O Sentido da Lágrima
Escutei o cântico do pássaro ecoar, testemunhei lágrimas brotarem nos olhos de um homem, observei murmúrios escaparem de um tolo, e ao final, vislumbrei meu próprio reflexo refletido em seu olhar.
Não sou única, sou várias e incontáveis.
E das partes que sou, todas me completam. Inteiro-me, ainda que me fragmentem, para ter o prazer de juntar depois os pedaços espalhados, dos quais me fazem ir a lugares, vidas, mundos diferentes.
Multiplico-me a partir da divisão de mim mesma para poder me compor, quem sabe me recompor nas entranhas dos sentidos.
Dizem que eu me humanizo a partir das lágrimas corridas pela face marcada pelo tempo de quem eu leio, por dentro. Disso, além, vou mais: minha humanização está nas mãos que estendo, enxugando rostos umedecidos, sofridos, de uma leitura de gente que padece por existir, mas que existe mesmo assim; contrariando os desejos insanos dos déspotas.
Sei chegar e sei partir, porém fico - ainda - nos lugares que não me faço mais presente. Pois, sou vento forte que intimida, e brisa fresca que agrada. Tudo vai depender do momento.
Questiono respostas de perguntas das quais nunca foram feitas, por medo, timidez ou desuso de mentes compradas pela preguiça de pensar.
Jogo fora os rótulos, queimo patentes fabricadas pelos deslumbres dos egoístas e atravesso o individualismo. Porque há um alto grau de crueldade em fechar os olhos e ser indiferente às dores alheias.
Mas ninguém é cruel além do outro!
É bem mais prático transferir titularidade que assumir o lado feio, quem sabe, perverso de si mesmo. Daí, o mundo gira - em corda bamba - em torno de uns e deságua em outros, detentores do poder; tanto mais, o rio afluente da gente fica sem saber pra onde correr.
E assim, nessas presumíveis abundâncias das várias e incontáveis de quem sou, enfrento a tristeza, ponho a chuteira e ganho a lide:
Porque viver é saber perder, superar e vencer.
Quando a morte chega
O café esfria e ninguém o toma
O tempo se torna o total inimigo
Pois segundos fazem diferença
O tempo fica lento
As cenas param
As pessoas ficam
E você vai
E nessa hora tudo faz sentido e ao mesmo tempo todo sentido se perde
Você entende tudo e
Não entende nada
Lágrimas escorrem
Livres
Mas escorrem
E assim como secam
Morrem com um último suspiro
E nesse último segundo
Toda a vida passou na frente dos seus olhos
E você agradeceu por tudo
Por todos
Por tudo de bom que passou
Por tudo de ruim que passou
E você acreditou
Mas não é mais
Você se foi
O tempo acabou.