O maior Gesto de Amor
Minha mãe, no alto dos seus 87 anos, com aquele sorriso maroto, dizia: "estou vendo o tempo passar". Parecia não esperar mais nada deste plano, a não ser assistir as suas novelas, ler revistas de "fofocas", saboreando algum doce que lhe chegava às mãos. Apesar do quanto a vida lhe "sugou", lhe "maltratou", não perdeu a capacidade de amar, de ser solidária e compassiva, de nos ensinar que a simplicidade gera paz. Naquela época, o seu jeito de ser não era muito claro para mim. Hoje, estou sempre revisitando-a e saboreando cada ensinamento que ela nos deixou. Muitas vezes, e com certa frequência, sinto saudades dela e hoje, dia internacional da mulher, a minha homenagem é para você "Vovó Moza", minha doce e eterna mãe, grande mulher, a mais sábia de todas. Sei que está feliz no seu novo e eterno lar. Nunca consegui dizer "eu te amo" mas vou te amar para sempre, minha mãe.
Seja direta ou seja indiretamente, seja num bom ou seja num mau momento, todo mundo tem algo a me ensinar. Viver, de alguma maneira, é aprender e ensinar.
Respeite seus próprios limites, respeite sua história, respeite seus problemas e, principalmente, respeite tudo isso das outras pessoas. Funciona muito bem!
Saudades
Dos amores que não tive
por preguiça de tê-los
hoje sinto saudades
de não poder sofrê-los.
Saudades masoquistas —
com ou sem analistas.
LA
Minha vizinha Eulália é tão bonita,
tão de todas as coisas deliciosa,
que o marido perdeu toda a esperança
de ser o artilheiro do seu time.
LA
Chegar
Chegar é só estar em outro porto —
pronto para partir... a jornada interior
é apenas estar de volta para Casa...
a que quando chegamos
ela volta a se tornar caminho —
sempre caminho de ser
onde Deus nos espera
dentro de nós.
LA
Era Chique, Era Bom...
Era chique, era bom sentir o frio
de outono-inverno em nossa carne moça.
Era assim como um rio, um grande rio
marulhando por nós em dom e força.
Nariz e pernas frias... doce cio
a coruscar nas vísceras... a nossa
pele arrepiada ao ressoprar macio
da noite toda olhos... noite moça...
Era chique, era bom, era divino:
eras minha menina, e eu teu menino —
a vida um sonho bem da cor da lava...
De sorte, nega, que eu já te esperava:
meu coração sentia quando vinhas —
tuas saudades a transar com as minhas.
LA
Mas Venha De Verão...
Quando você, do Carmo, se lembrar
que moro junto à flauta do Espraiado —
venha ouvir um pedaço musicado
de tarde com o vento a gorjear...
Mas venha de verão: a esvoaçar...
de salto e violão bem afinado —
à sombraluz de um sonho mosqueado,
com guizos nos artelhos a dançar...
Depois nos coçaremos ( sem sapatos ),
você me tira, amor, os carrapatos
e corta aquela unha do dedão...
E depois de depois, me fará rir
com cócegas por toda a região...
e me balança e cansa até eu dormir.
Não Raro Esqueço...
Não raro esqueço de saber as coisas
para aprendê-las do outro lado delas,
vê-las nos olhos dentro: vê-las na alma
ou vê-las além delas existirem:
um vê-las-pensamento-sentimento
ganhando forças de imaginação
pousando em outras muitas realidades,
táteis no olhar, se bem que imponderáveis...
Desmontar as palavras uma a uma
para achar no esquecido de saber
seus arcanos guardados nas entranhas
E fazer delas límpidas canções
que nos cantem num tom jamais sabido
novos timbres lembrados em ouvi-las.
LA
Condição Humana
A vida bem mais promete
do que cumpre.
Somos os seres da falta,
os que sempre por um triz
não são felizes...
Sim, os seres da promessa —
abraçados às tábuas da esperança,
aferrados ao invisível
da nossa fé,
agarrados — na fria correnteza —
a raízes e cipós
do nosso incerto amor...
enquanto a vida,
a vida toca violino
no convés bordado de estrelas
do nosso belo,
do nosso empoderado Titanic...
LA
Há tua jornada normal-social,
e tua jornada de herói —
tua aventura pelo divino
em busca de te conheceres
e te salvar de ti mesmo —
te salvares em Cristo,
por Cristo,
com Cristo.
LA