O Poeta e o Passarinho
A metade do caminho, para o homem, é o melhor estado,
quando o passo mais lento lhe autoriza a calma.
Um amplo mundo jaz entre o céu e a terra.
Viver a meio caminho entre o campo e a cidade,
ser metade estudioso e metade proprietário e metade negociante, viver metade como os nobres e metade como a gente comum, possuir uma casa que é metade luxuosa e metade singela, meio mobiliada e meio desnuda,
vestuários que não são velhos nem novos,
e a comida metade epicúrea e metade vulgar ...
Ter serventes nem muito hábeis nem muito tolos,
e uma esposa que não é nem demasiado simples nem demasiado sabida ...
Então sinto no coração que sou pela metade um Buda e quase pela metade um santo espírito taoísta.
A metade de mim ao Céu nosso pai devolvo,
a outra metade a meus filhos deixo ...
Metade pensando como prover à minha posteridade
e metade pensando como defrontar-me com o Senhor dos Mortos.¿
É mais prudente ébrio, quem é metade ébrio;
e as flores meio abertas são mais belas.
Como navegam melhor os barcos a meia vela,
e melhor trota o cavalo a meia rédea!
Quem tem uma metade demais, que ansiedade!
Mas quem tem de menos, com mais fervor possui a sua metade.
Pois a vida é feita de amargor e doçura,
e é mais sábio e mais hábil quem só lhes prova a metade
“A partir do momento que me considero superior aos outros, simplesmente deixo de existir”.
(Chagas Pereira, jornalista, radialista, publicitário, consultor, escritor, pensador e poeta)
“A humildade é capaz de transformar vidas, desde que haja disponibilidade para assimilar os benefícios desta que é uma das mais importantes virtudes do ser humano”
[...] Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério — o único existente. [...]
Encontro das Águas
Vê bem, Maria aqui se cruzam: este
É o Rio Negro, aquele é o Solimões.
Vê bem como este contra aquele investe,
como as saudades com as recordações.
Vê como se separam duas águas,
Que se querem reunir, mas visualmente;
É um coração que quer reunir as mágoas
De um passado, às venturas de um presente.
É um simulacro só, que as águas donas
D'esta região não seguem o curso adverso,
Todas convergem para o Amazonas,
O real rei dos rios do Universo;
Para o velho Amazonas, Soberano
Que, no solo brasílio, tem o Paço;
Para o Amazonas, que nasceu humano,
Porque afinal é filho de um abraço!
Olha esta água, que é negra como tinta.
Posta nas mãos, é alva que faz gosto;
Dá por visto o nanquim com que se pinta,
Nos olhos, a paisagem de um desgosto.
Aquela outra parece amarelaça,
Muito, no entanto é também limpa, engana:
É direito a virtude quando passa
Pela flexível porta da choupana.
Que profundeza extraordinária, imensa,
Que profundeza, mais que desconforme!
Este navio é uma estrela, suspensa
Neste céu d'água, brutalmente enorme.
Se estes dois rios fôssemos, Maria,
Todas as vezes que nos encontramos,
Que Amazonas de amor não sairia
De mim, de ti, de nós que nos amamos!...
Ei, nega, teu coração é tão admirável, nele coube muita coisa, nele existe uma constelação de emoções e acontecimentos, mas guarda um espaço no teu peito pra mim, tá bom? Ainda vai tudo se acertar para nós, eu te amo, nega.
Há pessoas que nos tocam com tanta suavidade que a gente fica na dúvida se possuem alma de flor, borboleta ou passarinho.
Doação
Recebi um pouquinho de paz
transformei ela em sementinha de alegria
tenho para distribuir, quem quiser é só sorrir!
Manoel …
Ele era o
Manoel de Barros!
O menino que
tinha asas.
E que chocava
esperança,
no ninho
de passarinhos!
Eu tinha tudo quando criança e quando cresci não tinha nada. Fiz algo que tirou minha liberdade. Minha mãe me chamava de meu menino passarinho. Mas eu era um passarinho livre para voar e hoje sou um passarinho preso dentro de uma gaiola.
Nunca fiquei tão espantado
Ao perceber que o amor seria tão engraçado,
A graça é nunca achar o procura,
Mas ser achado na rua,
Assim como um pobre cão
Que busca morada em um coração
Por se sentir sozinho,
Assim como um passarinho, quando cai de seu ninho.
Na vida sou esse passarinho,
Que acaba por ficar sempre sozinho,
Se sentindo perdido, em um mundo tão vasto e bonito,
Sabendo que nunca vou achar,
Alguém para me amar,
Mas já estou pra me acostumar
A nunca achar meu ninho,
Feito um passarinho, que caiu de seu ninho.
A vida se coloriu de arco-íris e eu me pintei de azul, que é a cor dos olhos que eu sempre quis ter.
Sorrindo por descobrir que o amor existe, e por perceber que a vida nem sempre é triste, saí cantarolando melodias de gente que soube compor em meio a dor.
Eu, meio sem jeito, igual ao passarinho saindo da casca do ovo onde se gerou, fui deixando gerar em mim o amor.
Tenho asas pra que? Cantar pra quem? Se preso estou numa gaiola... O céu me inspira, mas apenas peço liberdade e você acha que eu canto... Me deixe ir... Tenho asas
UM NINHO
Em um velho tronco seco
Encontrei um ninho abandonado com apenas um ovo
Tão pequenino
Tão solitário
Um ovo que não se quebrou de dentro para fora
Guardou em si um passarinho que nunca voou
Pensei aonde estariam todos os outros
Talvez por aí visitando telhados
Construindo novos ninhos
Fazendo música em nossas manhãs
E ovo solitário do ninho abandonado?
Ah! Esse teve sua missão
Bem diferente dos seus irmãos
Me ensinou que para ter vida
Que para voar
É preciso se quebrar
De dentro para fora.