O Poeta e a poesia

Cerca de 3657 poesia O Poeta e a

CÉU DO GOIÁS (soneto)

Agiganta as nuvens no alvo encarnado
Do céu do Goiás, da vontade de gritar
O horizonte longínquo tal qual o do mar
Se estende em rede por todo o cerrado

O sol no amanhecer rubra de encantado
Mantém-se altivo após o confidente luar
Desfolhando em quimera pro nosso olhar
Tingindo o entardecer dum avermelhado

No breu da noite a céu se veste estrelado
Cintilando na escuridão e nele a poetizar
Poemas tão singelos num silêncio calado

Então, a alma ao testemunhar, põe a chorar
Um choro portento dum puro e só agrado
Onde o poeta das Gerais aprendeu a amar...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

O amor persiste, tudo passa

O ciclo lunar
A saudade a apertar
O medo do obscuro
O pensamento descuro
A solidão a atormentar
A ofensa a machucar
A tempestade que amedronta
A ignorância que afronta
A felicidade em gomos
A diversidade que opomos
A ingenuidade que acredita
O xingamento que irrita
O ato que envergonha
A moral sem vergonha
O desamor que insiste
Tudo passa! O amor persiste…
Então, aos que desconfiaram
Revelo: amei e me amaram!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
03/03/2009
Rio de Janeiro

Inserida por LucianoSpagnol

A SOLIDÃO QUE INQUIETA (soneto)

A solidão que inquieta, pesar repicado
Da distância, que a lamentar me vejo
Não basta o choro por estar separado
São infortúnios do fado que lacrimejo

Tão pouco é saber que sou amado
Nem só querer o teu olhar: o quero
Muito. Este sentimento tão delicado
Onde os versos rimam no teu beijo

São saudades que no peito, consomem
Que não me acanham, e é tal pobreza
Do vazio, por eu não ao teu lado estar

Mas eleva o afeto dum piegas homem
Ser de erros sempre e, na maior pureza
Existir no amador e humanamente amar...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, agosto
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

LONGE DE TI (soneto)

Longe de ti, se lembro, porventura
Do teu olhar, que outrora me fitava
O teu afago na sede é de só tortura
E ter-te agora da saudade é escrava

Tal aquele, que, escuta e murmura
O teu cheiro, que a poesia escava
Já uma sorte maviosa e tão pura
Tristemente, a expectativa forjava

Porque a inspiração tem seu nome
Nos versos com a parva alma calada
Cuja a recordação só me consome

E como o desejo assim não quisera
O destino riscou uma penosa cilada
E aqui, ainda, o meu amor te espera!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

OCASIÃO (soneto)

A coerência lá se foi tão espantada
por um tropel de vândalos da rudeza
E mesmo o depois de tanta clareza
quedam robóticos, sem mais nada...

No escarcéu disperso, contos de fada
O veras, sem exatidão, e sem defesa
expõe toda a burrice e a estranheza
do revelado na dada outra jornada...

Sobra “Inania verba”, nenhum intento
ao mourejar hercúleo do lhano cidadão.
Indiferentes, só importa o seu contento!

Mas não é meu. Se afasta da tal meta
de parceiro, de irmão, fazer a ocasião
Cria-se curvas, e não a essencial reta...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

OLHO-TE: (soneto)

Olho-te - o espanto de meus olhos salta
- Da tua boca o beijo num delicado cheiro
De tuas mãos aquele cuidado prazenteiro
Tudo de tua poesia sinto uma grande falta

Toda a nossa estória: - aqui nesta pauta
Do meu primeiro: - olá, o nosso primeiro
Encontro; - me completando por inteiro
Tudo neste poema é som de doce flauta

Sinto o palpitar no peito não mais calado
Quanto mais escrevo, mais de te anseio
Mas olho-te, em ti o meu destino amado

Ouço nas lembranças cada tal passeio
Cada sorriso, sempre aqui ao meu lado
Incitando comigo cada desejo que freio

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro de 2019
cerrado goiano, 05'20"
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Exilado

A lua me exilou na noite solitária
Me jogando em um isolamento
Onde a alma se sente precária
No ter e não ter o sentimento
O que alegra, fascina, motiva
Que traz sentido e movimento
Sem que se tenha expectativa
Pois o amor não é sofrimento
Nem exílio, é afeto, iniciativa

