O que Espera de Mim

Damos, muitas vezes, nomes diferentes às coisas: O que para mim são espinhos, vós chamais-lhe rosas.

A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

Fora de mim
imagino na paisagem
a imagem do que fui

Trago em mim o germe, o início, a possibilidade para todas as capacidades e confirmações do mundo.

O que há de mais real para mim são as ilusões que crio com a minha pintura. O resto são areias movediças.

Todo o delito
Já traz no ventre o seu próprio anjo vingador,
A terrível espera.

Aquele que nada espera da vida goza como uma surpresa o que ela lhe pode dar.

Nunca se é feliz como se acredita, nem feliz como se espera ser.

Se se construísse a casa da felicidade, a maior divisão seria a sala de espera.

A vida não dá o que espera dela a criança caprichosa mas apenas o que lhe arrancam à força os corajosos e os audaciosos.

Donde não se espera, daí é que sai.

Deseja tudo, espera pouco, não peças nada.

Condenamos por ignorantes as gerações pretéritas, e a mesma sentença nos espera nas gerações futuras.

A mão que me espera
traça o caminho da volta
abrindo janelas.

A sociedade nada deve exigir daquele que dela nada espera.

O gato chinês
espera sentado
pela sua vez

Quem não espera na vida futura, desespera na presente.

com mãos de hera
enlaço teu corpo
oferto em espera

Praia deserta
no rebentar da onda
a moça espera

chuva na praia
o céu beija o mar
- gaivota espera