O Poeta e a poesia
QUADRAGÉSIMO HEXÁSTICO
revela teu caráter ético
transmigrando do único “si”
e revela o “si” coletivo
verbo da ossatura do ser
que te fará sujeito númeno
nos campos trigais da existência
POEMA É TODA LIBERDADE
De João Batista do Lago
Há novos sofistas por aí!...
Preceptores de falsas imagens
Formando coros de aedos,
Papagaios de falsas mensagens.
Sujeitam o poema aos grilhões
Dum isotropismo arcaico e rude,
Forjando a palavra como ferradura,
Ofertando ao intelecto como moldura.
Aos tolos imprimem valor denotativo
E cravam no coração do imaginário
A mentira como princípio ativo:
A metáfora como essência do poema!
Ainda que prostrado no chão diz o poema:
“‒ A essência que me há é toda liberdade de imaginação.”.
Doce Pecado
Roubei uma flor para você
Daquela floricultura
Quase não sinto remorso
Da minha doce loucura
Importante é que eu fiz
O seu sorriso brilhar
Perdoa esse meu pecado
Foi só para te agradar
Aquela rosa que eu te dei
Tão charmosa e delicada
Ficou ainda mais bela
Sendo por você beijada
Meu rosto se iluminou
Vendo as duas lado a lado
A rosa que eu te dei
Enfeitando seu penteado
Cigano Romani Em 08 /05 / 17
FB Romanipoesias
A ALMA DOS POETAS
Então você quer ver
a verdadeira alma dos poetas?
Ah!
Eles carregam em seus peitos flamejantes
o encanto primaz, fiel à sabedoria
ainda que dentro de realidade instigante
a loucura reine, impregnada em desarmonia,
no coração, trazem amor maior que um gigante
e jamais na alegria ou na fatalidade se distanciam
de um canto puro, angelical e emocionante.
Sim, sejam os poetas da vossa vida.
Atrevam-se em cada dia a colocar
o azul no vosso olhar
cor-de-laranja nos vossos dedos
e também risos arco-íris
no vosso ventre…
AUTORRETORNO
Eis um póstumo chegando aos esgotos do paraíso para viver sua eternidade!
“Recevez en retour cet être qui est votre création.” – assim falei para um barbudo
sisudo sentado sobre uma nuvem de merdas…
Claro! Descarreguei minha raiva porque não queria estar ali
naquela situação idiotizada, diante duma besta que me pretendia julgar
pelos feitos – bons e maus – duma vida que só queria que fosse minha.
O canalha divinizado ouviu-me impassível como se Deus fora!
Olhou-me e descarregou uma gargalhada celestial – mas demoníaca!
Pasmo fiquei diante daquela insanidade divinal, de miserável sabedoria.
Afinal, quem pensara ele fosse para me dar – a mim – aquele tratamento!?
Porventura, não sabia aquele idiota – que tudo sabe! – ser-me um poeta!?
Imaginei-me estar diante do meu outro Demiurgo – tão criador!… tão criatura!…
E logo percebi que aquele demônio era pura e tão somente uma ilusão!
Merda suculenta nos esgotos das veias da Hybris de nossas criaturas.
VINDICANDO A LIBERDADE
Há juízes que se acham
Mais do que a própria lei,
Quando outros esculacham,
Determinam como rei.
Vai notando os meus versos.
Eu não cito instância ou nome.
Pois se aplicam a diversos
Que a lista até some.
A justiça não é deles,
No entanto se arrogam
Imputar crime naqueles
Que seu parecer revogam.
Mesmo o que seja inerme
Consideram como ataque.
O leão que teme o verme
É o juiz que acusa o baque.
Não aguenta a esbarrada:
Determina que é um murro!
E em disputa acirrada
O cochicho diz que é urro.
Mas aqui deixo minha rima,
Não me calo ante aos tiranos.
Ao que é justo minha estima;
Meu contempto aos insanos.
PRIMEIRO HEXÁSTICO
De João Batista do Lago
na república dos canalhas
Homero não se faria ser
não sentiria qualquer prazer
mudo graçaria pela hélade
feito poema sem virtude
carente da felicidade
SEGUNDO HEXÁSTICO
onde está o pão da vida?
— no sacrário do si mesmo
tu somente és único verbo
hóstia que se dá de si
e sendo da cruz do madeiro
o único cristo a resistir
TERCEIRO HEXÁSTICO
vida de infinda busca eterna
venturosa… enigmática… é
fio de navalha… é mágica
nada quer do morto passado
nada espera do futuro
dela sabe-se só o presente
QUARTO HEXÁSTICO
esquece a glória prometida
vaidade é tesouro pobre
resiste só ao instante fátuo
sucesso luta nobre é
revela assim sabedoria
sagrando a alma da poesia
QUINTO EXÁSTICO
não revela à toa o teu segredo
guarda-o no baú da tua razão
melhor não saberem dos medos
assim não te imporão degredos
falsos demônios anjos são
todos parados nos umbrais
SEXTO HEXÁSTICO
eis-me aqui sujeito póstumo
zumbi de deambulações
aedo de poemas tortos
catando esmos corações
ditirâmbico sem o báquico
hino para minhas orgias
SÉTIMO HEXÁSTICO
líquidos eruditos vãos
velhos discursos si produzem
ágoras de sós volatizam
logos e verbos pós-modernos
etéreos assim conduzem
infernos campos niilistas
OITAVO HEXÁSTICO
poetas líquidos não enformam
voláteis são vãs plantações
semeadas em campos estéreis
espigas de milhos sem grãos
debulhadas não dar para o pão
não mata a fome de inférteis
NONO HEXÁSTICO
brisa cálida… envolvente
afasta de mim esse cálice
nunca mais o beberei
jamais quero a embriaguez
soberbia e sucesso vãos
póstumo caminho eterno
DÉCIMO HEXÁSTICO
desejo é toda potência
motor de toda existência
valor supremo dessa vida
intrínseco da natureza
convenções jamais o impedem
sagrado faz-se eterno verbo
DÉCIMO PRIMEIRO HEXÁSTICO
a dor me cobre a ossatura
invade a carne de tod’alma
s’instala na tumba da carne
alimentando pensamentos
desconstruind’identidades
valores morais sedentários
DÉCIMO SEGUNDO HEXÁSTICO
Onde some o ser humano
resta tão-somente o homem
prisioneiro do si mesmo
fluídico e sem forma própria
agrilhoado à sua caverna
é sombra sem a luz do dia
DÉCIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
não bastais com incompetência
até quando há de sangrar
a miserável paciência
manada rum’ao precipício
metadestino imanente
glória do rei concupiscente