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

mingau

e por falar em milho
rala-se no ralo grosso
panela e açúcar no fundilho
cravo e canela um colosso
pra gosto e temperar
e não ficar ensosso...
meche, meche sem parar
no fogo, um alvoroço
olha o leite pra engrossar
quero ver se alguém resiste
este doce paladar
de igual não existe
da roça pra qualquer lugar
mingau de milho verde, hummm!
os beiços a lambuzar
de um sabor incomum
pode acreditar!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
27/09/2019, sexta feira
Araguari, Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO ALEGRE

Permita-me um momento de ilusão
Onde alegre, na alegria possa crer
E cá no soneto felicidade então ter
Sem sofrê, alegrando a imaginação

Só alegre não basta a alegria querer
Tem que haver um além da emoção
Olhos lacrimejados duma satisfação
Da alegria em tal melodia à florescer

Então, alegremente cá nesta canção
Cantar as alegrias e, louvar o prazer
Ressonando alacridades no coração

E neste horizonte de alegria no ser
Deixar a sofrência só como bordão
Onde na alegria, alegre és o viver!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

flerte

olhava o céu
nuvem inerte
alvas como papel
cá do cerrado

calado, meu coração
dispensava qualquer termo
numa espera sem ação
um olhar perdido, ermo
pensando só em você

e neste glacê de emoção
o meu sentimento voa
até ti, buscando razão
desta distância atoa
que ao amor maltrata

é dor chata, que dá solidão
aquelas que não cabem
no peito, de tanta aflição
e só os que sentem sabem
como é contramão sentir...

então, venha logo! Não fique por vir!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, 14 de outubro
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

mansidão

as paredes estão caladas
as janelas numa mansidão

as portas foram silenciadas
para não inquietar a solidão

eita casa vazia!
prostração
tagarela só a poesia

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, meados de outubro
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

vai um cafezinho?

há no cerrado um gretado
ali ressequido, árido chão

no verão ele é molhado
no inverno devastação

sem a cor do encantado
mas encanta a fascinação

ele tão pálido, incendiado
insiste em renovação

aguerrido nosso cerrado
dedicado o nosso sertão

hoje todo cafeinado…
põe açúcar ou não?

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
quarta 16/10/2019
Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

A UM AMOR PERDIDO (soneto)

Quando a primeira vez se perde o amor
Que do leito acordou, ali gemendo e só
Dentro do peito a tristeza se faz em nó
E desabrocha a flor de lágrima e suor

A vida sente os olhos mareados, forrobodó
Sobe-lhe um amargo, e o primeiro ardor
Do queixume, do pesar, de um pecador
Tal a rosa, de perfume e espinhos, dá dó

Então a alma se traveste de desventura
Numa torpeza de paixão e de mágoa
Onde o sonhador é bravo sem bravura

Assim neste pranto em verso de bágua
Teu cheiro é açoite sem doce candura
E tua lembrança nos arde em frágua...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25/10/2019, 23’47”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

De amor

Eu não tinha nada, ao vir para este mundo
Busquei em cada olhar um abrigo, um amigo
E nesta leitura me fiz mais profundo
No meu eu. Me vi rico, me vi mendigo
Cada tempo, cada minuto, cada segundo
Caminhei junto ou separado, calei e pude falar
Assim o corpo se tornou fecundo
E aprendi como é bom amar
Que na alma só ele vai fundo
E ao partir, nada terei, só o amor pra levar...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
fevereiro de 2016 – Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Incertezas no cerrado

Primavera, verão, outono, inverno
Qual estação no cerrado é decisão
Ficar ou partir neste desejo interno
Em ebulição no meu mesmo coração
Saudade? Tristeza? Encanto? Dorido?
Aqui debruçado na vida, em suma
Como sabê-lo? Se o incerto está partido
E os trilhos da razão dão em parte alguma.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/03/2016, 05'55" - Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Mulher

Mulheres mistério da criação
Mulheres de sexto sentido
Mães, esposas, amor garantido
Meretriz, coração sofrido
Repartido, nem sempre aceitas
Sedutoras, perfeitas, imperfeitas
Vaidosa, cheirosa, provocante
Ocultas, feiticeiras, alucinantes...

