.
Através da Natureza-morta das Frutas
Numa cesta se encontram maçãs
Belas, avermelhadas e suculentas maçãs!
Junto, uma recheada rachada romã,
Pela tarde ensolaradas laranjas
Maduras e verdes mangas;
O tempo passou...
O tempo se alargou...
O tempo sem o tempo enfim acordou.
Moscas pousam nas maçãs pretas
Na romã, apenas pálidas sementes
As laranjas agora dia a dia mais azedas
E as mangas enrugadas em seus ventres.
Uma natureza morta
tal qual uma humanidade
Que caminha torta, torta, torta...
Um descaminho sem idade.
Maldito seja quem tenha comido a maçã!
Que não percebeu as passagens do tempo,
E alimentou-se sem consciência sã.
Condenara sua própria espécie ao desalento.
Agora resta-nos apenas decompor,
Na mãe terra e em seu vão,
Afundar e acabar com a dor;
Esperar novas flores renascentes de seu chão.
Noite Oblíqua
Se eu te contasse
Que sou o último homem da Terra?
E a última alma que respirou?
Chorarias?
Surrealismo Realístico
Ela faz história como se fosse pincel.
Para ela não há limites entre a arte, o céu e a celulose do papel.
O sangue tão vermelho como tinta
E ela que se sinta
Surrealista como Dalí
Como se nem quisesse ser dali.
Personifica o quadro de minha sala
Com o contemporâneo amor que sua alma iguala.
Abraçado ao meu e o meu
Corpo pintado ao teu.
Teria um nome
Cansei de escrever tanta porcaria
Quero mesmo é viver de poesia
Se dependesse disso estaria com fome
Mas tudo bem, teria um nome.
Para Roma à Marte
Amar-te é mais fácil que amar à Roma,
meus anagramas se encontram e namoram palavras ao contrário.
Minhas favoritas antíteses; almas opostas.
Roma, amoR?
Vida espelhada no lago da Lua
Até a lava e a fogueira de Marte!
Amor que queima de tão distante...
Amar-te é simples, Roma meu amor.
Marte é linda, seu fogo esplendor!
Os seus tantos caminhos viajantes...
Todos os caminhos levam à Roma,
Mas como chegar para o amor,
Se há muito espaço à Marte?
A poesia, os poetas, os planetas me ensinaram
Que o poeta é um ser "amador".
Ama tão profundamente
Que chega a transbordar de amor,
a dor que não mais sente.
De: Roma, com amor.
Para: Marte, à amar-te
Família
Sempre fui a pessoa que acendia o fogo
Agora o fogo e a brasa sobrava para eles,
Ou sobrevoava sobre minha ferida alma
Que não amava, vivia avoada.
Como era criança para me tocar!
Que até as frutas da cozinha ouviam o silêncio soar
E cresci para um frio incêndio tornar
De um poema ou pomar do que foi um dia meu lar.