Mulheres que encantam, provocam
Com seu olhar falam, tocam
Parideiras, santas, no cio
Briguentas, humor por um fio
Beatas, rezadeiras, absintas
De almas serenas
Brancas, loiras, morenas
Pé no chão, terrenas...

Mulheres de luz, de juízo
Agitadoras, de guizo
Sedutoras no paraíso
Dominadoras com seu largo sorriso
Mãos calejadas de rendeiras
Preguiçosas, trabalhadeiras
Outras com sua ginga faceira
De pulso forte como aroeira...

Mulheres que o olhar disfarça
Perseverante, perpetua a raça
Envolventes com toda a sua graça
Conselheira de eterna ilusão
Movidas pela feminina emoção
Fascinantes nos perigos do coração
Fera na defesa de sua convicção, dos seus
Mulheres uma bela criação de Deus!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02/03/2009 - Rio de Janeiro, RJ

Inserida por LucianoSpagnol

Poema num sábado de aleluia

No apagar da quaresma
Qual cinza restou
Ou será a mesma
Se fica ou se vou

Os sinos tocam, sábado de Aleluia
Anuncia a reflexão da traição
Retire suas culpas da cuia
Da omissão. Seja oração...

Perdão

Vamos nos aconchegar
Na misericórdia
E ter braços para ofertar
De que vale negar, ter discórdia
Se somos filhos, iguais, no altar
Da criação Divina. Livres na história

Livres para sonhar
Na fé vitória
Sábios para perdoar

Ao nosso "Judas", executória
A solidariedade atar
A paz e bem, gloria!

É vigília pascal
Trajetória
No amor, o amor incondicional

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26/03/2016, 06'10" – Cerrado goiano
Sábado de Aleluia

Inserida por LucianoSpagnol

Apanhador do cerrado

Uso o meu olhar para apanhar o cerrado
As palavras tortas compõem o mato crivado
De cascas grossas, cascalhos e céu estrelado
O chão na temporada de sequia, é maltratado
Os jatobás fatigados tão firmes como as perobas
Rodeiam os pequizeiros, tão "bãos" como as guarirobas
Cheiro forte sabor da terra, como as doces gabirobas
Entendo bem o sotaque é o povo deste chão
Sou daqui, tenho respeito a toda esta tradição
Povo das sucupiras, flores rasteiras e abelhas arapuá
Tudo aqui tem força, tem suor, é aqui, é acolá
Assim como a magia do canto da seriema e do sabia
Deste cerrado místico, torto, certo e errado, sempre a brotar
Que o tal desencanto encanta o poeta no poetar
Este quintal que é o maior do mundo, que faz sonhar
Me faz ser apanhador do cerrado, no meu versar.

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
30/03/2016, 22'22" – Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Sorriso

Sorriso pinta a tua dor
Da cor que se desejar
É ofertar com uma flor
O triste pra se alegrar

Sorriso abrevia o vazio
Se nada mais restar
Sorria um mirar macio
Aprazendo o alheio olhar

Sorriso traz à vida luz
E aos dias só encanto
Sorria para a sua cruz
Sorria pro seu pranto

E assim sorrindo, amar
Num teatro fulgente
A maioria irá pensar
Que és um ser contente

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril, 2016 – cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Outono no cerrado

Cerrado. Ao horizonte escancarado. Escancaro o olhar
Sob o céu acinzentado, admirado chão de cascalho calçado
O vento rodopiando, a poeira empoeirando a anuviar
O minguado frio sequioso outono dos planos do cerrado

As folhas bailam, rodam, caiem em seu leito ressequido
A chuva se esconde, onde o céu não pode chegar
Os sulcados arranham e ondulam o ar emurchecido
Do desconforto calado entre os cipós e galhos a uivar

Olho o céu purpúreo desenhar o frio chegando ao porto
Os arbustos rodeados de cascalhos num único flanco
Rangendo o outono no amarelado e árido cerrado torto
Num verdadeiro espetáculo de pluralidade saltimbanco

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28/04/2016, 14'25" – cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol